Autor: Sílvia Regina de Lima Silva
"Chegou a hora de darmos a luz, a nós mesmas." (Rev.da Eliad D. Santos)
Nós fazemos teologia porque…
* Somos mulheres, somos negras e queremos descobrir mais sobre nós mesmas e sobre as outras mulheres, e sobre Deus.
* Em muitos de nossos países, nunca pensamos em uma Teologia a partir das mulheres negras, mas se não há mulher, não há igreja; queremos partilhar e enriquecer nossas experiências.
* Colocamos a mão no arado da luta contra toda forma de discriminação e não podemos voltar atrás…
* Trabalhamos com mulheres lavadeiras , com mulheres negras, com prostitutas…
* Descobrimos a importância da vida de mulheres como Maria Firmina, Dandara, Anastácia e outras.
* Vivemos uma crise onde a teologia patriarcal já não responde aos nossos anseios e desejos.
* Queremos criar um novo espaço também para a discussão com nossos companheiros.
* Queremos fazer uma caminhada mais livre de tudo o que nos possa oprimir.
* Gostamos, sentimos prazer em fazer Teologia.
* Sabemos falar de mulher, gostamos de falar sobre mulher, gostamos dos "porquês", falamos uma mesma língua, nossos problemas são muito parecidos, e encontramos muito pouca coisa sobre nós, mulheres negras.
Nesta teologia…
* Encontramos as mulheres se descobrindo e se aceitando como um todo.
* Realizamos um trabalho em construção e reconstrução. Como todo processo de construção, a teologia apresenta suas angústias e tensões.
* Procuramos perceber na vida o que lhe confere sentido e depois retornar este mesmo sentido como força para a própria vida.
* Há experiências históricas distintas que nos permitem ver, sentir e oferecer direções diferentes.
* Partimos de nós mesmas, do que acreditamos, do que fazemos, partimos da vida, de nossa participação na vida de outras companheiras. A Teologia consiste em saber ouvir, participar e depois, dentro do que acreditamos vamos formando, criando algo de novo, construindo de dentro para fora, com a participação de todas.
* É importante a autenticidade das mulheres.
* Nos deparamos com um doloroso processo de rupturas… romper com amizades, relações, instituições, teologias. Mas conquistamos outras irmãs e irmãos, amizades, espaços.
* Nos negamos a nos vender perante nossas igrejas e instituições.
* Esta força, esta teologia, esta mística começa quando descobrimos um Deus diferente. Quando descobrimos este Deus diferente, começamos a questionar as estruturas.
* Descobrimos um Deus/Deusa que não é contrário às experiências que a vida nos oferece. Deus/Deusa tem prazer em estar ao nosso lado. Somos chamadas ao ministério da vida cotidiana.
* Cada nova experiência que fazemos de Deus, ele vai se despindo das roupagens que lhe impuseram e vai se tornando cúmplice de nossa história.
* Buscamos uma ajuda para nossa luta dentro das instituições.
* Umas estão sussurrando, outras gritando, o importante é que nos ajudemos para que nossa vozes sejam ouvidas.
* A teologia tem que criar possibilidades de ter força para lutar, e é junto às lutas das mulheres que encontramos esta força.
* Partimos de um sentimento de dor e, por que não dizer, de ódio de uma situação de descriminação, de marginalização, que nos faz sofrer.
* A reflexão teológica é o momento segundo de uma teologia primeira que é o cotidiano das mulheres.
* Teologia que conheço e reconheço é a que está dentro de mim.
* Sexualidade, afetividade são questões essenciais a serem discutidas.
* As diferentes formas de expressão necessitam ser consideradas: as linguagens falada, gestual, corporal, estética, etc.
* A teologia da mulher negra passa pelo assumir a história, os entes, os sofrimentos, alegrias e vitórias, pois este é o lugar em que aprendemos a fazer teologia ou experimentamos Deus.
* Esta teologia leva a mulher negra a celebrar sua vitória, pois apesar de tudo, ela e seu povo sobreviveram.. Somos vitoriosas!
* A mulher é o elo de ligação, faz a união, tem um papel de ser o eixo referencial na sociedade na qual vive.
* A Teologia Negra Feminista desafia as mulheres para dizerem o que são, o que querem e o que sentem, superarem a história de sofrimentos e se descobrirem na plenitude de filhas de Deus.
* A mulher não somente transmite a cultura, mas a transforma e assume um papel fundamental com a família e a comunidade.
* E necessário aprender a compreender o sentido religioso tradicional das comunidades negras, que está implícito, na vida cotidiana e na estrutura de pensamento, a fim de manter um equilíbrio entre o ser humano e seu espaço vital.
Como fazemos teologia…
* Nossos textos, nossa teologia são carregados de emoções, são corpos inteiros que estão presentes; portanto, trazem uma racionalidade distinta que exige espaços e métodos distintos de reflexão. Não é possível expressar um sentimento marginal em uma racionalidade oficial, tradicional. Muitas vezes, neste diálogo nos sentimos entre a Casa Grande e a Senzala.
* Queremos que o fruto de nossa reflexão preserve a vida, a vida nossa e do povo negro.
* Concebemos nossa produção teológica como ter um filho, uma filha, queremos gozar deste momento onde ele/ela está sendo concebido. Mas nos vemos tomadas de um sentimento de medo… medo de ver este filho/a sendo usado da forma que não queremos. A história nos apressa. Agora que paramos para nos entendermos, já esperam de nós ter um filho/a. Estamos no momento do parto.
* Usamos de uma linguagem simbólica que é uma forma de dizer e não dizer o que sentimos e pensamos.
* Já fazemos Teologia desde sempre, a partir dos mais simples.
* A educação envolve outros campos de conhecimento como os aprendidos no cotidiano, vendo , olhando e fazendo.
Nossas perguntas:
* Até quando a Teologia vai ser comida preparada e servida por uns poucos para uns poucos, enquanto que outros os vêem comer? Ou uma festa com comida sempre igual e sem gosto?
* A Teologia é inata à mulher?
* Como levar nossas igrejas a um compromisso com o novo que vamos descobrindo?
* Como continuar no espaço eclesial conservando um discurso coerente com as novas realidades na qual vivemos?
* Como a Teologia Negra Feminista pode ser um espaço de resgate de identidade e ao mesmo tempo alimentar e fortalecer os novos valores que vão sendo descobertos?
* Será que vamos passar a vida toda sem sermos nós mesmas, e sem dizer o que sentimos?
* Como romper com as estruturas sem nos ferir tanto e sem deixarmos de ser autênticas? E como permanecer dentro de determinadas estruturas sem perder a autenticidade?
* Toda teologia que seja uma teoria vinda de fora é dominadora. Como fazer com que a teologia não se reduza a um corpo doutrinário?
No caminho…
* Aprendemos que respeitar as diferenças significa valorizá-las, celebrá-las e não simplesmente tolerá-las.
* Não podemos perder de vista que lutamos para viver e não queremos viver só para lutar.
* Descobrimos que não necessitamos da instituição para fazer teologia, para viver, para realizar um projeto…
* É importante certa tolerância.
* Queremos levar propostas concretas, abertas para as diferentes situações e lugares onde se encontram as mulheres.
Nossas propostas:
Teologia e Vida quotidiana:
* Uma vez que a Teologia parte da vida concreta, que sejam priorizadas conversas, discussões e sistematizações sobre:
– Saúde: tratando mormente questões relacionadas ao corpo, sexualidade, direitos reprodutivos;
– Educação: como processo de afirmação da identidade da mulher negra e como aquisição de conhecimentos exigidos pela sociedade para assumir plenamente o papel de cidadã; que o acesso a esses conhecimentos seja proporcionado em formas alternativas de educação, devidamente reconhecidas pelo sistema formal de ensino.
– Mitos sobre a mulher negra: explicitação e interpretação destes mitos, dos mais antigos e tradicionais aos criados pelos meios de comunicação, são importantes para a afirmação e recriação da identidade de Mulher Negra… As tradições orais, contadas pelas mulheres mais antigas e as histórias do quotidiano (mitos, contos, lendas, etc.) são fontes.
* Aproveitando as celebrações dos 300 anos da morte de Zumbi, trazer presente as lutas das mulheres negras quilombolas, nos seus diferentes tempos e espaços da América Latina e Caribe.
* Aproveitar os momentos fortes das igrejas e outras instituições da sociedade (por ex., ano da família, Conferência Internacional da mulher) e trabalhar, a partir do nosso ponto de vista, as temáticas que estão sendo abordadas.
Intercâmbio:
* Que os grupos e instituições que participam e organizam este evento ofereçam condições financeiras e materiais para que o grupo possa se manter.
* Que o grupo mantenha contatos periódicos, inclusive um encontro anual, para intercâmbio de suas produções e aprofundamento das questões teológicas.
* Formar grupos de estudo para o aprofundamento das questões da mulher negra, com apoio das teólogas negras feministas.
* Favorecer o intercâmbio com outros grupos e movimentos sociais.
Publicações:
* Nossa teologia é uma proposta que se faz conjuntamente, a partir da realidade. As publicações devem responder a um estilo popular, por ser esta uma teologia que parte das mulheres negras das comunidades. Desta forma evitamos cair nas formas tradicionais de fazer teologia, onde poucos escrevem para poucos, devido ao nível de reflexão, conteúdos, linguagem e altos custos do material produzido. Viabilizar produções temáticas, que valorizem as ações e construções coletivas.
Formação:
* Constatamos a importância e necessidade da presença da mulher negra no espaço da reflexão teológica acadêmica. Percebemos porém que mesmo a atual elaboração teológica feminista latino-americana carece de uma maior participação de nossa parte. Propomos que as entidades que promovem e apóiam esta II Consulta, juntamente com outras instituições que se ocupam da reflexão teológica, incentivem e apóiem financeiramente, nos próximos anos, a formação teológico- acadêmica de mulheres negras. O critério de indicação de nomes seria o de mulheres negras com trabalhos nas comunidades negras e interesse/dedicação à reflexão teológica.
Participantes da Oficina 1
Sílvia Regina de Lima Silva (Coord.)
Alfredo Souza Dorea
Cecilia Rougier
Dorina Hernández Palomino
Edna A. dos Santos Souza
Eliad Dias dos Santos
Mª da Graça de Souza Rodrigues
Marlene Moreira da Silva
Petronilha B. Gonçalves e Silva
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