Autor: Isaltino Gomes Coelho Filho
Um dia desses, assisti um programa de música evangélica jovem numa emissora de televisão evangélica de Manaus.
Foi um espetáculo curioso, digno de reflexão séria e objetiva. Um rapaz cantou um hino de sua autoria. Sua voz não era boa. A música era de qualidade sofrível e de execução muito barulhenta.
A letra, simplesmente terrível. Passou uma imagem muita fraca dos evangélicos. Na realidade, se houvesse critérios técnicos, o rapaz não deveria ter cantado.
Mas infelizmente muitos crentes acham que para Jesus qualquer coisa serve, mesmo que de baixo padrão.
O que lhes importa é a intenção, como se esta fosse desculpa para má qualidade. E por isso a música foi elogiada pelo apresentador, que imitava os locutores de FM, falando no estilo “metralhadora”.
É bem verdade que os locutores de programas populares de FM são todos iguais, imitando o falecido Big Boy, lançador do estilo.
O programa evangélico imita o estilo do mundo. Isso, por si só, já não é recomendável.
O cântico falava do Diabo. Certos segmentos evangélicos têm uma fixação com esta figura. Mas gosto é gosto. Não se discute. O problema é a teologia duvidosa passada pelo programa. Dizia a letra que antigamente os crentes fugiam de Satanás, mas agora, não. Agora nós o perseguimos, corremos atrás dele, nós o desmoralizamos, nós o vencemos, nós zombamos dele.
Agora, o inferno treme de medo diante da Igreja. O jovem gritava a ponto das veias do pescoço se salientarem. Gritar, por vezes, dá ar de verdade ao que se diz.
Há gente que pouco diz, mas que grita bem e por isso impressiona. Alguns podem ter levado a música a sério. Mas eu fiquei chocado. Gosto de espiritualidade. Busco-a. Como a minha é deficiente, persigo-a. Mas também gosto de qualidade e não a vi. Gosto do ensino bíblico correto e não o vi. Pelo contrário. Vi um ensino em franco desacerto com a Bíblia.
Não houve teologia sadia na música. Muitos compositores põem suas idéias em música sem submetê-las ao crivo de um ensino bíblico correto. Confunde-se a inspiração musical com revelação bíblica e se presume que “se Deus inspirou” (um conceito tão subjetivo!), é válido. Tem-se cantado muita aberração por se desprezar a doutrina bíblica correta. E este é um problema sério no meio evangélico: o abandono da Bíblia como fonte de doutrina e de inspiração. A experiência, as sensações, a intuição, o querer, têm sido colocados como padrão.
Voltemos à música e sua teologia. Não se persegue o Diabo. Não fomos autorizados nem mandados a fazer isto (e não há como fazê-lo – como persegui-lo?). Fomos orientados para resistir-lhe (Tg 4.7) que ele fugiria de nós. Devemos ter cautela com ele (1 Pe 5.8). Não devemos lhe dar lugar (Ef 4.27). E o inferno não está tremendo de medo da Igreja. Quem disse isso?
A vida cristã apresenta uma tensão: o já e o ainda não. O reino de Deus já foi estabelecido por Jesus e está em vitoriosa expansão, mas ainda não está consumado. O mundo vindouro já chegou e já temos provado seu poder, mas o mundo antigo ainda não cessou. Já somos filhos e não mais escravos, mas ainda não entramos na liberdade da glória dos filhos de Deus. Satanás já está vencido, mas ainda não aniquilado. Já estamos salvos, mas ainda não glorificados. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1), mas “o mundo jaz no maligno” (1 Jo 5.19). A ênfase exagerada no ainda não conduz ao derrotismo. Deixamos de ter estímulo para o futuro e nos centramos no agora. Por outro lado, a ênfase exagerada no já conduz ao ufanismo, à criancice, a afirmações pueris sem embasamento bíblico. Olhamos o futuro como se fosse agora. Muitos hoje querem o já (saúde completa, impecabilidade, posse de todas as bênçãos e perfeição). Mas isso pertence ao reino consumado que ainda não chegou.
Um mandamento bíblico muito esquecido e pouquíssimo enfatizado no meio evangélico é a sobriedade. Ser sóbrio e viver sobriamente é ordem bíblica: 1 Tessalonicenses 5.6 e 5.8, 1 Timóteo 3.2, 2 Timóteo 4.5, Tito 1.8. 1 Pedro 1.13, 4.7 e 5.8. É bom cantar e louvar a Deus. É bom celebrar a vitória cristã.
Mas é bom ter doutrina correta. Também é bom não menosprezar o adversário. Ele ruge como leão (1Pe 5.8) e não mia como gatinho domesticado. Não se brinque com ele. E uma palavra cordial aos compositores evangélicos, autores de hinos e corinhos: subordinem suas idéias à Bíblia. Ela deve ser normativa de nossa doutrina e de nossos cânticos. Se assim não for, podemos cantar conceitos incorretos. Isso nos prejudicará.
Daremos ao mundo uma mensagem errada. Isso prejudicará o mundo. E Deus responsabilizará vocês por ensinarem o erro.
O Pr. Isaltino Gomes é pastor da Igreja Batista em Cambuí – Campinas -SP
Visite o site da igreja www.ibcambui.org.br
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