Questões Introdutórias Sobre a Canonicidade do Novo Testamento

Autor: Vitor Grando
Certamente, uma das questões mais polêmicas e controversas quando falamos da fé cristã é a questão da formação do cânon neotestamentário. Apesar do fato de nenhum grande acadêmico do novo testamento, independente de sua (des)crença, acreditar ou corroborar as questões que o público leigo levanta, como aquelas levantadas pelo O Código Da Vinci, ainda assim paira uma nuvem de dúvida na cabeça de todos: Como se deu a formação do Cânon do Novo Testamento? Porque foram 4 os evangelhos aceitos e não mais (ou menos)? Porque Marcos, Mateus, Lucas e João e não Maria Madalena, Filipe ou Tomé?

Quando alguém, com aquele ar de triunfo na face, levanta tais questões eu gosto de fazer três perguntas:

1) Você já leu os Evangelhos?
2) Você já leu os Textos Apócrifos?
3) Porquê você acha que os Textos Apócrifos deveriam entrar no Cânon Neotestamentário?

A resposta dificilmente será positiva para as 2 primeiras questões e para a 3º no máximo será um incômodo silêncio. Isso por si só já é suficiente para revelar as bases fragéis sobre as quais repousam essas críticas e também revela que o motivo para rejeitar o Novo Testamento e a fé cristã tem suas origens mais na vida emocional do incrédulo leigo, ou seja, na sua rebeldia contra o Cristianismo, do que em formulações intelectuais.

A questão é que quando as pessoas levantam tais questões elas sequer sabem do que estão falando! Quem faz a afirmação é que detêm o ônus da prova mas, para essa questão faltam argumentos sólidos e sobram “achismos” e divagações infundadas.

Mas vamos assumir o ônus da prova e apresentar fatos.

O consenso no meio acadêmico é que os textos do Novo Testamento foram todos escritos entre 59 – 90 d.C. alguns ainda colocam o Evangelho de Marcos no ano 40 d.C., ou seja, apenas 7 anos após a morte de Cristo. Esse período de tempo é muito breve para que os textos se tornem vitimas de desenvolvimento legendário ou que os fatos históricos se deturpem a ponto de perderem sua valor histórico. Só como comparação, a biografia de Alexandre, O Grande foi escrita 300 anos após sua morte e justamente por esse longo espaçamento de tempo sua biografia apresenta um alto nível de desenvolvimento legendário. Mas com Cristo não, sua primeira biografia foi escrita entre 10 a 30 anós após a sua morte, em outras palavras, estamos falando de um documento de altissimo valor histórico por ser incrivelmente próximo dos fatos impossibilitando qualquer deturpação substancial.

É isso que faz com que os textos do Novo Testamento sejam historicamente confiaveis de modo que sua confiabilide não têm paralelos com nenhum outro texto antigo seja de Platão, Aristóteles, Homero, Flávio Josefo etc…

Mas e o Evangelho de Maria Madalena? Filipe? Tomé? Pedro? Todos eles datam de meados do século II, ou seja, de 150 d.C. em diante. Aproximadamente 120 anos após o fatos. Tardios demais para descreverem os fatos com precisão e relevância para o conhecimento histórico. Além do fato de que é impossível que os autores a quem se atribui a autoria de tais “evangelhos” ainda estivessem vivos. Quando o Cânon Neotestamentário foi decidido pela Igreja um dos principais critérios de canonicidade era a apostolicidade ou seja, ter sido escrito por um dos apóstolos (Mateus, João, Paulo…) ou por alguma pessoa próxima destes (Marcos, Lucas…) critério que nenhum texto apócrifo pôde resistir. Deveríamos inclui-los no cânon? Seria uma incrível besteira colocarmos textos tão historicamente pobres ao mesmo lado dos textos do Novo Testamento. Curiosamente, segundo os historiadores da era antiga, as lendas costumam se desenvolver a partir de 2 gerações (80 anos) após a ocorrência dos fatos, ou seja, exatamente o período em que começaram a surgir os textos apócrifos! Eles não passam de lendas. Mas não pára por ai, diferentemente dos Evangelhos Canônicos que apresentam inúmeras citações de locais geográficos, sacerdotes, pessoas importantes, detalhes que podem ser comprovados a partir do estudo da histórica antiga, os Textos Apócrifos são apenas coleções de idéias de mestres do gnosticismo do segundo século, não há nada que possa ser comparado com o que conhecemos da história antiga, nenhuma citação de local ou de alguma figura pública da época, nada. E, talvez o mais importante, diferente do que se imagina esses livros jamais foram aceitos pelos cristãos antigos como alguns acreditam, nem sequer por líderes eclesiásticos ou algum dos Pais da Igreja. Não temos citações desses livros nos escritos dos Pais da Igreja (90 – 180 d.C.) mas temos inúmeras citações dos textos canônicos, para ser mais preciso, praticamente 95% do NT é citado pelos Pais da Igreja. O Fragmento Muratório, que é um papiro datado de 180 d.C., é uma das primeiras tentativas de estabelecer o Cânon das Escrituras Neotestamentárias, nele encontramos 22 livros contidos no nosso NT atual, incluindo os 4 Evangelhos. É possível que algum outro texto seja citado mas pela deterioração do manuscrito não é possível saber, mas a grande questão é cadê os textos apócrifos? Não aparecem…

Para selar de vez a sepultura dos textos apócrifos aqui vai uma citação do Evangelho de Tomé:

“Simão Pedro disse a eles: ‘Maria deveria deixar-nos, pois as mulheres não são dignas da vida’. Jesus disse: ‘Eu a guiarei para fazer dela homem, de modo que também ela possa tornar-se espírito vivo semelhante a vocês homens. Pois toda mulher que se tornar homem entrará no reino do céu”.

Em outras palavras, a menos que as mulheres se tornem homens elas terão como destino eterno o inferno.

Recapitulando, os textos do Novo Testamento têm um valor histórico muito maior do que qualquer texto apócrifo por serem mais próximos dos fatos, terem sido escritos por testemunhas oculares ou pessoas próximas a estas, apresentarem inúmeros dados que podem ser acessados através da história e desde sempre terem sido aceitos pelos cristãos primitivos. Já os textos apócrifos não resistem a nenhum desses critérios. Por que deveríamos atribuir historicidade à tais textos? Não resta motivo algum.

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