Autor: Josué Adam Lazier
Tito 2.7-8
Introdução
A Igreja Metodista destaca em sua doutrina de missão os seguintes aspectos: testemunho (martiria), que é a razão de ser da Igreja e que se expressa na solidariedade, na evangelização, no discipulado, no apoio, no cuidado, na sinalização do Reino de Deus, etc.; serviço (diakonia), onde todos os membros participam do cumprimento da missão; comunhão (koinonia), fundamental para que a integração entre os diversos ministérios seja pautado no amor, no perdão, no apoio mútuo, na solidariedade, na valorização, no relacionamento e no reconhecimento do dom e do ministério do outro. O ensino é ação ministerial que alimenta estes aspectos da missão da Igreja e prepara a membresia para atuar no cumprimento integral do Evangelho de Jesus Cristo
O texto de Tito 2.7-8 nos inspira nesta linha de reflexão. Ele está num bloco de recomendações ministeriais para a liderança da Igreja. O texto começa com a expressão tu, porém, denotando os contornos do ministério exercido pela liderança (Tt 2.1). A orientação é para que os líderes ensinem em todo tempo a sã doutrina para os diversos grupos presentes na igreja, em destaque os idosos (2.2), as idosas (2.3-5), os jovens (2.6) e os servos (2.9-10). Paulo faz várias recomendações usando esta expressão (I Tm 6.11; II Tm 1.14; 2.1; 3.10; 3.14; 4.5 e Tt 2.1). Elas apresentam as características que devem acompanhar a vida e o ministério daqueles e daquelas que foram alcançados pela graça de Deus.
O ensino cristão
Os falsos mestres que atuavam na igreja desviavam as pessoas do caminho da cruz. Tito deveria contrastar estes ensinos falsos falando da sã doutrina (2.1) e enfatizando o ensino bíblico no seu ministério (2.7).
No meio da relação dos deveres das diversas classes, é destacado o papel da liderança que deve ser padrão das boas obras e ser modelo no ensino (didaquê). Ao usar a palavra grega didaquê, o apóstolo está se referindo as ações de Tito como mestre no Corpo de Cristo. Se os falsos mestres ensinavam doutrinas equivocadas ele deveria ser um mestre que educava os membros da igreja fundamentado na Palavra de Deus.
O vocábulo mestre vem do termo grego didaskalos, que quer dizer “professor”, “mestre” ou “aquele/a que transmite um conhecimento”. Em I Coríntios 12.28, didaskalos aparece como o terceiro dom espiritual de um grupo de três. Era o ofício na Igreja Primitiva de explicar aos outros a fé cristã e providenciar uma exposição cristã do Antigo Testamento[1].
O ensino foi fundamental na preparação dos novos membros para o batismo. Foi fundamental também para a transmissão da tradição cristã, que se constituía das palavras, ensinos e atos de Jesus Cristo. Para a compreensão de muitas coisas que Jesus disse e ensinou o uso do Antigo Testamento foi necessário e determinante. Isso dá evidência de que algum método de ensino foi usado e de que a educação cristã na igreja foi observada com bastante rigor.
Vemos, portanto, que a função de ser mestre é um dom (ou talento) dado por Deus para a edificação do Corpo de Cristo (I Co 12.28, Rm 12.6-8 e Ef 4.11).
Modelo de ensino
Paulo desenvolveu a ação docente na instalação de novas igrejas. Em Colossenses 1.28 encontramos uma tríade paulina sobre a estratégia usada para a edificação da igreja em Colossos: “anunciamos, advertimos e ensinamos”. O primeiro verbo vem do grego kataggélo, que quer dizer proclamar, anunciar. O segundo vem do termo noutheteo, que indica a instrução, recomendação, aconselhamento e admoestação. O terceiro vem do grego didasko e indica a educação.
A ação educativa deveria ser exercida de forma a ser modelo, sobretudo para os mais jovens. Trata-se de uma orientação para todos, pois o “estar apto para ensinar é uma qualidade que todos os homens e mulheres podem desenvolver, para atingirem a maturidade cristã” [2]. Para assinalar a importância do ensino algumas qualidades são relacionadas ao mesmo:
Integridade
Quer dizer ausência de qualquer interesse outro que não a edificação na vida cristã. Integridade vem do latim integritate e significa qualidade de íntegro; inteireza; retidão; pureza; etc [3]. Já o termo íntegro significa inteiro; completo; perfeito; reto; imparcial; brioso; etc [4].
Reverência
Indica o zelo e a seriedade com que o ensino é desenvolvido na vida do líder.
Linguagem sadia
Indica a doutrina dos profetas e dos apóstolos, ou seja, o que foi ensinado e que se constitui na essência do fundamento da Igreja, a sã doutrina, a Palavra de Deus.
Irrepreensível
Denota a prática do ensino, ou seja, Tito não deveria “ensinar aos moços uma coisa e viver algo diferente” [5].
Para que os falsos mestres sejam envergonhados
Os falsos pregadores e mestres, as falsas doutrinas e os adversários da igreja seriam envergonhados diante do ensino e da vivência da Palavra de Deus. Em outras palavras, Tito deveria “combinar uma motivação pura com uma exposição sadia e com um comportamento sério. Isso para que, como Paulo lhe disse, aqueles que se opõem fiquem envergonhados por não poderem falar mal de nós” [6].
Conclusão
A educação cristã é mais do que simplesmente a informação bíblica e o acúmulo de conhecimentos. Implica no ensino prático para atender as necessidades dos membros da igreja, na capacitação para o trabalho, no treinamento para o exercício dos ministérios, etc. Numa igreja ministerial e missionária o ensino é fundamental para o processo de preparação e de envio. Encontramos na Bíblia vários termos que nos apontam para isto. Vejamos:
1. Ensinar – uma palavra muito freqüente no NT é o verbo didasko, que quer dizer ensinar. Ele era usado para referir-se a instrução verbal e prática. Ex.: Mt 4.23, 5.2, 9.35, 13.54, Mc 1.21, 4.1, 6.34, Lc 4.15, 5.3, etc.
“Em Efésios 4.11-16 aprendemos que a principal função dos líderes pastorais do povo de Deus é a capacitação desse povo para a realização dos ministérios (v.12). Nas pastorais, Paulo alista características que devem compor a identidade dos ministros e ministras do Evangelho – todas no âmbito da ética e dos relacionamentos, com exceção de uma, relativa à função ministerial, que é a do ensino da Palavra de Deus em todas as suas dimensões (I Tm 3.1-7; Tito 1.6-9)” [7].
2. Educar – palavra usada para referir-se a educação de crianças (Atos 7.22, 22.3) e no sentido de disciplina e correção (I Co 11.32, I Tim 1.20, II Tim 2.25, Tito 2.12).
3. Aprender – palavra usada para falar do conhecimento já adquirido. Pode ser a capacidade de reconhecer entre o bem e o mal ou capacidade de discernir (Gn 3.22, 39.6, I Sm 28.9, etc.).
4. Conhecer – várias palavras gregas são traduzidas por “conhecer”. Está implícito nesta palavra o conhecimento, a compreensão, o saber fazer ou ser capaz de fazer, etc. (M. 12.33, Lc 12.47, Lc 18.34, I Ts 4.4, etc.).
5. Seguir – palavra que designa o seguimento de Cristo e quer dizer comunhão de vida com Jesus. Seguir a Jesus significa colocar-se a serviço do Reino de Deus. Esta palavra é usada pelos Evangelistas para relatar os discípulos “seguindo” a Cristo. Marcos (3.14) explica melhor o que significa este “seguir”. Ele usa a expressão “andar com ele”. Segundo os Evangelhos, Jesus dedicou mais tempo a seus discípulos, ensinando-os e preparando-os para o cumprimento da missão.
Neste sentido, a educação desenvolvida no ambiente eclesiástico e no lar, o estudo bíblico e a aula na Escola Dominical são atividades que acompanham o carisma apostólico dos diversos dons e ministérios, sobretudo do ministério pastoral.
(Reflexão Bíblica ministrada no culto de abertura do III Congresso Nacional de Escola Dominical)
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[1]. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, vol. II, São Paulo, Editora Vida Nova, pg. 51.
[2]. Getz, Gene A., A Estatura de um Homem (Espiritual), São Paulo, Editora Vida, 1988, pg. 64.
[3].Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Aurélio – Século XXI, Editora Nova Fronteira, 1999, pg. 1121.
[4]. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Aurélio – Século XXI, Editora Nova Fronteira, 1999, pg. 1121.
[5]. Getz, Gene A., A Estatura de um Cristão, Estudos em Tito, São Paulo, Editora Vida, 1984, pg. 112.
[6]. Stott, John, A Menagem de I Timóteo e Tito, São Paulo, ABU, 2004, pg. 196.
[7]. Zabatiero, Julio Paulo Tavares, Um capacitador multidisciplinar, em Barro, Jorge H., org., O Pastor Urbano, Londrina, Editora Descoberta, 2003, pg. 234.
Bispo Josué Adam Lazier
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