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Na casa de Charles Darwin morava Bismarck
, um majestoso gato preto. Os dois brincavam o dia todo. O velho naturalista dava piparotes no focinho do animal, puxava-lhe os longos bigodes, lia-lhe trechos da Origem das Espécies. Para aturdi-lo ainda mais, desenhava, em folhas de papel, ratos de meio metro de tamanho. E mostrava-os a Bismarck. O medroso bichano miava, ouriçava-se e fugia. Darwin corria em seu encalço, a morrer de rir.
Apavorado, o felino se escondia o mais longe possível de seu dono.
Arrependido da malvadeza, Charles punha-se a procurar o animal. Metia-se debaixo da cama, subia ao telhado, descia ao porão. Ora, Bismarck tinha pavor daquele porão infestado de ratões.
Desiludido e cansado, Darwin ia dormir. Seus parentes se sentiam aliviados. Não suportavam mais aquelas correrias dentro de casa. Ainda matavam aquele maldito gato. E saíam à caça de Bismarck, armados de paus e facas.
Charles Darwin sonhava. Toda a espécie humana se havia transformado em ratos. Menos ele. E Bismarck se agigantara. Parecia um leão. Um majestoso leão preto. O pavor dos raquíticos ratos.
Agora podiam brincar à vontade. O mundo inteiro era um vasto campo aberto a correrias e estripulias.
O naturalista acordava sobressaltado. O gato se aninhava em seu peito, olhos muitos acessos, fugido da fúria humana.
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