Qual o fator que mais inibe o crescimento da igreja evangélica no Brasil?

Autor: Marinho Soares




Esta pergunta, à primeira vista, parece impertinente. Como falar que a igreja evangélica no Brasil está com algum problema de crescimento? Os números, cada vez mais animadores para os evangélicos e preocupante para os católicos, comprovam o crescimento fantástico dos evangélicos nesta última década. Temos um templo em quase cada esquina das grandes cidades. Os espaços onde funcionavam bares, cinemas, oficinas mecânicas, mercados e outros comércios, tornaram-se lugares de celebrações. Hoje pastoreio uma igreja que tem como sobrenome “Oficina de Vidas”, pois, funciona em um prédio, onde por anos foi uma oficina mecânica para automóveis. No Brasil, o número de evangélicos dobrou em 20 anos. A Revista Veja de 03 de Julho de 2.002 escreveu: “O resultado do censo demográfico no quesito religião, divulgado neste ano, mostra que mais de 15% dos brasileiros – um rebanho de 26 milhões de pessoas – são protestantes. É um percentual cinco vezes maior que em 1940 e o dobro do de 1980. Em Estados como Rio de Janeiro e Goiás, o índice supera 20% dos habitantes. No Espírito Santo e em Rondônia, os evangélicos passam de um quarto da população. Esse ritmo indica que metade dos brasileiros poderiam estar convertidos em cinco décadas – um tempo mínimo quando se fala em avanço religioso.”

Bem, talvez pudéssemos mudar a pergunta para: Qual é o fator que mais inibe o crescimento saudável da igreja evangélica no Brasil?

Sabemos que diante desta pergunta muitas razões poderiam ser elencadas, tais como: falta de ética, ausência de compromisso, superficialidade na fé, pouco ou quase nenhum conhecimento bíblico, igrejas comerciais, etc e etc…

Contudo, gostaria de me deter num fator que está atrás de muitos outros na deterioração da igreja evangélica brasileira, e quem sabe das igrejas no mundo inteiro: a perda de um processo sério, dinâmico e conseqüente de discipulado.

Esta palavra, discipulado, é ouvida de vez em quando em algumas de nossas igrejas. É quando um novo convertido chega e queremos prepará-lo para o batismo, então fazemos com ele o “discipulado”. Ensinamos alguns pressupostos básicos da fé cristã. Ele gosta do que recebe, acredita que irá continuar tendo uma relação de aprofundamento na sua carreira cristã, mas logo percebe que a igreja fez propaganda enganosa; pois é jogado dentro da congregação e nunca mais é estimulado a crescer em seu caráter, relacionamentos, habilidades ministeriais e conhecimento bíblico; ou se é estimulado, não lhe dão o caminho, a condição necessária para este desenvolvimento.

Precisamos voltar ao discipulado. O alicerce e maior investimento que Cristo fez, para o crescimento de Sua igreja, foi criar um movimento de discipulado a partir de seus 12 discípulos. Ele passou valores do Reino não somente em palavras/teoria, mas nas experiências no dia a dia e no próprio ensino prático. Seu relacionamento com os 12 era mais importante que escrever livros, teorias, dar seminários, classes de aula, construir mega-templos, fundar uma denominação e tantas outras coisas que fazemos para mostrar que somos uma igreja que cresce. Jesus fez do discipulado sua marca registrada. A igreja, que deveria ser a fiel depositária de tudo o que ele nos deixou, perdeu esta marca. Precisamos voltar ao início.

O que é discipulado? Keith Phillips em seu livro A Formação de um Discípulo pág.16, escreve: “O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno, baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo, que o aluno é capaz de treinar outros para ensinarem outros.”

O discipulado é um relacionamento. Deus fez discipulado conosco quando se relacionou. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós…” Jo1:14. Sem este relacionamento direto, encarnado, Deus não poderia nos ensinar de si mesmo. Para que temos dedicado nossas vidas? Para quem temos dado a maior parte do nosso tempo? Estamos encarnados (nossa missão) para quê? Se dissermos que somos discípulos de Jesus, nossa missão deverá ser a mesma: fazer discípulos!!!

Como podemos então quebrar este ciclo de descompromisso com o discipulado na igreja brasileira? Começando pela nossa própria vida. Deus pode nos usar para mudar esta história. Pensemos em três chaves para isso:

Primeiramente você deve ter um discipulador. Discípulo consegue discipular bem melhor se estiver sendo discipulado. É um processo, e como todo processo ele precisa de um início, meio e fim. O início é ter alguém investindo em sua vida. Um líder pastoral ou mentor a quem você prestará contas com freqüência. Esta pessoa deverá entender os valores de um processo sério de discipulado. Está difícil encontrar, mas se procurar com diligência, irá encontrar. Esta pessoa deverá caminhar com você, lhe auxiliando em seu crescimento relacional (com Deus, consigo mesmo, com sua família, com seus líderes, com sua igreja, com o mundo ao seu redor); crescimento de caráter (auxiliando a enxergar as áreas do seu coração que precisam de uma renovação – e não são poucas); crescimento em conhecimento bíblico (precisamos de um conhecimento da Palavra de Deus para usarmos em nossa defesa e ataque – foi assim que Jesus fez quando tentado pelo diabo. Lc 4:1-13); crescimento em habilidades ministeriais (nos ajudando a conhecer nossos dons, paixão e lugar certo no corpo de Cristo para nos sentirmos úteis.

Em segundo lugar você deve compreender e praticar as disciplinas espirituais de um discípulo de Jesus e se dedicar a elas de corpo, alma e espírito. Jesus nos ensina a vida simples, a comunhão, a oração, a Palavra de Deus, e o evangelismo (testemunho).

David Kornfield em seu Livro: As Bases na Formação de Discipuladores, pág. 25, Ed. SEPAL – escreve: “Um discípulo é uma pessoa cujo compromisso principal na vida é seguir a seu mestre, desenvolver-se para ser como seu mestre, e fazer a vontade de seu mestre.” Ser um discípulo integral e radical de Jesus é voltar a praticar as coisas que Jesus viveu. Como é sua vida? Simples e descomplicada com tempo para desfrutar do amor de Deus e se dedicar às pessoas que Deus coloca em sua caminhada? Sua comunhão com outros discípulos (crentes) é estreita, intensa e transformadora? Seu tempo dedicado a Palavra lhe dá encorajamento e direção, ouvindo a Deus aqui e agora em relação à sua vida e ministério? A oração faz parte de sua sociedade com Deus, recebendo orientação em todos os aspectos, não fazendo nada sem antes confirmar com Ele? Você compartilha do evangelho e seu testemunho, regularmente, com pessoas que não conhecem a Cristo?

Em terceiro lugar você deve assumir a responsabilidade de ser um discipulador. A Bíblia diz: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros” (2 Tm 2.2). Deus está buscando homens fiéis, pessoas dispostas a tornarem-se discipuladores. Elas renovarão o ciclo de crescimento com saúde da igreja brasileira. Penso que devemos segurar um pouco nosso crescimento e relançarmos os alicerces do discipulado. Deus está desejoso de levantar um movimento de pastores, líderes e crentes discipuladores em nossas igrejas. Meu desejo ainda é ver isto acontecendo nesta geração. Não seremos mais chamados de crentes, evangélicos ou protestantes; mais sim de discípulos! Discípulos de Jesus Cristo!

Desenvolvendo as características espirituais de um discípulo, observando e aprendendo com Jesus Cristo, e, sendo encorajados por outra pessoa que nos ama significativamente e caminha conosco de maneira interessada, e sendo discipuladores de algumas pessoas que Deus coloca em nossas vidas; teremos condições de nos tornar uma grande e saudável igreja evangélica no Brasil.

Perguntas para reflexão:
1. O que você pode fazer para alcançar um discipulador/mentor para sua vida?
2. Qual das disciplinas espirituais de um discípulo você tem mais dificuldade em praticar? Quais seriam alguns passos para superar esta falha?
3. Quantas pessoas você tem influenciado de maneira tão significativa que podem chamá-lo de discipulador de suas vidas?

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Marinho Soares da Silva Filho é pastor Metodista Livre e coordenador regional do MAPI em Cuiabá-MT

Fonte: http://www.mapi-sepal.org.br/defferartfatorInibe.htm

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