Autor: Roberto Costa de Oliveira
Essência: Deus está conduzindo um plano na história, e chama aos seus a integrarem seus propósitos como co-participantes, com tudo o que são e têm.
A vida profissional e empresarial de um cristão sempre começa com sonhos pessoais, muito freqüentemente no final da infância e adolescência. São de origem genuína e bela, misturados com motivações egoístas e de auto-promoção. É o desejo de ser importante, de realizar, de servir, de fazer diferença, de vencer, de ser bem-sucedido. É pensar no futuro e o que você vai ser quando crescer. Quem não se lembra sentado, com a cabeça nas nuvens, imaginando e sonhando?
Deus também sonhou ao criar o universo. E, com o seu poder, expressou seu sonho na criação em forma de harmonia, amor, beleza, paz, realização, e prazer. Tudo isto tem a ver com seu propósito na criação do homem.O que Deus quis quando me criou? Qual o plano de Deus para a minha vida? Muita frustração, desmotivação e curto-circuito (stress) advém do fato de não termos feito esta pergunta. Ou de a ter feito, de ela ter sido respondida, e não estar agindo no centro da vontade de Deus. A grande frustração da existência humana é não agir no centro da vontade de Deus. Isto gera um sentimento de não se estar atingindo o alvo, de viver correndo atrás do vento. Salomão, um rei mais rico do que Bill Gates, muito mais sábio do que Freud, Marx e Sartre juntos, mais poderoso que qualquer presidente americano, ao final de sua vida arrazoou: atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento (Eclesiastes 1:14). Ele descreve aqui justamente a existência vazia, sem sentido. Como para explicar em contraponto, o matemático e filósofo francês Blaise Pascal escreveu: No interior do homem existe um vazio tamanho Deus, que só pode ser preenchido pelo próprio Deus.
Estamos falando portanto de vocação humana. Vocação que se origina do latim vocare, chamar. Deus é quem chama ao homem e o envia a fazer algo com sentido e significado. Tudo se origina de um plano de Deus, algo que Ele tem no seu coração, na sua mente. Senão vejamos:
Depois de criar o universo físico, vejam só o problema com que Deus se deparou:
Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o Senhor Deus os criou. Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo (Gênesis 2:5)
Deus mal tinha terminado a criação, e já não tinha um ser semelhante, inteligente, sensível, capaz de cuidar dela. Como Ele resolveu este problema?
Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra… (Gênesis 2:7) Tomou pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar (Gênesis 2:15)
Nós fomos criados para cultivar e guardar a criação de Deus! Lavrar lavoro labor trabalho! Isto está no nosso propósito original da criação antes da interferência do pecado. Na minha rica herança fundamentalista (presbiteriana / batista / metodista), eu fui educado com a idéia de que Deus nos criou para no futuro nos tornarmos como anjos, tocando harpa e cantando. Muita gente pensa que o trabalho é conseqüência do pecado, que veio depois do pecado como maldição: não é verdade. O trabalho é bênção! E está intimamente ligado à razão porque fomos criados! O homem se realiza na medida em que cumpre os desígnios do Criador. Por isto podemos trabalhar duro, usando de todas as nossas faculdades físicas e intelectuais ao máximo, porque para isto elas foram dadas. O stress veio depois, com a queda do homem em pecado, ocasião em que Deus afadigou o trabalho:
maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra… (Gênesis 3: 17-19)
Justamente o sacrifício de Jesus na cruz foi feito para reverter o homem à condição original, incluindo sua perspectiva de vida e trabalho. Como escreveu Paulo:
…havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus. (Colossenses 1:20)
Sim, o sangue de Jesus na cruz nos traz paz com Deus, na dimensão pessoal, e isto é o nosso grande tesouro. Mas a reconciliação não é só a pessoal: na cruz, Ele estava reconciliando consigo mesmo todas as cousas, toda a criação caída: pessoas, animais, plantas, peixes, mares e florestas, e não só sobre a terra – todo o cosmos. Jesus realizou na cruz uma reconciliação cósmica. E isto inclui o trabalho, a volta ao sentido original do trabalho. Ao nos tornarmos cristãos, isto passa a ser parte integrante da nossa missão: resgatar a bênção original do trabalho.
A cultura latina está tão impregnada com a idéia de trabalho-maldição que a própria palavra trabalho vem do latim tripalium, que é um instrumento de tortura de presos. Já notaram que muitos e muitos se sentem presos e torturados ao trabalhar? Um dia presenciei uma cena chocante: a abertura dos portões da Volkswagen na sexta à tarde: parecia que os trabalhadores estavam sendo libertos da tortura para a liberdade, parecia que estavam abrindo a porta da gaiola para os passarinhos voarem. Eles se deixavam prender e torturar por toda a semana, para viver quando estivessem livres no fim-de-semana.
Certa vez eu falei que o trabalho era uma bênção a um velhinho presbiteriano na cidade de Campinas, ao que ele replicou: que nada, meu filho, o trabalho é a maldição de Deus por causa do pecado do homem. Depois que lhe mostrei esta passagem em Gênesis 2, com o plano original de Deus para o trabalho do homem, aquele ancião ficou transtornado, e até pensei que ia me bater, e me disse: Só agora, meu filho, no fim da minha vida, você vem me mostrar que o trabalho é bênção? Trabalhei todo o tempo com a idéia de que era maldição!
Já notaram também que as Escrituras não têm aposentadoria? Não temos nenhum homem de Deus do qual se diz: e aposentou-se Abraão, Moisés, Josué, Paulo, depois de muito trabalhar na vida. Pelo contrário: não temos nenhum homem de Deus que pára de trabalhar, pendura a chuteira e passa somente a gozar de bens acumulados. Davi, por exemplo, já velhinho, dormindo com a bela moça Abisague para se aquecer, reinava a pleno vapor a ponto de enfrentar um golpe de estado do seu filho Adonias, para depois ungir Salomão, dar todas as instruções a ele e finalmente morrer. Assim como Davi, todos os homens de Deus nas Escrituras, foram produtivos até o último momento de suas vidas.
O sonho de muitos é acumular riquezas tais que não precisam mais trabalhar. A partir deste momento seria só passear, desfrutar dos bens acumulados e cultivar a ociosidade. Tenho um amigo que aos 45 anos chegou a este ponto, de não ter mais que trabalhar. Pessoas que assim dirigem suas vidas vão ficar desapontadas com a ausência da benção do trabalho, e muitas morrem prematuramente.
Vocare – Abraão
Deus cria e chama o homem para um determinado propósito. Vejam o caso de Abraão: Ele tinha um plano em mente, quando veio a Abraão, aos seus 75 anos de idade e disse:
Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção: abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis 12:1-3)
O plano de Deus era ousado, milagroso: tomar um homem e sua mulher estéril, ambos em idade avançada, e fazer dele uma grande nação. E o fez. O que Ele tem em mente nunca deixa de se tornar realidade, afinal Ele é Deus todo-poderoso. Percebam que a missão de Abraão não era basicamente espiritual: era administrar uma terra, receber a bênção do Senhor e formar uma grande nação que lhe fosse fiel. A Abraão só caberia obedecer. E ele o fez. Ele levou a sério aquele mandamento curto e doce: Sê tu uma bênção: aos 135 anos de idade, quando procurava um túmulo para sepultar Sara e pediu aos seus vizinhos heteus, eles respondem descrevendo a vida de Abraão:
Tu és príncipe de Deus entre nós; sepulta numa das nossas melhores sepulturas a tua morta; nenhum de nós te vedará a sua sepultura, para sepultares a tua morta. (Gênesis 23:6)
Então Abraão, estrangeiro e peregrino naquela terra, passa a possuir o primeiro imóvel naquela terra, uma sepultura para Sara, que existe até hoje em Hebrom, sob uma mesquita maometana. Abraão levou a sério o Sê tu uma bênção, e foi um exemplo concreto daquele homem descrito mais tarde por Davi:
Bem aventurado o homem cuja força está em ti, e cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial; de bênçãos o cobre a primeira chuva (Salmo 84: 5,6)
Vocare Moisés
Vejam o caso de Moisés. Deus tinha um problema, descrito da seguinte maneira:
Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. E viu Deus os filhos de Israel, e atentou para a sua condição. (Êxodo 2: 23-25)
Esta é uma linguagem antropomórfica (para que o homem entenda). Não que Deus estava ausente e de repente ouviu o clamor de seu povo, e só então se lembrou da sua aliança. Na verdade, Ele, na sua soberania e onisciência, já estava preparando um homem há 80 anos para execução de seu plano de retirada do Egito! Deus já havia construído nele a sensibilidade, a vontade e o caráter para a missão que agora se descortinava. 40 anos ficou Moisés sob a influência de sua mãe (em tenra infância) e da princesa egípcia que o recolheu do rio. Para que sua formação fosse completa, ficou mais 40 anos agora sob a influência de um homem, seu sogro Jetro. Estava pronto para ser chamado e enviado. Então o próprio Deus apareceu a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3 e 4), se apresentou Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão…, falou de Seu problema Certamente vi a aflição do meu povo, que está no Egito… e lhe falou bem claramente Seu plano e sua missão: Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito.
E qual foi a reação de Moisés? Bem humana, comodista, medindo suas próprias capacidades, e não as de Deus. Ele começou dizendo: quem sou eu, para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel? Depois que Deus lhe disse que seria com ele, ele retrucou pela segunda vez: e se… eles me perguntarem: qual o seu nome, que lhes direi? Ao que Deus lhe respondeu reveladoramente: EU SOU O QUE SOU, e lhe disse que vai executar o seu plano por cima de pau e pedra. Pela terceira vez então Moisés retruca, mostrando um lado pessimista de sua personalidade: não crerão nem acudirão à minha voz, pois dirão: o Senhor não te apareceu. Então Deus faz dois milagres para dizer que, quando envia, dá poderes e capacidades especiais. Ainda assim Moisés argumenta pela quarta vez avaliando suas limitações, novamente olhando para si e não para Deus: eu nunca fui eloqüente… pois sou pesado de boca e pesado de língua (isto é, gago). Deus então diz que fez a boca do homem e serei com tua boca. Então Moisés diz que não está disposto a obedecer: Ah, Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim. Quem sou eu, eu não tenho nome famoso, não crerão em mim, sou gago, e não vou! Neste ponto do diálogo, se acendeu a ira do Senhor contra Moisés…, e a cena seguinte é de Moisés com mulher e filhos caminhando para o Egito.
Quando Deus chama e envia, as limitações da pessoa chamada e enviada são irrelevantes: é o próprio Senhor do Universo que tem um plano e quer colocá-lo em prática através do homem. Ele poderia executar seu plano através de anjos, ou através de uma voz vinda do céu, com sinais e estrondos, bastaria um piscar de olhos seus, mas não Deus usa homens.
Vocare Josué
Quando Deus chama a Josué, ele estava com medo. Moisés, que havia liderado o povo de Israel na saída do Egito, agora estava morto. O bastão foi passado para Josué, que se sentia inseguro e fraco. Veja como Deus fala com ele:
Moisés meu servo é morto. Dispõe-te agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé vo-lo tenho dado, como eu prometi a Moisés…
Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo: não te deixarei nem te desampararei. Sê forte e corajoso…
Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares (Josué 1: 2-9)
Josué tinha uma tarefa delegada nada espiritual: era fazer o povo atravessar o rio Jordão, conquistar a terra e matar os inimigos do outro lado ao fio da espada. Quer tarefa mais secular e laica? Deus só chama obreiros de tempo integral, missionários, pastores? Não! Ele tanto chamou Neemias, governador de Jerusalém, para reconstruir os muros, como chamou seu contemporâneo Esdras, o sacerdote, para ensinar o povo a sua lei.
Aterrissagem
O que Deus me colocou para cultivar e guardar como ele colocou o Éden a Adão?
Como obedecer na minha vida o imperativo sê tu uma bênção, que ele deu a Abraão?
O que significa hoje, aqui e agora o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vem, agora e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito?
Que lugar é este que Deus quer que eu vá, quando diz dispõe-te agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé vo-lo tenho dado, como eu prometi…?
Deus nos está chamando hoje para administrarmos seus negócios, para sermos profissionais e empresários dele. O que lhe interessa é a reprodução com fidelidade do seu ser, a extensão do seu Reino, na terra corrompida pelo pecado. Este é o seu plano hoje, é o que está em sua mente.
O que Deus quer fazer através de estudantes, profissionais e empresários hoje? Qual o Seu plano? O que significa este chamado praticamente, hoje? Vamos aterrissar nossos princípios no aqui e no agora e quando fazemos isto podemos experimentar turbulência e o choque do trem de aterrissagem com a pista de pouso, mas não podemos ficar só nos princípios bíblicos. Estes princípios e chamados estão presentes hoje, aqui e agora. Temos desafios estudantis, profissionais e empresariais enormes, que Deus quer que enfrentemos.
Vivemos em um contexto de muita competitividade, em que o egoísmo individual e coletivo está exacerbado ao máximo. Nossa resposta como cristãos é exatamente o contrário: mostrar amor e desprendimento.
Especialmente com as crises econômicas sempre presentes, ultimamente eclodindo no Sudeste asiático, depois na Rússia, depois na Argentina, e se espalhando pelo mundo; ataques terroristas e guerras santas e econômicas; a ansiedade alcança o pico. Contrastamos isto com fé inabalável no Condutor do universo.
Onde a desonestidade é um modus vivendi: o profissional ou empresário que faz tudo corretamente quebra; estudante que não cola não sai da escola, o Reino contrapõe com ética irrepreensível. Por sinal o Brasil foi pontuado pela Ethics International em 42o. lugar em ética de negócios, como um dos países mais corruptos do mundo. É neste contexto que somos chamados a viver a contracultura dos valores do Reino no mundo estudantil, profissional e dos negócios, expressos em forma de santidade, justiça, fé, esperança, amor e humildade.
Enumerando alguns pontos práticos como manifestação destes valores na vida profissional e empresarial:
Objetivos do profissional e da empresa
Um dos mais fortes critérios para escolha da atividade profissional é quanto dinheiro se vai ganhar no seu exercício. Medicina dá dinheiro? Profissionais de informática são bem pagos? Administração permite maior ascensão profissional são expressões que se usam para balizar a escolha da área de atuação. Esta escolha nem sempre é feita pelas pessoas, mais por seus pais. Por detrás destas expressões, está a idéia de que o homem é mais realizado e feliz ganhando dinheiro. No ocidente hoje (e em quase todo o mundo) ganhar e ter dinheiro é um, senão o único objetivo da vida. Que vida vã e frustrada esta pessoa vai ter! Um dos homens mais ricos de toda a história, Salomão, diz:
Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a sua inteligência
(Provérbios 23:4)
Já notaram, por exemplo, quantos médicos, dentistas e enfermeiras se aglomeram nas grandes cidades, e o interior continua carente? A regra deste século é objetivar a satisfação dos desejos próprios. Em contracultura, o cristão é chamado a se engajar com o lindo plano e ação do Senhor na história, servindo aos outros, em especial ao mais fraco. Quem não vive para servir, não serve para viver.
Semelhantemente, a maioria esmagadora das empresas hoje tem como último e único objetivo o lucro. Parecem muito a descrição do homem unidimensional de Marcuse, cuja razão existencial é a produção e o lucro. Esta talvez seja a maior distorção do mundo de negócios deste século, que tem muitos desdobramentos espúrios. Uma companhia, ou uma organização de qualquer natureza, não deve vier única e exclusivamente para o lucro. Por suas relações com pessoas, potencialidade de fazer o bem ou o mal, e recursos envolvidos, uma empresa ou organização deve ter objetivos muito mais nobres que simplesmente a remuneração dos seus acionistas.
O excelente livro Feitas para Durar (Built to Last, Harper Business), de J. C. Collins e J. I. Porras descreve os princípios bem sucedidos de empresas visionárias; o primeiro destes princípios é justamente mais que lucros (capítulo 3). Eles relatam as missões de empresas tidas como visionárias em comparação com outras do mesmo setor que tinham como único objetivo o crescimento em faturamento ou o lucro. Por exemplo: os laboratórios Merck & Company tinham isto bem claro em sua missão:
Estamos no negócio de preservar e melhorar a vida humana
A fabricante de equipamentos eletrônicos Hewlett-Packard (atualmente HP/Compaq) definiu a sua visão da seguinte maneira:
A razão real para a nossa existência é de provermos algo que é único, que faz uma contribuição (David Packard)
A Johnson & Johnson, companhia que iniciou com a produção de materiais hospitalares, definiu sua missão da seguinte forma:
Serviço ao cliente vem em primeiro lugar… serviço aos empregados e gerência em segundo, e serviço aos acionistas em último (Robert W. Johnson, em 1935 !) Posteriormente, a J&J adicionou serviço à comunidade em terceiro à frente dos acionistas.
A missão da Motorola, é assim definida:
O propósito da Motorola é servir com honradez à comunidade, ao prover produtos e serviços de qualidade superior a um preço justo aos nossos clientes; fazer isto e ganhar um lucro adequado que é necessário ao empreendimento crescer, e em fazendo assim prover aos nossos empregados e acionistas a oportunidade de alcançar seus objetivos pessoais razoáveis
(Aquilo que cremos: Uma afirmação de Propósito, Princípio e Ética).
Todas estas companhias, e as outras neste livro classificadas como visionárias, tiveram valorização das ações muito maior que as companhias de comparação do mesmo setor, que se dedicavam basicamente ao faturamento e ao lucro, e tremendamente maior valorização que o índice Dow Jones da bolsa americana.
A título de exemplo mais humilde, a missão da empresa que administramos hoje, a Exal, é definida em três objetivos:
A Satisfação dos Clientes
O Desenvolvimento Integral dos Colaboradores
O Lucro
Profissional e empresa como instrumentos de justiça social
João Calvino define concisamente como se deve portar o profissional cristão em contexto de injustiça econômica:
Trabalhe muito, ganhe muito, e dê muito
Não existe instrumento mais poderoso para promover justiça social nas relações econômicas e legais de hoje do que a organização. No ocidente hoje, é na organização, particularmente nas empresas, onde a justiça ou injustiça se materializam. O propósito de amparar o necessitado, o órfão, o estrangeiro e a viúva estão no coração de Deus: isto está nas Escrituras de capa a capa. Temos oportunidade única como cristãos de sonhar, propor e praticar uma nova ordem econômica através das geradoras de recursos que são as organizações, particularmente as empresas. Instrumentos como remuneração adequada, benefícios e participação nos resultados são perfeitos para buscar maior igualdade de distribuição de recursos. Tratar com igualdade e dignidade especialmente aos mais simples é um valor do Reino.
Resgate no sentido de trabalho das pessoas
A realidade do trabalho hoje é tal que se suporta o período de segunda a sexta para viver no final de semana. Pudera que todos, a começar dos ingleses que promulgaram a semana de 5 dias, estão tentando reduzir o numero de horas que se dedicam ao trabalho. Se temos que trabalhar somente para o sustento, quanto menos melhor. É por isso que a porta de uma fábrica ao final do expediente da sexta-feira parece abertura de uma porta da gaiola para os pássaros saírem voando para a liberdade. Se o trabalho é uma bênção, existe significado intrínseco, prazer e desfrute durante a semana! A busca do prazer e bom humor no trabalho é um valor do Reino (alegria como fruto do Espírito). A Southwest Arlines, uma companhia aérea que opera no sudoeste dos Estados Unidas, por exemplo, cultiva o bom humor. Uma aeromoça ao microfone da aeronave disse aos passageiros: Temos um lugar especial para fumantes neste vôo: fica na ponta da asa direita. Por sinal, lá estamos passando um filme inédito: E o Vento Levou. Que maneira bem-humorada de dizer que é proibido fumar.
Na medida em que os colaboradores estão imbuídos do espírito de estarem construindo algo de significado, resgatarão o sentido original do trabalho. É como o caso da pergunta que fizeram a dois trabalhadores que quebravam pedras. O que você está fazendo? O primeiro respondeu: estou quebrando pedras, ao passo que o segundo estufou o peito e disse com a boca cheia estou construindo uma catedral! Qual deles lhe parece que havia resgatado o sentido original do trabalho?
Ética prática
Valores claros do Reino de retidão, verdade, honestidade e cidadania encontram expressão concreta na vida profissional e através de organizações. Este assunto merece um capítulo por si só; mas vou colocar aqui a título de humilde exemplo, o Código de Ética da Exal, que é simples mas direto o suficiente para afirmar nosso procedimento:
Não fornecemos nem recebemos subornos, de qualquer espécie ou quantia, a qualquer pessoa ou organização, pública ou privada, para fins justificáveis ou não.
Não temos Caixa 2 ou qualquer outra forma de operação ilegal. Todas as nossas operações são executadas na forma da lei vigente no País, estado e município em que operamos.
Nossas ações e negócios são pautadas por transparência. Não fazemos acordos escusos ou debaixo do pano. Falamos estritamente a verdade.
Entregamos o que prometemos ou mais, nunca menos.
Cumprimos os nossos compromissos financeiros, legais, tributários, trabalhistas e morais rigorosamente em dia.
Nossos brindes são simples, exceto aqueles em sorteios promocionais públicos.
Não adotamos nenhuma cor político-partidária ou religiosa; não praticamos qualquer forma de discriminação racial ou sexual.
Manifestação da santidade comportamental de Deus
De uma maneira geral, as organizações humanas são a câmara de eco onde reverberam os efeitos do pecado. Vejam só se não ocorrem: inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, glutonarias, prostituição, impureza, lascívia… Parece o quotidiano das organizações, não é? Isto aí não é uma descrição de comportamentos negativos de uma organização em particular, é o fruto da carne, como descrito em Gálatas 5: 19 e 20. Em contracultura cristã, temos o amor, a alegria, a paz, a longanimidade (como manter longo ânimo com pessoas que pisam no nosso calo é difícil!), benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. (Gálatas 5: 22 e 23)
Profissional ou Organização como fonte de recursos à sociedade
Sendo uma das formas mais avançadas de organização humana, um empreendimento dispõe de recursos, habilidades e capacidades muitas vezes raras. Por exemplo: capacidade gerencial, da qual a sociedade como um todo carece. Agora ação social virou quase moda, muitas e muitas organizações estão engajadas em projetos de ação social. podemos encontrar na Bosch de Curitiba, que através do programa de voluntariado Somos herdeiros das nossas ações tem promovido o desenvolvimento sustentável de aproximadamente 20 instituições sociais, como orfanatos, escolas, creches e asilos.
Somos chamados a servir a Deus de maneira integral, total e radical. Ele, que é Senhor do universo, requer nada menos, nada mais do que todos os nossos recursos, capacidades e dedicação. Como profissionais e administradores de organizações humanas, somos chamados a amar e servir a Deus de todo o nosso coração, de todo o nosso entendimento, de toda a nossa alma.
IV Encontro Missionário Estudantil, Viçosa, 1 a 4 de março de 2003
V Encontro Nacional de Empresários Cristãos, Florianópolis, 19 a 20 de setembro de 1998
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