Autor: Marcos Monteiro
As evidentes diferenças entre o atual presidente Luiz Inácio e o antigo sindicalista socialista Lula, são explicadas pelo meu pessoal de base, como diferença de pessoas concretas e as hipóteses, afirmadas como verdadeiras, são muitas e parecidas.
Lula teria sido seqüestrado por raivosos grupos paramilitares saudosos da ditadura e em seu lugar foi colocado um sósia, um ator desconhecido de comerciais, que sai pelo mundo todo vendendo cachaça e pré-sal. Em cárcere privado, vai sendo submetido a torturas físicas e psicológicas, sendo o momento culminante a visita diária de Delfim Neto que chega pontualmente para ligar a Globo no Jornal Nacional.
Ou então, Lula nunca teria existido de fato. Luiz Inácio fora antigo torneiro mecânico em uma das fábricas de José Sarney, preparado a vida toda para defender os interesses da família, sendo o maior feito ocupar o Palácio do Planalto com os votos da maioria dos brasileiros.
E muitas outras hipóteses parecidas, sendo a mais exótica a que garante que Luiz Inácio é realmente um clone. O primeiro clone humano criado por capitalistas de grande inteligência e visão. Lula teria morrido em um atentado organizado por P. C. Farias (lembram?) depois do primeiro debate da primeira campanha com Fernando Collor. Da orelha que sobrou (inspirados no filme “Bananas” de Woody Allen) construíram o ser humano atual que foi educado por Marco Maciel. Foi substituído provisoriamente por um outro sósia muito parecido, mas que perdeu por inexperiência o segundo debate.
Tudo isto para dizer que a máquina capitalista conseguiu criar um gestor popularíssimo, às custas da destruição da identidade de um dos nossos mais preciosos símbolos da resistência política popular. Um cidadão que, saído da fábrica, dos sindicatos, da oposição ferrenha ao sistema, do discurso socialista, conseguiu ocupar a presidência da República de um país historicamente conservador. Esse cidadão-símbolo foi engulido pela máquina internacional e, de ácido corrosivo, transformado em lubrificante a base de etanol.
Mas somos teimosos e incorrigíveis em nossa luta contra a desesperança. Estamos preparando outro Silva para disputar a presidência, outro símbolo, agora em sua versão mulher. Aguerrida, combativa, militante de base e militante da vida, com o aditivo da consciência e luta ecológica, Marina da Silva acende símbolos e saudades em setores desencantados. Entre as coisas estranhas do seu currículo, venceu uma intoxicação metálica que pode ter-lhe tornado imune à contaminação da máquina de fazer dinheiro internacional.
Votamos quatro vezes em Lula até torná-lo presidente, votaremos em Marina quantas vezes forem necessárias e um dia estaremos no Planalto, comemorando a vitória. A partir daí começa o desespero da famosa “governabilidade”, onde assistiremos a um formidável embate. Pode ser que a Máquina transforme a nossa Marina da Silva em uma mirrada bonequinha de luxo do sistema político internacional, uma espécie de Barbie negra e ecológica. Mas pode ser que a representante de uma classe que consegue comer caco de vidro para matar a fome, realize o fenômeno impensável de engulir a máquina que devora a humanidade de homens e mulheres.
Nesse inimaginável futuro, um Lula velhinho, magro, mas digno, surgirá dos cárceres desconhecidos do submundo da história, explicando o seu seqüestro e conclamando com a antiga voz de comando, companheiros e companheiras para relações econômicas, políticas e sociais mais justas e inclusivas.
*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE e da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br
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