Autor: Juarez Marcondes Filho
Mordomia tornou-se uma expressão negativa, uma palavra para qualificar benefícios indevidos, fruto de algum tipo de corrupção. Por outro lado, a figura do mordomo ficou vinculada ao personagem caricaturizado pelo cinema, de olhar empinado, trajado com vestes nada convencionais. No entanto, as Escrituras Sagradas falam sobre mordomia com bastante freqüência, apontando para a necessidade de sermos “bons mordomos” (Lucas 12.42).
Hoje, preferimos falar mais em termos de administração do que em mordomia. Ambas têm a mesma origem. No Novo Testamento, a palavra “oikonomía”, ora é traduzida como “mordomia”, ora, como “administração”; a tão usada expressão “economia” vem desta mesma palavra.
Tudo aqui gira em torno de “oikía”, que quer dizer “casa”. “Oikonomía” é o cuidado com as coisas relativas à casa. O “oikonómos” (mordomo) era o responsável por tudo o que dizia respeito à casa, desde o suprimento da despensa, até o cumprimento das tarefas de todos os funcionários. O dono da casa confiava a ele toda a responsabilidade pelo bom andamento das coisas.
A mordomia era uma tarefa extremamente exigente. Ao contrário do conceito atual, que vê na mordomia o usufruto de infindáveis confortos, o conceito bíblico confere ao mordomo muito trabalho. Ele era o primeiro que acordava e o último a dormir. Ao mesmo tempo em que distribuía as tarefas aos conservos, tinha também que ser o modelo, ensinando por meio do seu próprio expediente o como fazer o trabalho. Além disso, era dele que o dono da casa cobrava os resultados.
O mordomo detinha todas as chaves da casa para o desempenho do seu serviço, no entanto, sabia perfeitamente que nada lhe pertencia. A sua mordomia se constituía em cuidar das coisas que não lhe pertenciam. Provavelmente é aqui que muitos administradores públicos tropeçam, olvidando de que foram incumbidos de cuidar de coisas que dizem respeito à população, e não de seus interesses pessoais.
Nesta matéria acha-se implícita a prestação de contas. Ainda não alcançamos a profundidade do que Jesus quis dizer com a frase: “Àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido” (Lucas 12.48). Havia mordomos e mordomos. Conforme o tamanho da casa, o número de empregados, as necessidades diárias, esperava-se que o mordomo pudesse atender às expectativas. Suas habilidades naturais para o encargo deveriam ser desenvolvidas através de um sério programa de qualificação permanente. A linguagem é contemporânea, mas o princípio é bem antigo.
Tudo o que dissemos até aqui é aplicável indistintamente a todos os filhos de Deus. Somos mordomos dos dons e talentos que Deus nos conferiu e a ele haveremos de prestar contas. Se o Senhor nos deu determinado dom espiritual, ai de nós se não o usarmos para o progresso do Reino e para a glória de Deus. Se Deus nos abençoou com recursos materiais, ai de nós se não investirmos com fidelidade na Causa de Cristo.
Tudo é do Senhor (Salmo 24.1) e ele nos constituiu mordomos dos seus bens. Deus nos confiou as chaves da casa. Devemos trabalhar com afinco e determinação para o engrandecimento do seu nome.
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