Autor: Isaltino Gomes Coelho Filho
Culinariamente não dá mesmo. A batata deve ser descascada e cozida ou frita. Alface não. Com sal e um bom azeite português por cima já está boa.
O título vem de uma observação de Peter Kreeft, catedrático de filosofia no Boston College e no King’s College, no livro “Jesus, o maior filósofo que já existiu”. No capítulo “A antropologia de Jesus”, ele diz: “O liberalismo secular (termo enganoso, pois não é realmente libertador)… nega a realidade do pecado pessoal e acha que o homem é um pé de alface, não uma batata. A alface apodrece de fora para dentro; a batata, de dentro para fora. Por essa razão, a solução dele é sempre uma solução ‘alface’: façamos isso ou aquilo, melhoremos o ambiente social, coloquemos algum dinheiro nas estruturas sociais ou condicionemos as pessoas com uma educação melhor. Eles são como os fariseus que limpam o exterior, mas ignoram a podridão interior (Mt 23.25,26). Alguém definiu o liberal como aquele que exige o direito de respirar ar puro para que possa proferir palavras sujas” (p. 83).
Esta definição de liberal me lembrou alguns grupos que exigem direito de expressão e, atingindo o poder, negam este direito aos seus discordantes. Desde grupos políticos a minorias sexuais, criando a ditadura da minoria. Como gente que lutou contra o regime militar brasileiro e apóia a ditadura mumificada cubana. Seria interessante traduzir “Cálice”, de Chico Buarque, e cantá-lo em Cuba, na China e na Coréia do Norte. As múmias no poder, nestes países, permitiriam? Há gente que exige liberdade de expressão e exige restrições a quem não aceita sua posição. Como fizeram com a psicóloga Rosangela, perseguida pela Gaystapo.
Voltemos à batata e alface. O problema do homem é mais que questão ambiental, cultural e social. É interno, de raízes. Não é um problema alface, mas um problema batata. O mal não é externo, mas interno no homem. Deus disse isso claramente: “Porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8.21). E Davi corroborou: “Eis que eu nasci em iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). O róseo e cheiroso bebê já tem o pecado potencialmente dentro de si. E este se manifestará no seu tempo.
Chesterton ironizou os pregadores liberais de Londres, que criam na santidade de Deus e na bondade dos homens: “Admitem a ausência de pecado em Deus, que não podem ver nem em sonhos. Mas eles essencialmente negam o pecado humano, que eles podem ver na rua” (“Ortodoxia”, p. 27). O pecado está diante dos olhos, nas ruas, na tevê, na Internet, em nossas atitudes. Crer na bondade humana e crer que nossos problemas são externos é ingenuidade. Mais educação, melhor distribuição de renda, melhores condicionais habitacionais, mais lazer, tudo isso é bom. Eu mesmo quero mais educação, mais renda, casa melhor (embora a minha seja muito boa) e mais lazer para mim mesmo. Mas meu problema maior é o pecado que habita em mim. Faço minhas as palavras de Paulo: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7.19,20).
Infelizmente o pecado sumiu da pregação contemporânea. Muito púlpito trocou a Bíblia pela auto-ajuda. A preocupação não é anunciar todo o conselho de Deus, mas fidelizar clientes, e pecado não dá ibope. Não podemos fazer teologia e pregar o evangelho esquecendo-nos da doutrina da queda. Ela é básica para uma visão correta do mundo. O homem não é uma alface, mas uma batata. Seu problema é interno. Sua podridão não é social, mas pecaminosa. Que a igreja não deixe isso de lado.
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