Autor: Raymundo de Lima
A história da psicologia está repleta de experimentações realizadas em laboratório, que servem tanto para fins teóricos como na vida prática.
Experimento interessante sobre a importância do vínculo afetivo entre mãe e filho e a formação da personalidade da criança foi realizado pelo psicólogo H. Hallow, da Universidade de Wisconsin, Madison, EUA.
Hallow usou duas “mães” macacas substitutas das mães verdadeiras. Uma tinha forma cilíndrica de arame, com uma cabeça de madeira desenhada de modo rudimentar. A outra, também era de arame, era envolvida em pano peludo. Ambas ficavam lado a lado, apenas separadas por uma divisória, e acessível aos filhos que eram animais de verdade.
O cientista colocou oito macaquinhos recém-nascidos em gaiolas individuais. Cada um com igual acesso à “mãe” de arame ou a “mãe” envolvida em pano. Quatro dos bebês recebiam o leite de uma das mães e quatro de outra. O leite vinha da mamadeira cujo bico se projetava do “seio” da “mãe”.
As duas “mães” de material provaram ser fisiologicamente equivalentes. Os macaquinhos dos dois grupos bebiam o mesmo volume de leite e engordavam ao mesmo ritmo. Entretanto, essas duas “mães” provaram que psicologicamente estavam longe de se equivalerem.
Os registros dos cientistas mostraram que ambos os grupos de bebês passavam muito mais tempo nas costas e agarrando-se a suas “mães” macias e peludas do que as “mães” só de arame.
Depois, em outro experimento, os cientistas retiraram o leite da “mãe” de pano e deixaram só com a “mãe” de arame. O macaquinho alimentava-se na mãe de arame, mas rapidamente corria para junto da mãe de tecido. Ou seja, a mãe de arame só servia para amamentar; o filhote não se sentia aconchegado junto a ela, preferindo a mãe de pano macio. Verificou-se ainda que, diante de situações de medo o macaquinho corria para a mãe de tecido como que buscando nela segurança e o conforto.
Qual ilação?
O experimento serviu para demonstrar experimentalmente que para a formação do vínculo afetivo entre mãe e filho, o contato corporal e o conforto imediato proporcionado por ele, são mais importantes que a própria alimentação. A alimentação é também importante, mas o vinculo afetivo é mais significativo para o psiquismo da criança. Ou seja, a formação do vínculo entre mãe e filho (tanto em macacos como em seres humanos), é fundamental para o desenvolvimento de uma personalidade bem estruturada, mais segura de si, enfim, sadia. Ou seja, a comida está para o corpo assim como o carinho, o aconchego e o amor estão para a formação da boa alma ou psiquè. (Em termos cristãos, “nem só de pão e vinho vive o homem”.)
No âmbito dos seres humanos, as crianças obrigadas a viverem em instituições (orfanatos, creches, casas de menores delinqüentes, etc) tendem a não terem alguém especial com quem estabelecer vínculos afetivos e emocionais. Freud, observa que, na maioria dessas instituições, o que predomina é a transferência negativa – imperam regras, obrigações diárias, disciplina rígida – que terminam por despertar na criança mais ódio que amor e um profundo despreparo para acolher os acenos de possíveis vínculos positivos que lembrariam o que seria uma boa relação mãe e filho.
Qual é a dimensão do problema?
Ultimamente temos escutado queixas de filhos (crianças e adultos) cujas mães lhes dão pouco ou nenhum carinho, apesar de conviverem no dia a dia. Ressentem-se de falta de colo, de contato de pele ou mesmo de palavras dóceis que imprimem na alma o amor para com eles. Essas mães frias de afetos não estão ajudando os seus filhos a bem desenvolverem seu psiquismo, a olharem de modo terno a própria mãe, a adquirirem a sensação de que o mundo é bom, de que, por extensão, as relações humanas e sociais também podem ser boas. É preciso sempre lembrar que a mãe é quem primeiro representa o mundo onde irão viver. Fará diferença para o desenvolvimento do bebê, ter uma mãe que o aconchega, o acaricia, protege, e outra que se comporta como aquela “mãe” de arame frio que dá o leite e só. Essas mães precisam urgentemente aprender a ser um colo macio para seu filho, mas se não tiveram em suas próprias vidas, como dar? Como dar o que não se teve?
Esse problema não afeta somente as mães. Temos escutado crianças e adolescentes se queixando também sobre a ausência afetiva e lúdica dos seus pais. Esse homens estão tão absorvidos no seu trabalho, na sua carreira ou no seu estudo; muitos deles se pensam tão importantes e atarefados que se “esquecem” ou simplesmente desaprenderam de como se relacionar com os filhos, brincar com eles, conversar com toda família e, claro, dar e receber carinho com os filhos. Pais que ocupam altos cargos nas empresas, políticos, artistas famosos e intelectuais, são os que mais tem filhos ressentidos, às vezes revoltados ao nível de terem contraído alguma patologia psíquica ou delinqüência social. São filhos e filhas que formam sintomas psíquicos como último recurso de serem escutados por seus pais, infelizmente surdos ou que simplesmente não se importam.
Não basta ser Marx, tem que ser também pai
Karl Marx, com todo aquele visual sério, barbudo, corpulento, quando não estava escrevendo a obra revolucionária, O Capital, ficava um bom tempo brincando com seus filhos. Engels, seu amigo, conta que ficava comovido ao vê-lo, muitas vezes, servindo de cavalinho dos seus pequenos e alegres. No meio intelectual, parece que são escassos os exemplos de pai lúdico, participativo e alegre.
Nessa época cujo tempo é excessivamente preenchido com trabalho – daí os workholics (viciados em trabalho) e estresses ocupacionais – e com coisas vazias fabricadas pela ideologia da cultura de massa, é preciso ter uma ética de brincar, começando com os filhos. Hoje em dia é preciso ter coragem ficar em estado de ócio e simplesmente brincar, jogar, andar por aí ou “vadiar”, como dizia Clementina de Jesus.
Hoje, há casos de mães que vão a pediatras, psicólogos e psicanalistas, porque a criança está com um probleminha, às vezes, deprimidinha ou estressadinha. A receita que costuma receber do bom médico é simples e eficaz: dar carinho. Deixe que ela seja apenas criança. Também deixe que ela se livre do peso das obrigações dos adultos para ela se relacionar com leveza. Mas, há médicos, sobretudo psiquiatras, que parece que trabalham em parceria com a indústria química e a rede de farmácias do sistema capitalista, pois não deixam nem a criança, nem o adulto saírem de seu consultório sem uma prescrição medicamentosa.
Vivemos numa época em que os pais (mãe e pai) são tão submissos a onda consumista do capitalismo, proporcionando aos filhos a melhor comida, os mais sofisticados brinquedos, os passeios mais caros nas férias, etc, mas esquecem o mais importante, urgente e de custo zero: ser uma mãe ou pai presentes, que dão atenção, carinhos, beijinhos, que oferecem colo, enfim, que sabem dar amor em ato e… limites também.
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/011/11ray_1.htm
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