Autor: Ronan Boechat de Amorim
A necessidade de um testemunho do evangelho de Jesus em tempos de novelas que promovem candomblé e esoterismo, e de músicas que dizem que bater em mulher não dói.
Pouco tempo depois de vir estudar e morar no Rio, Juscelino começou a trabalhar no Instituto Médico Legal. Na sua primeira semana de convívio com corpos e autópsias, vivia enjoado; ele não podia comer nada que sentia enjôo e ânsia de vômito. Seis meses depois, com uma mão ele mexia num cadáver e com a outra comia um sanduíche.
A convivência, a repetição e a experiência de contato contínuo nos fazem acostumar com as coisas. Assim, nos acostumamos à poluição, praia poluída, trânsito engarrafado, longas filas, fumaça de cigarro, violência na TV e ao nosso redor, etc… Como no caso do Juscelino, aprendemos a conviver com a coisa toda e, para sobrevivermos, até nos acostumamos com o que nos causa repulsa. A televisão vive de vender coisas e de instigar as pessoas para comprar o que há para ser vendido. Ela vende o que tem para se vender e vende a quem quer comprar. Se querem comprar leite é leite que ela vende. Se querem comprar bebida é bebida que ela vende. Se querem vender leite é leite que ela vai vender. Se querem vender bebida é bebida que ela vai vender. A televisão tem o poder de convencer as pessoas a comprar o que ela tem pra vender.
Aliás, além de vender, ele faz propaganda do que tem para ser vendido, convencendo as pessoas que elas têm necessidade de comprar o que ele está vendendo. Para isso associa cigarro com corpo dourado e sensual de mulher bonita, juventude com certas vestimentas, etc… Seus anúncios (explícitos nos comerciais ou implícito nas novelas) convencem as pessoas que elas têm necessidade disso ou daquilo; que só serão felizes se fumarem tal cigarro, se beberem tal refrigerante, se comprarem em tal supermercado. De forma que, não fumar o tal cigarro, não beber o tal refrigerante ou não comprar no tal supermercado é não estar na moda, é ser desatualizado, infeliz.
Sabidamente a TV Globo é líder de audiência e entra diariamente na casa, na família e na vida de milhões de brasileiros. Particularmente suas novelas não são apenas diversão, mas um instrumento pelo qual vende-se produtos, serviços e idéias. Tanto de forma positiva (as crianças desaparecidas, doação de órgãos, prevenção da AIDS, conscientização sobre a leucemia, etc…) quanto negativa (apologia do homossexualismo, troca indiscriminada de casais, idiotização da família e da vida conjugal, sincretismo religioso, promoção de vícios, banalização da violência, culto ao estereótipo, exploração de preconceitos, sexismo), as histórias das novelas questionam valores, destróem valores e fazem com que novos valores, bons e maus, surjam.
Para isso usa o carisma de atores e atrizes bonitos e famosos. Na novela LAÇOS DE FAMÍLIA, por exemplo, promovia-se a promiscuidade como “algo normal” na vida das pessoas e casais. Agora, num gesto de desprezo ao seu público evangélico (ou simplesmente apostando na indiferença dos evangélicos!), a TV Globo promove abertamente o candomblé na novela PORTO DOS MILAGRES, com direito a musica tema dedicada a “Iemanjá”, na voz de Gal Costa. E lá estão profissionalismo, recursos tecnológicos, muito dinheiro e artistas muito queridos pelo público como Marcos Palmeira, Letícia Sabatela, Flávia Alessandra e Antônio Fagundes dando vida, conteúdos e realismo à história.
Como se não bastasse vem aí uma nova novela, a ESTRELA GUIA, onde a jovem cantora Sandy, vai estar emprestando seu prestígio e fama à personagem Cristal, numa história que promove o esoterismo. Será, infelizmente, apenas um trabalho para ela e certamente muito lucro para a TV Globo e seus patrocinadores. Mas com certeza estará influenciando e arrastando milhares de pessoas, particularmente seus fãs adolescentes, para uma espiritualidade mágica que se opõe radicalmente ao Evangelho de Jesus.
Como na história do Juscelino que se acostumou com os cadáveres e autópsias no Instituto Médico Legal, de tanto ouvir a música dedicada à Iemanjá, as pessoas logo, logo, vão estar cantarolando a música e tornando mais popular, mais “comum”, mais “normal”, mais plausível e automaticamente mais aceitável, tanto o rito quanto a fé do Candomblé. Além dos comerciais que acontecem ao redor da história, a Globo está “vendendo” ao povo brasileiro o Candomblé como religião e o esoterismo como espiritualidade.
O compromisso da TV Globo é com seus anunciantes e patrocinadores, ou seja, com seu faturamento. O compromisso dos autores de novelas, roteiristas, diretores, atores, etc… é com o IBOPE, é com os interesses da emissora de TV, mas é também com suas crenças e valores pessoais. Mesmo que sejam crenças e valores que afrontam o Evangelho de vida, solidariedade, respeito e justiça. Como nós evangélicos testemunhamos nossa fé evangélica, um autor das novelas em seu trabalho “puxa a brasa para a sua sardinha”. E aparentemente a maioria dos atuais autores de novelas e “poderosos” da TV Globo são agnósticos, esotéricos ou do candomblé.
Infelizmente as pessoas estão sedentas de rumos e ao mesmo tempo cansadas de compromissos e sem grandes causas pelas quais viver. Cazuza já cantava que seus heróis morreram de overdose. Alex Lexa, do grupo Pagod’art, autor do pagode “Tapa na Cara”, e MC Naldinho, autor do funk “Tapinha não dói”, jogam no lixo, por exemplo, 30 anos de luta pela dignidade e direitos das mulheres. Nesses tempos de crise bater em mulher parece ter se tornado uma boa maneira de tirar um grupo de pagode e um funkeiro do anonimato. É a banalização da vida.
Com certeza as maiores vítimas estão na juventude. São particularmente os adolescentes. Adolescentes de comunidades pobres e portanto sem perspectiva de futuro e de vida e os adolescentes da classe média são os maiores fãs de Sandy e da onda funk. Segundo reportagem recente da revista ISTO É, são esses adolescentes que procuram nos bailes da periferia uma emoção e algum sentido para suas vidas aparentemente sem sentido e vazias. “Mente vazia, diz o ditado, é oficina do Diabo”.
Não se trata de um preconceito contra o ritmo funk nem por ser um movimento musical que vem da periferia. Não é porque vem da periferia que é ruim ou bom. Trata-se de uma crítica a esse movimento “cultural” e aos conteúdos e valores que ele prega, como por exemplo, erotismo, sexismo, machismo, banalização da violência, culto ao estereótipo e não poucas vezes, apologia ao crime e às drogas.
Mas deixemos de lado o contexto onde as novelas acontecem e voltemos propriamente a nossa questão. O que fazer? É possível que isso seja indiferente até para alguns cristãos: “é só cultura afro-baiana!”, podem pensar. É possível que alguns evangélicos nem queiram saber de nada, num evidente descompromisso: “Não vejo, não sinto, não me diz respeito, não tenho nada com isso!” Talvez não… Alguns, reafirmando a tal liberdade de escolha e que ninguém é obrigado a ver essas novelas, perguntam: “Por que simplesmente não mudar de canal ou desligar a TV?”. Talvez esse seja um bom conselho. Mas infelizmente não basta. Pois para mudar de canal ou desligar a TV é preciso ter um mínimo de senso crítico, será que estamos preparados para essa atitude? Ao longo dos anos fomos educados para sermos escravos comportados, mão-de-obra barata e massa de manobra, o que não ajudou aos brasileiros em nada sobre consciência crítica e mais precisamente sobre cidadania.
Infelizmente a Igreja ficou muda. Mas felizmente cremos num Deus que faz os mudos falarem. Profetiza, Igreja! Abre sua boca. Sem profecia o povo perece! O povo está cansado de moralismos. Precisa mesmo do Evangelho vivo do Senhor Jesus.
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