O natal de Cristo…

Notícias não confirmadas dão conta que alguém poderia tomar o poder do Palácio Central. O Mandatário Mor que está no poder e se mantem no poder da forma mais cruel possível já mandou a polícia secreta investigar do que se tratam esses boatos que causam tanto frisson no povo. Chegam a dizer que um novo libertador está para nascer e que ele é o Messias esperado para conduzir a nação num levante contra o estado opressor.

Alguns sinais estranhos estão acontecendo. Dizem alguns que ele nascerá de uma virgem e que ele virá com uma missão especial. Há alguns dias surgiu no céu uma luz que não se apaga. Segundo apurou esse repórter pensa-se que ela indica o local onde deverá nascer o Menino.

As suspeitas de que o Menino nasceu são confirmadas por uma estranha comitiva de dignitários do exterior que se dirigiram ao Palácio Central. Trazem grandes quantidades de bagagem que devem ser presentes ao chefe do governo.

Para a surpresa de todos, os estrangeiros deixam o palácio carregando seus presentes e se dirigem a uma vila humilde chamada Belém. Segundo relatos dos moradores e pastores da região eles foram a um lugar bem pobre e encontram um Menino e a ele deram todos os presentes. Esse fato levantou suspeitas não somente do governo local, mas também do governo opressor.

Uma comissão instituída pelo governo romano tenta apurar a razão desses recursos vindo de outro país e porque os mesmos não foram declarados na entrada ao país. O inusitado é que o dinheiro foi entregue a um menino pobre, nascido em uma manjedoura.

As pessoas, nas ruas e no comércio, indagam: – Como isso é possível? Esse menino deve ser uma laranja, pois que ligação tem ele com esses investidores de um país tão distante?

O Mandatário Mor está preocupado, pois crê piamente que essa é uma tramoia para tirá-lo do poder. Esse dinheiro deve ir para o caixa dois de campanha do Menino. Falam até na construção de um reino. Todavia, preocupado em manter bons relacionamentos com dignitários do exterior pediu que os mesmos ao retornarem ao país de origem passem no Palácio Central e deem um relatório dessa visita.

Certamente, os membros do congresso não vão deixar isso dessa forma e já articulam com o governo central a liberação de verbas especiais para melhorias de suas regiões e, já acionaram a coletoria para investigar a origem dos recursos que o menino recebeu e se o Menino declarou isso no seu imposto.

A situação está complicada e a imprensa já chama o caso de Natalão.

O palácio do governo está furioso com a notícia do sumiço dos dignitários estrangeiros. O cerimonial do governo havia preparado um grande banquete com as mais finas iguarias do país para receber os convidados e também ouvir sobre o tal do novo rei que havia nascido.

Todavia, toda essa despesa foi inútil e o pior é que certamente a oposição entrará com um pedido no congresso para explicar tal gasto. Segundo informações apuradas pelos repórteres, a comitiva dos magos resolveu partir mais cedo e por outra rota que passava distante do palácio.

Essa fuga repentina levantou suspeita no palácio. A oposição deve estar por detrás desse conchavo e é preciso impedir que ela cresça. A busca pelo tal Menino vai ser intensificada e assim que ele for encontrado será processado por ter começado a campanha eleitoral antes do prazo previsto e ainda o uso de recursos do exterior, o que é proibido pela legislação do país.

O governo acaba de enviar um esquadrão da polícia secreta para vigiar os pontos mais importantes do templo sagrado. Tudo isso porque recebeu informações sigilosas de que o Menino será apresentado aos sacerdotes conforme manda a tradição religiosa de seus pais.

O governo, além da competência da polícia secreta, espera contar com um pouco de sorte, pois há muitos meninos sendo apresentados. A pista a ser seguida são as vestimentas reais que ele deverá usar para tal ocasião. Deverá também chegar com um carro especial com seguranças do seu reino. Por isso, agentes também farão guarda nos principais estacionamentos do templo.

Notícias ainda não confirmadas dão a entender que a polícia secreta falhou em deter o Menino. Por razões ainda desconhecidas ele não foi identificado. Fontes abordadas indicaram que ele foi apresentado numa ala mais humilde do templo e com isso conseguiu burlar a vigilância do governo.

O Ministro da Segurança Nacional mandou chamar o chefe da polícia e exige relatório completo das atividades. Quer saber onde foi a falha na detenção do menor. O governo central fica cada vez mais preocupado, pois parece que a rede de apoio ao Menino é mais forte do que se pensava.

Dois velhos – um homem e uma mulher – foram detidos para interrogatório, pois segundo fontes do governo eles fazem parte dessa rede secreta. Ainda segundo esses relatos, o velho chegou a dizer para que todos ouvissem que o Menino era a luz para iluminar as nações, e glória de seu povo. O governo teme que o povo comesse a acreditar que o Menino é de fato um libertador.

Essas palavras ofenderam o Mandatário Mor e ele não aceita outra coisa que não seja a detenção desse pequeno rebelde.

Notícias vindas da cidade de Belém não são nada animadoras para o Palácio Central. Informantes do governo dão a entender que o Menino está planejando uma fuga, pois seus pais temem por sua vida.

O Mandatário Mor mandou chamar seu Ministro de Diplomacia Exterior para dar ordens expressas que não se emita passaporte a nenhum menino nascido em Belém. Além disso, pediu que a polícia monte guardasse as fronteiras e não deixasse nenhuma família com meninos pequenos sair da Palestina.

Com essas atitudes crê que bloqueará todas as opções que o Menino tem e que finalmente será aprisionado.

Também foi noticiado no Jornal Palestino que quem der guarida ou qualquer tipo de ajuda ao Menino será processado em toda a extensão da lei. O povo está com medo do que pode acontecer na região de Belém.

Notícias vindas de fontes anônimas dão a entender que o Menino não está mais na Palestina. Pessoas testemunham que com a ajuda de alguns sitiantes ele e sua família cruzaram a fronteira e estão agora no Egito.

Espera-se dentro de alguns dias que eles compareçam perante as autoridades daquele país e peçam asilo político. Os recursos trazidos pelos magos do exterior serão usados para as primeiras despesas da família.

O Palácio Central já sabe desse ocorrido e segundo informa irá pedir que as autoridades egípcias extraditassem o Menino o mais breve possível para que ele seja formalmente acusado de traição e levante contra o governo.

Os habitantes de Belém e região estão preocupados. A crueldade do Palácio Central é sem limites e eles temem alguma vingança que ficará na história. Muitos começam a abandonar suas casas, mas temem que já não haja mais tempo para fugir.

Enlouquecido pelo descaso dos Magos, a espetacular fuga do Menino e a recusa ao pedido de extradição o Palácio Central sentindo-se humilhado e ofendido em sua honra cometeu uma grande atrocidade. A ordem dada aos soldados era bem clara: todos os meninos na vila de Belém abaixo de dois deveriam morrer ao fio da espada.

A ordem foi executada com requintes de crueldade. Famílias choram e enterram seus filhos mortos. Governos aliados do Palácio Central quando questionados sobre o ocorrido negam que o fato tenha acontecido e que tudo não passa de intriga da oposição para derrubar o atual regime.

O Menino está a salvo nesse momento, mas segundo informam as pessoas que estiveram com a família ele retornará para cumprir a sua missão.

ACBarro, reporter especial

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