Autor: Daniel Costa
Tenho me perguntado o que faz com que o cristianismo que vivemos hoje esteja tão distante, tão longe do Cristo exposto nas Escrituras. Não sei se tenho alguma resposta, primeiro porque não me julgo como modelo de nada, ainda mais de exemplo saudável de vida cristã. Depois porque não tenho conhecimento suficiente capaz de fazer um apanhado e análise, acurados dos fatos, através dos tempos, para compreendermos o caminho que percorremos até chegarmos onde estamos hoje. Porém, tenho uma mente inquieta demais para me contentar com o que estou vendo e preciso arriscar alguma posição ou resposta que pelo menos apazigúe o meu coração.
Para mim a questão reside no foco, no lugar onde concentramos o nosso olhar, onde colocamos a nossa ênfase na vida cristã: A maioria de nós ficou fascinado com a doutrina de Cristo, mas não compreendeu o próprio Cristo, a pessoa de Cristo. O cristianismo não é só uma doutrina é antes de tudo uma pessoa. É impressionante como a maioria dos cristãos sabe o que diz o cristianismo, mas não conhece nada do que foi Jesus, de como ele se portou frente às várias questões da vida. Não conhecem a vida de Cristo.
No Evangelho de Mateus 7:28-29 diz que a multidão estava maravilhada com a doutrina de Cristo, mas não por causa da doutrina em si, até porque boa parte do que foi dito no sermão da montanha por Jesus já tinha sido dito por outros profetas no passado, mas por causa da forma ou da pessoa de Cristo: “Falava como quem tem autoridade e não como os escribas.” James C. Hunter, autor do livro “O Monge e o Executivo”, afirma que autoridade diz respeito a quem você é como pessoa, a seu caráter e à influencia que estabelece sobre as pessoas. Por isso, não se pode comprar, vender, dar ou tomar. Autoridade ou se tem ou não se tem, porque ela é o que você é. Nesse sentido, o cristianismo é um convite para nos encontrarmos com a pessoa humana para depois nos encontramos com a verdade e não o contrário, nos encontrarmos com a verdade para depois encaixar a pessoa humana. Só a pessoa tem autoridade para viver a verdade, mas o nosso cristianismo trabalha a verdade despersonalizada.
Parece que esse é o nosso maior problema: O cristianismo se tornou um encontro com a doutrina cristã e não com a pessoa cristã. Estamos trabalhando para modificar a cabeça, o comportamento, a forma de fazer as coisas e tomar as opções na vida, ou seja, para a construção da verdade. Mas não para mudar o coração, a forma de sentir e ser, ou seja, a construção da pessoa. Doutrina é um conjunto de afirmações e princípios fechados, impessoais, sem qualquer flexibilidade frente às circunstâncias, sem qualquer adaptação frente às mudanças dos tempos, sem qualquer vida, é fria. Mas a pessoa é uma construção, um encontrar-se em meio às circunstâncias, um identificar-se em meio à passagem do tempo. A pessoa pulsa porque a vida pulsa. Ela é, sobretudo, abertura e jamais definição rígida e enclausurada. Eis a razão do porquê é tão fácil encontrarmos cristãos tão cheios de verdade, mas tão mal construídos como pessoas, tão inadaptados à vida. Não encantam com suas vidas nem a si e nem aos outros. No cristianismo de hoje é mais fácil encontrar a verdade cristã do que a pessoa cristã.
O que precisamos entender é que o cristianismo não nasce com uma afirmação doutrinária, mas com uma afirmação de vida: “No princípio era o verbo e o verbo era Deus. E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1:1,14). O cristianismo é essa afirmação de como a pessoa encarna a própria vida, de como a vida encontra um canal de passagem, seja lá quais forem as circunstâncias e, ao mesmo tempo, é a afirmação de que Deus só se manifesta na vida. Não são as verdades cristãs que nos fazem ser cristãos, mas a vida que deve ser vivida de uma forma cristã. Quanto mais nos construirmos como pessoas, quanto mais encarnarmos a nossa própria vida e quanto mais acreditarmos e nos abrirmos para um encontro com Deus pelos variados possíveis caminhos da vida, mais cristãos nós seremos.
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