Autor: Doug Fields
* Líder de jovens de uma das maiores igrejas dos EUA – A Igreja de Saddleback
Entrevista concedida à equipe VIDAMIX da Editora Vida LTDA
Líder de aproximadamente dois mil adolescentes e jovens, o americano Doug Fields não imaginava encontrar no Brasil um ambiente de tanta euforia.
Acontece que o pastor da juventude da Saddleback (yes, a famosa igreja com propósitos pastoreada por Rick Warren) aterrissou no Brasil exatamente no final de semana em que a seleção venceu a Alemanha e conquistou o sonhado pentacampeonato.
O autor do livro Um ministério com propósitos ficou extasiado ao ver o país inteiro parado (inclusive as igrejas!) para acompanhar uma partida de futebol. Ele esteve no país participando de um congresso para líderes de jovens em São José dos Campos, interior de São Paulo.
Para Fields, a igreja tem errado tanto ao enfatizar o policiamento da conduta dos jovens como em apenas criar uma série de atividades para entretê-los. “Se os líderes tiverem a mentalidade de que a igreja deve apenas ser babá para os jovens, teremos um problema sério”, adverte. “A chave é construir relacionamentos e acreditar que os jovens podem fazer diferença efetiva na vida da igreja.”
Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva que ele concedeu à Vidamix.
Vidamix – As igrejas são diferentes no tratamento dispensado aos jovens. Algumas enfatizam regras claras e rigidez no comportamento, enquanto outras elaboram um calendário repleto de atividades. Quais são as características de um ambiente favorável para proporcionar o crescimento espiritual da juventude?
Doug Fields – Não sou contra regras dentro da igreja, mas não tenho certeza se isso contribui para o crescimento espiritual dos jovens. Creio que o melhor ambiente seria aquele no qual o jovem pudesse entrar e se sentir aceito. Um bom ambiente é criado quando se honra a juventude.
Muitas comunidades tratam os jovens como “o futuro da igreja”. Apesar da boa intenção, acho isso desencorajador, pois estão dizendo a eles para esperar pelo futuro. Na verdade, os jovens são a igreja de hoje.
V – Os atentados de 11 de setembro provocaram alguma mudança na mente dos jovens evangélicos americanos?
DF – O impacto foi enorme, sensibilizando-os a respeito das questões espirituais. Eles passaram a lotar as igrejas em busca de esperança e respostas. Por toda a nação houve um movimento em direção a Deus. Em nossa igreja, muitas pessoas vieram em busca de religião e encontraram o Senhor Jesus. O atentado fez com que os jovens americanos entendessem que a vida não é apenas o “aqui e agora”, motivando-os a pensar mais sobre as coisas futuras.
V – Segundo pesquisa de um líder que trabalha com jovens evangélicos brasileiros, cerca de 50% deles mantêm uma vida sexual ativa, embora sejam solteiros. Acontece o mesmo nos eua? Como os líderes devem lidar com os hormônios em ebulição da juventude?
DF – Lá acontece a mesma coisa. Pesquisas similares feitas nos eua mostram que quando falamos sobre questões morais, não há muita diferença entre jovens cristãos e não-cristãos. Vivemos dias em que a juventude é bombardeada com o erotismo em todas as áreas: games, tv, música etc. A igreja tem a responsabilidade imensa de ensinar e conversar abertamente a respeito desse assunto.
V – A Saddleback usa especialmente a música contemporânea nos cultos, inclusive o rock. Como são encarados os jovens que adotam características visuais de rockstars, como brincos, tatuagens e piercings?
DF – Aproximadamente 20% dos nossos membros de 20 a 30 anos são tatuados. Tatuagem é algo comum nos eua. Se você for a alguma igreja contemporânea na região de Hollywood, provavelmente todos terão uma tatuagem. Lá você seria considerado conservador (apontando as madeixas longas do repórter e o piercing na orelha). Essa não é uma questão de muita importância em nossa comunidade.
V – Britney Spears freqüentou uma igreja batista durante muito tempo e hoje é uma popstar que dita estilos de cabelo, roupas e comportamento. No entanto, sua sensualidade latente não é bem recebida pelos evangélicos. O jovem cristão precisa de modelos para se espelhar? Quem seriam bons modelos de comportamento para a galera evangélica?
DF – Os jovens precisam de referências em todas as áreas. Seria ótimo se tivéssemos artistas fazendo sucesso fora do meio cristão, que é um segmento musical imenso nos eua. Se houvesse algum artista no meio secular com um testemunho genuinamente cristão, certamente exerceria um impacto muito grande. A igreja tem perdido gente talentosa, como por exemplo Marilyn Manson (astro andrógino que a-do-ra provocar escândalos). Ele cresceu no grupo de jovens de uma igreja e era bastante envolvido com as atividades do seu grupo. A lista de desviados é enorme.
V – A Internet seduz boa parte dos jovens e adolescentes em todo o mundo, afastando-os até um pouco da tv. Porém, ela tem tanto sites cristãos como pornografia de toda ordem. Como você classifica o uso que os cristãos fazem da rede mundial de computadores?
DF – Se somos amigos e temos um relacionamento transparente e de responsabilidade mútua, você vai me perguntar sobre o que ando vendo na Internet e as chances serão altas de que não estarei fazendo nenhuma bobagem. É o Cristo em você que vai desafiar o Cristo em mim. É por isso que estou no Brasil para ministrar a líderes de jovens. Vim dizer que precisamos investir na vida deles, em vez de apenas ficar controlando o que fazem. É hora de conhecê-los e conversar sobre coisas que realmente importam, em vez de ficarmos apenas policiando o que fazem. A igreja não pode ser apenas mais uma figura coercitiva na vida deles.
V – O beisebol seduz o jovem americano, e o futebol é o esporte mais difundido no Brasil. Qual a importância do esporte para a juventude e como pode ser usado eficazmente pelas igrejas?
DF – Conheci um exjogador de futebol aqui no Brasil que parou de jogar por causa de uma lesão e agora se dedica a ir em áreas pobres ensinar os garotos a jogar futebol. Que bela ferramenta evangelística! Hoje eu vi as ruas pararem por causa do jogo da Copa; assisti junto com milhares de brasileiros que foram à loucura com aquele jogo. O esporte é uma ferramenta importante na evangelização.
V – Qual seria hoje a estratégia mais eficaz usada pela Saddleback para alcançar os jovens da comunidade?
DF – O melhor caminho é desenvolver relacionamentos. No capítulo 9 de João, Jesus cura um homem e então os líderes religiosos o questionam: “Quem é esse Jesus?”. Ele responde: “Não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo”. Esse é o modelo ideal de evangelização. Você não precisa saber todos os detalhes da Trindade ou mesmo criticar cientificamente a teoria da evolução. É importante estudarmos essas questões, pois elas desafiam o mundo há anos. Porém, o que realmente importa é a mudança que aconteceu, possibilitando que você diga: “Olha, não tenho todas as respostas, mas veja: minha vida era uma droga e foi transformada graças a Jesus”.
V – Nos últimos anos, têm surgido muitos movimentos em várias partes do mundo encorajando os jovens a buscar a Deus mais intensamente. Em função do despertamento dessa paixão, o louvor tem sido transformado em muitas comunidades. Você crê que estejamos vivendo um reavivamento?
DF – Nesses últimos vinte anos que tenho trabalhado com jovens, certamente estamos vivendo o maior despertamento espiritual que já vi, se manifestando num desejo ardente de louvar e adorar. Há dez anos, as igrejas americanas ofereciam aos jovens apenas gincanas, competições e brincadeiras como forma de cuidar deles. Hoje, temos visto uma mudança generalizada e existe uma verdadeira fome pelo louvor e adoração a Deus. Acredito que o louvor autêntico é evangelístico. Boa parte do nosso programa com adolescentes é realizado usando o louvor e a adoração.
V – Usando a simbologia bíblica empregada para a vida de Davi, qual é a receita para ser “um jovem segundo o coração de Deus”?
DF – Meu desejo para os jovens é que eles sigam os mandamentos bíblicos: amar a Deus e amarnos uns aos outros, buscando a santidade e a pureza sexual. Penso que é um padrão bem alto em nossa sociedade moderna. O mais importante é amar a Deus e amar as pessoas apaixonadamente.
Entrevista concedida à equipe VIDAMIX, da Editora Vida Ltda.
Faça um comentário