A INVISIBILIDADE DAS PULGAS

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Charles Darwin viveu
 seus últimos dias a catar pulgas na própria barba. Paciente busca. Parecia um macaco a se coçar. Parentes e amigos do velho naturalista lastimavam seu estado. Caducava, não havia pulga nenhuma.
Imune do falatório doméstico, Darwin enfiava as unhas entre os pêlos da barba e anunciava a captura de mais uma pulga. E enquanto esmagava, sadicamente, o inseto, explicava: são miúdas, microscópicas, invisíveis, mas assim mesmo provocam coceira.
Às vezes o bichinho conseguia ser mais esperto do que Darwin. E pulava, voava, sumia. Ele se irritava. Se não tomasse cuidado, ia terminar devorado pelas pulgas. Uma peste! E, amargurado, falava da onipresença dos insetos. Viviam e se reproduziam em qualquer ambiente. Até no fundo do mar. Até no interior de sua barba.
Seus parentes ameaçavam raspar-lhe a barba. Chamariam o barbeiro Wallace. Operação indolor e profilática. Darwin se escolhia, protegia a longa barba branca com as mãos. Ninguém tocaria nela. Nem Wallace, nem Lamarck, nem Lineu. Se cortassem sua barba, onde encontraria pulgas? Ora, dedicava-se a elaborar uma nova teoria. Tão revolucionária quanto a da evolução das espécies.
E, irritadíssimo, metia os dez dedos na barba. Comichão interminável! Malditas pulgas!

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