Para o casamento dar certo

Autor: Isaltino Gomes Coelho Filho

No livro Comunicação cristã no rádio e tv, de Fausto Rocha, li esta poesia de Adélia Prado:

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, que pesque,
Mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
Ajudo a escamar, abrir, retalhar, e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
De vez em quando os cotovelos se esbarram,
Ele fala coisas como “este foi difícil”,
“Prateou no ar dando rabanadas”
E faz o gesto com a mão.

O silêncio de como nos vimos a primeira vez
Atravessa a cozinha com um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
Somos noivo e noiva.

Lendo Adélia Prado, lembrei-me de um casal muito amigo, em Manaus, gente que ficou no fundo do coração, o Pr. Francisco e a Delmarah. As filhas, que me chamam de “tio”, são meninas fantásticas. Mas o casal também é. Um dia estávamos na casa deles e o Francisco pediu a Delmarah que trouxesse um cafezinho. Uma senhora que lá estava disse: “Que folga, se ele quiser, que vá buscar!”. E Delmarah respondeu: “Eu não quero que ele busque. Eu me sinto feliz em trazer o cafezinho para ele”.
Delmarah não é a “Amélia, que era mulher de verdade”, mas entendeu, como Adélia Prado, o que faz o casamento dar certo: o prazer de servir ao cônjuge. Antes que me chamem de “típico machista latino” (ai, essa patacoada cansa!), digo que Meacir gosta de tomar chá após as refeições. E que sinto prazer em preparar-lhe o chá. Como ela me traz o cafezinho quando estou junto ao computador ou lendo. É mutualidade. Um serve ao outro, com alegria. É tão bom ver o sorriso e o ar de satisfação no rosto do cônjuge!
Eu era criança, morando junto à Praça Botafogo, destruída para a estação do metrô de Inhaúma, no Rio. Uma tarde chovia muito, e minha mãe me pediu que fosse esperar meu pai no ponto de ônibus, levando um guarda-chuva para ele não se molhar. Lembro-me de sua surpresa, na rua, e sua exclamação, ao chegar em casa: “Isso é que é esposa!”. Custa tão pouco fazer a outra parte feliz! Basta lembrar-se dela, fazer algo por ela, demonstrar isto diariamente.
Há gente turrona, que gosta de ser bem tratada, que espera que a outra parte se doe, mas que nunca se doa. Quer ser o centro, em vez de colocar o outro no centro. Se as coisas não saem como espera, logo fica “trombuda”, fazendo questão de demonstrar insatisfação. Não foi atendida em seus reclamos ou na sua expectativa. Que pena! Isto estraga o casamento!
Limpar peixes não é fácil. Pessoalmente, não gosto de pescar. Gosto muito de peixes, mas prefiro comprá-los limpos. Mas sempre fui muito bem tratado em casa. E sempre procurei tratar bem. Porque desde cedo entendi que para um casamento dar certo, nenhuma das partes pode se colocar como receptáculo das coisas boas, vendo a outra sempre como cedente. É uma atitude de reciprocidade. Quando tratamos bem somos bem tratados. E se, eventualmente, a outra parte for “casca grossa”, deve-se continuar tratando-a bem. A força do amor é irresistível. Um dia ela mudará.
Num casamento não se pede. Dá-se. Um casamento acertado é aquele onde existe autodoação das duas partes. Aí, está tudo preparado para dar certo.

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