O nascimento de missões

Autor: Bertil Ekström




Introdução
A história de Missões inicia, na verdade, já na promessa de Deus de resgatar o homem caído através da descendência de Eva, proferida Logo após a queda do ser humano no pecado. Mas, em termos de uma divulgação do Reino de Deus pelos cristãos, é claro que teremos que buscar as origens na Igreja Primitiva. Costuma-se dizer que missões nasce no seio da Igreja de Antioquia e de fato é, a partir da viagem missionária de Barnabé e Saulo, que o movimento missionário, propria­mente dito, inicia.

1. Antecedentes no Antigo Testamento
A tarefa missionária não é nova quando a Igreja nasce no dia de Pentecostes. Já fazia parte da chamada a Abraão e ao povo de Israel a tarefa de abençoar as nações (GN 12.1-3).
A história do povo israelita, no entanto, não contém grandes feitos na área de divulgação dos planos divinos, com raras exceções. Segundo J. Blauw, Israel foi comissionado, tanto para uma obra centrípeta – ser um ambiente de atração onde Deus pudesse ser adorado, como centrífuga – espalhar o co­nhecimento acerca de Deus para outras nações. No primeiro aspecto, o povo eleito foi um pouco mais feliz, mas no segundo, houve um fracasso quase que total.’
Entretanto, a preocupação divina com a humanidade como um todo e a expansão do Reino a todos os povos existem claramente afirmadas nas páginas do Antigo Testamento. Por isso, missões é também um cumprimento das profecias (At 26.22,23).

2. Proselitismo judaico
Após o exílio na Babilónia e a volta de parte do povo de Judá à Palestina, o Judaísmo começa a se estruturar tal como se apresenta na época do Novo Testamento. Jerusalém é, natu­ralmente, o grande centro de culto ao Senhor, mas sinagogas surgem em diferentes pontos do Império Grego, e mais tarde do Império Romano, onde havia um número suficiente de judeus.
Através do proselitismo, isto é, a conversão de um gentio para a fé judaica, aceitando ser circuncidado e guardar as tradições .judaicas, houve certa expansão do Judaísmo. A busca de prosélitos levava líderes religiosos e “missionários” a per­correrem grandes extensões para converter os gentios (com­pare Mt2Q3.15).

3. Elementos de contribuição
A época escolhida por Deus para enviar seu Filho Jesus e para implantar a Igreja na terra, não poderia ter sido mais acertada. Soberano e Senhor da história, o seu planejamento é perfeito e coincide com, até então, a melhor situação para o “lançamento” do desafio missionário.
Podemos destacar três elementos decisivos, cada um repre­sentando uma cultura:
3.1. A Diáspora – o elemento judaico. Nem todos os judeus voltaram à Palestina após a libertação do exílio babilô­nico. Muitos ficaram e outros se espalharam pelas ter­ras ao redor do Mar Mediterrâneo. Onde se fixaram, estabeleceram sinagogas e tentaram guardar as tradi­ções de seu povo. Nas sinagogas se reuniam, tanto judeus, como prosélitos e os “tementes a Deus”. Este último era um grupo formado por gentios que não queriam assumir completamente os costumes judaicos, mas estavam interessados na fé num único Deus.
As sinagogas e as colônias judaicas serviram como cen­tros de apoio aos primeiros empreendimentos missio­nários e Paulo costumava começar seu trabalho ali. Como a recepção nem sempre era a melhor, principal­mente após ouvirem a mensagem do apóstolo, a prega­ção era dirigida aos demais habitantes de uma cidade. Os “tementes a Deus” eram geralmente receptivos e compunham, muitas vezes, a base inicial da nova igreja.
3.2. O helenismo – o elemento grego. Devido à expansão do helenismo, ou seja, a cultura grega, por causa das vitó­rias de Alexandre, o Grande, no século IV a.C., a língua grega era falada em todo o Império Romano. A aber­tura para novas idéias também era um resultado direto da mente analítica grega. O uso de um idioma e o interesse por idéias inovadoras facilitaram a divulgação do Evangelho durante o primeiro século.
3.3. A Pax Romana – o elemento romano. O Império Ro­mano tinha na época relativa paz – chamada pax roma­na. Havia forte comércio entre as diferentes partes do Império e comunicações bem estabelecidas. A unidade política dava condições de se viajar de uma região para outra, principalmente para um cidadão romano como Paulo.
Um outro aspecto relacionado, tanto com a cultura romana, como a grega, era a fraqueza espiritual das religiões pagãs que dominavam estas culturas e o declí­nio moral resultante. O evangelho encontrou um povo sedento e cansado de falsidade, ilusão e imoralidade.

4. As ordens missionárias de Jesus
Naturalmente, o próprio Mestre Jesus Cristo faz parte da história de Missões. Afinal, ele foi o maior de todos os missio­nários, enviado por seu Pai para resgatar a humanidade. Sua tarefa, no entanto, era mais restrita ao povo de Israel, manten­do-se dentro dos limites da Palestina. Encontrou pessoas tam­bém de outras culturas e mostrou aos discípulos que, por exemplo, os samaritanos também necessitavam das boas novas.
A estratégia de Jesus consistia tanto na pregação, como na ação. Atendeu a necessidade do ser humano em todos os aspectos, deixando um importante exemplo a ser seguido por seus discípulos. Nas ordens missionárias de Jesus encontramos uma visão ampla da tarefa. Deveria:
4.1. Alcançar até os confins da terra – At 1.8
4.2. Incluir todos os povos – Mc 16.15
4.3. Fazer discípulos – MT 28.19
4.4. Seguir o modelo dado pelo Mestre – JO 20.21
4.5. Contar com a presença de Jesus – MT 28.20
4.6. Demonstrar as características do Reino – Mc 16.17,18
4.7. Resultar na salvação dos homens – Mc 16.16
4.8. Ser cumprida antes do fim dos tempos – MT 24.14

5. Os apóstolos missionários
As ordens missionárias de Jesus são suficientemente claras, mas parece que os discípulos e a Igreja em Jerusalém tiveram certa dificuldade em obedecê-las no início. Com a ajuda do Espírito Santo e a contribuição das perseguições, a Igreja foi obrigada a se espalhar.
Segundo a tradição cristã, com base principalmente no historiador Eusébio (cerca de 260 a 340), os apóstolos funda­ram igrejas em:
5.1. João – na Ásia
5.2. Pedro – em Ponto, Galácia, Bitínia e Capadócia
5.3. André – na Cítia.
5.4. Mateus – em outras nações após ter escrito o evangelho
5.5. Bartolomeu – na Índia
5.6. Tomé – entre os partos (Irá, Iraque e Paquistão), certa­mente também chegou à Índia.
5.7. Marcos – no Egito, fundando Igreja em Alexandria.
5.8. Simão, o zelote – na Pérsia
5.9. Tiago, o Grande – na Espanha
5.10. Tiago, o Justo – na Arábia
5.11.Filipe – na Frígia.
Estes dados não podem ser comprovados inteiramente, mas nos dão uma boa idéia de como a Igreja se espalha no primeiro século, chegando aos mais remotos rincões do Império e até além.

6. A iniciativa missionária do Espírito de Deus.
As viagens missionárias dos apóstolos como vimos, se de­ram depois que o apóstolo Paulo já tinha iniciado sua carreira de pregador. Pelo menos na sua maioria, os apóstolos se man­tinham em Jerusalém (At 8.1).
É na Igreja de Antioquia que vamos encontrar o nascimento de missões numa cooperação entre duas estruturas paralelas: a fixa = igreja local e a móvel = equipe missionária. Quem dá origem ao movimento missionário é o próprio Deus através do seu Santo Espírito ativo na Igreja de Antioquia (At 13.1-3). O Espírito dirige também os planos missionários (At 16.6,9) e dá ousadia na pregação (At 13.46-52).

7. Uma igreja preparada
Outro aspecto do início da história de missões, é que o berço do movimento missionário se deu numa igreja preparada para a incumbência transcultural. Algumas características da Igreja em Antioquia são:
7.1. Surgida devido a perseguição aos crentes em Jerusalém (At 11.19,20).
7.2. Composta por nacionalidades diferentes – com lideran­ça pluricultural (At 13.1).
7.3. Generosidade (At 11.27-30).
7.4. De oração (At 13.2) – sensível à voz de Deus.
7.5. Envio dos melhores líderes, segundo a expressa vonta­de de Deus.

8. Situação no fim do primeiro século
É impressionante como o Evangelho alcançou o mundo conhecido no primeiro século da era cristã. Já em 80-85 d.C. havia em torno de 300.000 cristãos! As perseguições por parte dos imperadores romanos tentaram reprimir o movimento cristão, mas a Igreja continuou avançando e no ano de 300 já contava com 8 milhões de adeptos.
 
Extraído do livro: História de Missões
Um Guia de estudo da história missionária
Autor: Bertil Ekström


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