Autor: Sérgio Nilo Schmidt
Sabe, Senhor, faz tanto tempo que não converso com você. Faz tanto tempo mesmo. Nem sei se vou chamar você de Senhor, da Pai, ou de Deus. No fundo, não importa o nome. Apenas dos meus poucos anos, aprendi que os nomes dizem muito pouco. E eu gostaria de dizer tanto. Dizer tudo de uma só vez. Dizer que há muito tempo brinco em excluir você da minha vida. Dizer que há muito tempo estou vazio de tudo. E cheio de nada. Dizer que o meu olhar há muito deixou de criar a fantasia de procurar você. Dizer que minhas mãos cansaram de mendigar esperança. Dizer que eu esqueci do desabafo honesto da oração – nas conversas entre nós dois. Meus olhos parecem tão estranhos, Senhor. Apertados de guerra. Cheios de agonia. Loucos de autoconfiança. Desbotados de amor. Meus olhos parecem tão estranhos, que hoje, Senhor, acordei com saudades de você. Saudades em descobrir um rosto novo. Um rosto de perdão. Um rosto crucificado. Um rosto diferente. Mas tudo isso não sei construir sozinho. Aliás, sei construir tão pouco. muitas construções, até agora, serviram sempre para destruir. Destruir, com protesto. Destruir, com alienação. Destruir, como se eu fosse um deuzinho particular. Um deus só para mim. Que não respeita o pensamento dos velhos. Que, violentamente, condena o radicalismo da violência. Que faz sexo, dentro de miserável amor. Que ridiculariza a fé, mas crê no falso poder dos narcóticos. Sabe, Senhor, hoje eu acordei com saudades de você. É com tristeza dos natais que passei sem você, natais cheios de palavras santas, mas, friamente mentirosas. Natais suspensos entre as mentiras comerciais. Na falta do carinho, comprando o amor dos filhos, com uma boneca e um carro novo. Na falta do amor, enganando a união de um lar pelo falso valor dos presentes de Natal. Tudo isso. E muito mais. Trouxeram-me uma grande saudade de você, Senhor. Uma saudade profunda e verdadeira. Uma saudade que me deixa só. Terrivelmente só. Esmagado. Pisado no meio de tantos. E foi assim que descobri que você ainda existe. Vivo. E que o Natal existe por causa de você. Minha coragem é pequena. Desesperada. Mutilada. Senhor, vim pedir auxílio. Quero sorrir, com teu sorriso. Quero cantar, com o teu canto. Quero construir com a tua mensagem de Natal. Ajuda-me, Senhor. Se você acha. Se eu mereço. Ajuda-me. Estou aqui. Sem melhores palavras. Sem maiores argumentos. Sem melhores exemplos. Faça-me, Senhor, descobrir, de novo, o Natal. Estou só. Só, eu estou – a esperar …
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