O corpo que leva para a morte

Autor: Deusdedit Ransam

“Miserável homem  que sou! Quem me livrará do corpo sujeito a esta morte “? Rm 7.24  (NTI)

Pelo que a Bíblia registra em   Gênesis, mais precisamente sobre o relato da  criação, diz  que primeiramente   Deus criou  os animais  e,  posteriormente, para completar  a sua obra, formou o homem. Essa ordem, aparentemente inversa,  a  qual seja  a  de formar o homem  em último lugar,  tinha como objetivo principal   inaugurar o   livre arbítrio   e   o   domínio sobre todas as coisas pela sua  criatura,     porque Deus  o fez “rei de toda a criação,  abaixo apenas  dos santos anjos”.  Desse modo, como um     ser   livre e    inteligente,  cabiam-lhe as  responsabilidades pelas  suas escolhas  e decisões.
Com a perda  da graça pela desobediência (pois  Deus os  fez livres), os nossos primeiros pais  transmitiram para as gerações futuras     uma herança de   dor e de   sofrimentos ao  corpo, e,  pela queda, o que era    perfeito, santo,   puro   e imortal tornou-se  “corpo do pecado”, isto é, escravo  dos caprichos  da maliqnidade, por meio do corpo da morte, sobreposto ao primeiro. O apóstolo Paulo, sentindo essa tragédia, inconformado,   proferiu: “quem me livrará do corpo sujeito  a esta morte?!”   Deus formou o corpo  humano para  prestar  permanente  louvor e adoração  em santidade a ele; agora,  carrega a   sentença de condenação.  O   resquício   divino não  foi suplantado totalmente, demonstrado pela   manifestação dos    sentimentos de  afeição, de  amor  e de  alegria. No entanto,   contrapõem-se a  essas virtudes da alma, o ódio, a   vingança e   outros atos  impuros que  escravizam e   destroem a essência    com que o  primeiro corpo foi   dotado pelo Criador.  
Na providência de Deus, ainda segundo a narração bíblica,  antes  dos mundos aparentes, pairava no tempo da eternidade de Deus uma promessa  que se    destinava    restabelecer o “elo perdido no Jardim do Éden”, rompido pelos nossos pais. Em Cristo,  foi oferecida graciosamente a “Coroa da Criação”, a remissão  e  a restauração do corpo    pela cruz no Calvário, e,  na gloriosa  manhã da ressurreição do Senhor Jesus, seu corpo transforma-se em corpo celestial restaurando o primeiro  Adão, do Éden. Esta  a  nossa esperança! Mas,  enquanto o nosso viver se limita no viver  na carne,  mesmo “como nova criatura”, se sujeita   aos  caprichos desvairados  por causa “do corpo que nos leva à morte”. Por estas e  por outras razões, faz com que   as nossas  mãos  se levantem aos céus e  manifestem  o mesmo   clamor proferido por Paulo,”QUEM ME LIVRARÁ DO CORPO SUJEITO A ESTA MORTE?”
Entre os castigos infligidos  aos condenados, fora  da crucificação,  também  havia uma outra penalidade, muito mais cruel  e horrenda, qual seja, a  de amarrar corpo a corpo, face a face, membro a membro com a sua vítima. Desse modo, a morte  lentamente ia corroendo o corpo vivo pelo contato direto do corpo  morto, impondo morte horrível ao próprio assassino.    Verdadeira ou não a interpretação que é dada para o  texto acima pelos comentaristas bíblicos,  ilustra a nossa real situação. Temos amarrado em nosso corpo um corpo que está sobreposto ao nosso, que nos leva à morte lenta, agonizante, implacável . Porém Deus, em Cristo, pela graça  misericordiosa, livra-nos desse horrendo corpo do pecado amarrado em nós. Eis, aí, portanto, a mensagem  gloriosa  daquela manhã da ressurreição do Senhor Jesus.
Há de ser considerado que, no  texto paulino, há   um clamor da alma que  almeja as preeminências  de Deus em favor do corpo para remover a sentença de morte que pesa sobre ele, “porque é pelo corpo que se peca e a morte   é critério de juízo”.Ainda  no dizer de Paulo, fica claro que  é “pelo corpo que se faz a vontade de Deus e na ressurreição  recebermos corpo propício para isso”. Isso nos leva a crer que em  um mesmo corpo  duas  situações se encontram latentes e que levam a dois destinos diferentes. Como o livre arbítrio é marca  da Divindade, o ser humano tem diante de si a escolha do seu próprio destino. É fora de dúvida que o melhor caminho se encontra nas sábias palavras de Paulo, ao dizer: “esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita”.

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