Autor: Antonio Carlos Gomes da Costa
Estamos vendo germinar em nossas escolas um movimento no sentido de incentivo ao protagonismo juvenil. A grande pergunta é: Será isso uma tendência ou um modismo?
Este movimento, no estágio atual, poderá ser qualquer uma dessas duas coisas. Em alguns lugares, poderá transformar-se numa tendência irreversível na direção de criar o espírito do protagonismo nos jovens, mas, em outros, poderá tornar-se apenas um modismo, uma coisa que passou que não pegou e, depois de um tempo, foi esquecida, deixando apenas uma lembrança.
O que poderá fazer a diferença é o modo como os educadores forem capazes de compreender a questão do protagonismo juvenil. Se eles entenderem essa questão como apenas um ativismo juvenil, um uso instrumental dos jovens, como mão-de-obra para resolver determinados problemas na escola ou fora dela, é quase certo dizermos que, ao invés de uma longa maratona para a conquista de um grande objetivo, o protagonismo na escola que assim proceder não passará de uma rapidíssima corrida de cem metros rasos.
Portanto, para construir um protagonismo de fôlego, temos que pensar em superar o uso instrumental dos jovens pelos educadores e termos uma outra postura diante desta questão.
Se quisermos encarar a realidade como ela é, poderemos dizer duas coisas:
1 – as ações de protagonismo juvenil estão longe de ser uma regra, podem ser vistas muito mais como exceção;
2 – nas ações de protagonismo, em muitos lugares, ainda predomina o espírito de ativismo juvenil e não o espírito do jovem como fonte de iniciativa, liberdade e compromisso.
Para superação dessas limitações, uma proposta inovadora de ação deve marcar-se pelas seguintes características:
1º – o educador deve estar atento às necessidades do jovem de construir uma identidade e um projeto de vida, evitando que o protagonismo seja uma experiência de pura exterioridade, ou seja, de utilização instrumental do jovem para resolver este ou aquele problema.
O protagonismo juvenil deve ser uma experiência interior do jovem no sentido do enriquecimento do seu horizonte vital;
2º – a experiência do protagonismo deve proporcionar ao jovem, por outro lado, o que poderíamos chamar de uma musculação política e social, isto é, o jovem deve crescer e experimentar-se do ponto de vista do exercício da cidadania, envolvendo-se e comprometendo-se com questões que não tratam de seus interesses individuais e privados, mas que dizem respeito ao bem comum;
3º – o educador, na condução das ações de protagonismo, deve percebê-lo como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento, entendendo que a sua autonomia é um objetivo final a ser alcançado e não uma condição para a realização desta experiência. Isto quer dizer que a autonomia deve ser um resultado, deve ser aquilo que o jovem vai procurar construir com seus companheiros ao longo do processo.
Portanto, a presença do educador, como consultor, junto ao grupo de jovens deve dar-se, não no sentido de substituir a sua iniciativa, a sua criatividade e a sua responsabilidade, mas no sentido de propiciar as condições para que essas ações sejam assumidas pelos jovens de maneira conseqüente;
4º – o educador deve estar consciente de que neste caso, muito mais importante do que o que ele diz, é a sua postura, ou seja, o modo como ele se posiciona e o modo como ele age diante dos jovens.
O educador não deve exercer o poder-dominação em relação ao grupo de jovens, mas deve exercer o poder-serviço, colocando-se como uma pessoa-recurso junto ao grupo de jovens e, não, assumindo o comando do grupo;
5º – finalmente, é preciso que o educador saiba o tempo todo que seu objetivo é lidar com duas transformações: uma é a transformação de um aspecto da realidade externa ao jovem, que é a situação-problema que se pretende enfrentar, outra, que o educador jamais poderá perder de vista, é a transformação interna deste jovem, na sua relação consigo mesmo e com os outros.
É por esse caminho que o jovem se envolverá diretamente em ações que lhe permitam viver a cidadania, uma oportunidade de transformar-se num cidadão prestante, uma pessoa envolvida e comprometida com o bem-comum.
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