Autor: Rodrigo Brandt
Nas cidades há mendigos, bandidos, autoridades corruptas e empresários gananciosos. Mas Deus tem levantado cristãos interessados em deixar nelas a marca do Reino de Deus. A influência cristã pode começar com algo modesto, com aquilo que o arquiteto e ex-governador do Paraná Jaime Lerner chama de “gentileza urbana” (ao mencionar suas idéias de arquiteto não estou necessariamente aprovando posturas que teve como governador), no seu livro “Acupuntura urbana” (Ed. Record).
Ele cita os “jardins flutuantes” em Nova Iorque, em que os limpadores de janelas de prédios colocaram em suas plataformas caixas de plantas e flores, que tornam-se jardins provisórios diante dos apartamentos. Um dentista curitibano ao fim do expediente toca pistom em sua janela. Um cantor baiano promove concertos em parceria com os moradores de uma favela para os quais o lucro é revertido. Um jogador de futebol bancou a ressurreição de um cinema no interior da Bahia. Uma parceria entre a prefeitura e os moradores de um município paranaense garantiu o plantio e a conservação de orquídeas nas ruas da cidade.
“Gentileza urbana“ são gestos, os mais variados, de ruptura do estilo urbano mecânico e impessoal, e que promovem alegria e embelezamento do cotidiano. Cito outro caso: em Santo Amaro da Imperatriz-SC, um morador que possui rica fonte de água em seu quintal estendeu um encanamento até uma torneira instalada no muro pelo lado de fora da propriedade. Quem quer água de boa qualidade é só aproximar-se com uma garrafa e abrir a torneira. É de graça! Nem precisa tocar a campainha. Isso é gentileza urbana!
Nós, seguidores de Cristo, poderíamos estar semeando gentilezas em nossas cidades. Infelizmente, muitos cristãos acham que só se deve amar a cidade celestial, Nova Jerusalém. Gente assim consegue até “teletransportar-se” para a eternidade, mas sai do culto despreparado e desmotivado para encarar a cidade terrena e seus problemas.
Mesmo incapazes de resolver todos os problemas sociais e econômicos, podemos começar fazendo a diferença no plano estético. Por exemplo, em uma cidade do litoral catarinense há uma linda igreja evangélica com um imenso gramado e área de recreação, o que é motivo de orgulho para toda a comunidade em redor!
Mas não basta só uma beleza arquitetônica. É preciso que o espaço de culto seja ecologicamente sustentável. Em um pequeno município catarinense, em meio a muito verde e cachoeiras, fiquei contente ao ver um grupo de irmãos evangélicos construindo seu primeiro templo naquele lugar. Eles me disseram que a prefeitura da cidade estava atrapalhando os planos do Senhor ao exigir um sistema de fossa um pouco mais sofisticado que o convencional. Fiquei triste com a postura desses irmãos, pois a exigência da prefeitura não encarece tanto a construção do templo, e atrás do terreno há um belíssimo rio que precisa ser preservado! Pena que os irmãos fazem cultos para louvar ao Deus Criador, mas fazem pouco caso da criação de Deus.
O problema não é só o espaço, mas também o horário do culto. Nós, evangélicos, achamos que qualquer queixa contra nós deve ser sinônimo de perseguição. Mas deveríamos passear mais pelos nossos bairros na hora dos nossos cultos e perceber se os ruídos que emitimos pacificam ou irritam ainda mais os vizinhos e transeuntes.
Além do momento e do local de culto, a Igreja pode oferecer beleza e gentileza urbana no dia a dia também. Se levarmos a sério o que significa ser discípulo de Jesus e manifestar o Fruto do Espírito, encorajaremos outros a atos de gentileza e solidariedade.
Temos potencial, recursos e pessoal para fazermos os mais belos gestos de gentileza urbana, para manifestarmos ao mundo a alegria da Salvação que nos foi dada pelo Senhor Jesus. Se acharmos que só devemos nos dirigir ao mundo para as pessoas ouvirem passivamente a nossa pregação, perderemos inúmeras oportunidades de dar testemunho da vida eterna que recebemos!
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