Autor: Renata Gomes
Nós como servos de Deus já nos cansamos de tantas vezes escutarmos pregações sobre José e Moisés, porém nunca ouvimos sermões sobre os 400 anos intermediários entre estes dois homens de Deus, anos silenciosos.
Em Êxodo 12.40 lemos o seguinte: “Ora o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos.” Entretanto lemos no livro de Gênesis 15.13-14 que o Senhor Deus fala a Abrão que a sua posteridade seria peregrina em terra estrangeira, reduzida a escravidão, afligida por 400 anos, juízo seria trazido à nação opressora de Israel e o povo de Deus sairia daquele lugar com grandes riquezas.
Deus muito tempo antes de tais coisas acontecerem ao seu povo, as havia predito a seu servo Abraão. Podemos então observar nesta conversa do Eterno com Abrão que a palavra profética está sendo apresentada em seu aspecto exortativo, isto é, Deus o está advertindo sobre o destino do povo.
O Eterno ficou 400 anos em silêncio, sem se pronunciar através de palavra profética, de visões ou sinais. A Bíblia nos diz ainda que sem profecia o povo se corrompe, então como viver sem ouvir a voz de Deus? Como lidar com o silêncio incômodo de Deus? Devemos lembrar que até o profeta se inquieta, o que percebemos na fala do profeta Habacuque quando este se impacienta com o silêncio divino e diz para Deus: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? (Hb. 1.2). Muitos nos momentos de depressão, de angústia de alma acabam espiritualizando as coisas, podendo inclusive cantar hinos que falem sobre como devemos aguardar o tempo de Deus etc., porém durante o período de sofrimento pelo qual estamos passando e em que Deus apresenta-se em silêncio só conseguimos muitas das vezes dizer: “Eu estou me afogando”. Foi exatamente o que Habacuque expressou ao falar com o Eterno da forma como fez. Ele não foi superespiritual, não se apresentou como supercrente, simplesmente disse a Deus que seu silêncio o estava incomodando, que precisava de respostas para suas angústias e dilemas, reconhecendo que só Ele tem as respostas certas, respostas de vida, de vida eterna.
Devemos reconhecer que a vida está repleta de períodos de silêncio de Deus, mas esses períodos são tão relevantes quanto aqueles em que ele fala conosco. Ora a comunicação possui dois lados: um transmite a mensagem e o outro a recebe. Se a mensagem não está fluindo, culpamos quase sempre o transmissor, mas é importante também olhar o receptor. E o que na nossa vida ameaçaria ofuscar a voz do Eterno?
1)- Os sons desagradáveis do sofrimento humano – onde a própria vida parece contradizer a concepção de um Deus bom enquanto tudo a nossa volta é tristeza, miséria e abandono. Nós nos esforçamos para ouvir a sua voz, e nosso empenho é respondido pelos sons do seu silêncio.
2)- A comemoração da prosperidade – Nossos bons momentos são também turbulentos, neles a nossa concentração é tão autodirigida que pode ocorrer de nunca nos ligarmos de abaixar a música e acabar com a festa. Acabamos assim por não criar o silêncio necessário para podermos ouvir a voz de Deus.
3)- O equilíbrio da opinião – Muitas das vezes achamos a palavra de Deus para as nossas vidas desagradável. Sabemos que foi o Eterno quem falou conosco mas nos recusamos a aceitar. Achamos inclusive difícil de acreditar que foi Ele quem falou conosco tal coisa. Como poderíamos concordar com o seu comando ou nos acharmos a altura do padrão de conduta revelado as nossas vidas? Então nós simplesmente concluímos que Deus está em silêncio, ficando sua voz abafada pela nossa opinião.
4)- O desinteresse por trocar o canal – Algumas vezes não ouvimos a voz de Deus pela nossa negligência, desinteresse ou falta de experiência e persistência em ouvir. Deus tem falado conosco mas infelizmente não temos aplicado a sua palavra as nossas vidas.
5)- A deficiência auditiva caracterizada pela limitação do homem – A voz de Deus emite vibrações para as quais não estamos equipados para ouvir. A palavra de Deus diz “Aquele que tem ouvidos, ouça”. Mas, e aqueles que não têm ouvido para ouvir? Poderíamos dizer que a maioria de nós não temos ouvidos para ouvir a voz de Deus. E o que significa ter ouvidos?
Significa que estamos prontos e equipados para ouvir as idéias de Deus para a nossa vida na língua Dele. Percebemos o mundo através de nossos cinco sentidos só que estes são limitados para podermos ouvir sua voz. Existem coisas sobre Deus que são discernidas espiritualmente, mediante experiências de vida e da leitura das Escrituras, é quase como se nós tivéssemos um sexto sentido.
Às vezes Deus expõe seus pensamentos através do silêncio. A sua voz não tem tanta eloqüência quanto o seu silêncio. Embora possa parecer que durante esses períodos da história bíblica e em nossas próprias histórias que Deus esteja distante e não tenha se mostrado visível a nossos olhos, Ele é sempre o vencedor. Na verdade durante esses longos anos de silêncio de Deus nenhum verso da Escritura foi escrito durante quatro séculos. Mas a mão poderosa do Altíssimo estava operando por de trás das cortinas, oculta ao sofrimento do seu povo, preparando um libertador, um resgatador, nas figuras de dois homens Moisés e Jesus.
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