Autor: René Kivitz
Grande ironia. É justamente do projeto da torre de Babel que extraímos grande ensinamento para o “projeto de construção” da igreja. Aqueles queriam construir uma cidade com uma torre que chegasse até o céu. Pretendiam ficar famosos e se precaver de uma outra chuva forte, e põe forte nisso, que os espalhasse pelo mundo.
Vários erros de projeto: a pretensão de chegar ao céu, pois no céu a gente só chega levado por alguém que é do céu; a motivação de empreender para ter um nome, pois a gente não faz para ser, a gente faz porque é; e, a pretensão de correr para o céu para fugir da terra, pois o máximo que podemos fazer é trabalhar para a terra mais parecida com o que imaginamos seja o céu.
Erros comuns ainda hoje. Ainda tem gente achando que o reino de Deus é levado adiante pelo mérito e esforço humano, sem o concurso da graça de Deus; ainda tem gente que acredita que sua identidade depende de suas conquistas e realizações; e ainda tem gente cujo projeto de vida não inclui a terra, mas apenas o céu, isto é, não é um projeto de vida, é um projeto de morte.
Mas apesar dos erros, é em Babel que Deus se pronuncia revelando um dos maiores segredos do sucesso de qualquer empreendimento histórico e coletivo: “Essa gente é um povo só, e todos falam uma só língua. Isso que eles estão fazendo é só o começo. Logo serão capazes de fazer o que quiserem”. Unidade. Eis o segredo. Unidade no entendimento, no projeto, no processo, nos esforços. Talvez daí o mote dos militantes: “o povo unido jamais será vencido”. Semelhante ao que disse Jesus: “uma casa dividida contra si mesma não prospera”.
A fragilidade da igreja evangélica no Brasil, em boa medida, se explica daí. No lugar de unidade, dispersão; de cooperação, competição; de soma e multiplicação, subtração e divisão; de sujeição mútua, difamação; de uma só língua, muitos sonidos incertos; de um só coração e mente, muitas caras, e caras de gente que mente.
Eis porque é imprescindível uma parada para ouvir novamente a voz de Deus. Separar um tempo para reavaliar a identidade, a caminhada, as aspirações e os sonhos para o futuro. Desacelerar a agenda de atividades para abrir espaço para a reflexão e a devoção comunitária. Que igreja somos nós? Que igreja queremos ser? Aliás, que igreja Deus quer que sejamos? Em que fase estamos do projeto? Quem são os pares no empreendimento? Em que proporção caminhamos em unidade, falamos a mesma língua e rumamos na mesma direção? Quão informada está a caravana a respeito da viagem? Falamos todos a mesma língua? Enfim, estamos em unidade. Unidade com Deus, e unidade entre nós.
O fato é que estamos construindo uma igreja, uma igreja que carinhosamente chamamos Ibab. Mas o que caracteriza nosso “projeto de construção”? O projeto nasce de nossa identidade como filhos de Deus, súditos do rei Eterno, e mão de obra – cooperadores do grande projetista? O projeto é levado adiante sob a graça de Deus e a unção do Espírito? O projeto é uma expressão de fuga dos desafios da terra ou uma expressão de compromisso com a missão de Jesus e o reino de Deus?
“A igreja é você quem faz”. Aqui, estamos construindo uma igreja. E não uma torre. Não queremos chegar no céu. Queremos chegar até os confins da terra para fincar bandeiras e declarar “o reino de Deus chegou”. Queremos ser um povo só, falando um só língua. E acreditamos que tudo quanto fizemos foi apenas o começo. Esperamos que Deus coloque em nossas mãos o que ainda falta do “projeto impossível” e faça de nós um povo capaz de fazer qualquer coisa.