Lutero e o Desafio da Missão de Deus

Autor: Rony Ricardo Marquardt
Neste mês de outubro, ao relembrarmos, mais uma vez, a ação de Deus através do seu servo Martinho Lutero, queremos buscar nos ensinos deste reformador algum material a respeito da missão para a nossa meditação.

Vemos no ensinamento de Lutero que a igreja não é uma instituição estática, mas uma comunhão de dimensões universais. Na e através da igreja, as pessoas são trazidas a Cristo, e esta missão redentora continuará até o fim dos tempos. Onde houver cristãos, ali estarão a igreja e o evangelho, e este evangelho alcançará o mundo ao seu redor, buscando e salvando os perdidos.

Uma só missão – A igreja tem só uma missão, independente de como ou por quem ou em que lugar essa missão é realizada. Ao chamar a igreja de volta ao evangelho, Lutero a estava chamando de volta à missão. Por isso, para andar nos passos de Lutero, o pensamento missionário da igreja deve estar voltado para “a missão”, a grande obra de levar o evangelho de Cristo a todas as nações. Esta é a obra própria da Igreja Cristã.

O caráter universal do evangelho foi muito bem compreendido por Lutero. Repetidas vezes ele mostrou que Deus havia dado seu Filho ao mundo, não para um povo ou para uma classe de pessoas, mas para a humanidade inteira. Isto é expresso enfaticamente por ele no seu sermão de Ascensão baseado em Marcos 16.14-20: “Visto que Deus diz: ‘Ide por todo o mundo e pregai a toda criatura’, ele não quer que ninguém seja excluído … porque ‘todo o mundo’ não significa uma ou duas partes, mas tudo e todos, onde houver pessoas.”

Em seu comentário sobre o livro do profeta Isaías, mostra que esta contínua pregação do evangelho ao mundo todo é a função da igreja, pois ela existe e vive enquanto estiver ocupada em chamar as pessoas ao arrependimento e trazê-las à fé, o que acontece pelo anúncio do evangelho.

Por isso, a continuidade da obra missionária é incumbência de cada congregação. Lutero mostra que faz parte da essência da comunhão cristã que a igreja procurará estender-se e trazer outros ao seu meio. Fica evidente, deste modo, que o envio missionário, o “ide” de Cristo, está relacionado ao conceito do sacerdócio real de todos os crentes. Cada cristão, em virtude de seu relacionamento com Deus, tem a vocação e a responsabilidade de ser uma testemunha de Cristo.

Pedra na água – A partir desta compreensão, Lutero compara a pregação do evangelho a uma pedra lançada à água, produzindo ondulações em círculos concêntricos, as ondas se sucedendo e estendendo, uma após a outra, até atingir a margem. Esta é a tarefa missionária da igreja, pois cada cristão em cada época recebe de Deus este envio missionário que está claramente expresso na Grande Comissão: “Ide, fazei discípulos de todas as nações.” (Mt 28.19)

A sua compreensão do caráter universal do evangelho, sua reafirmação da natureza missionária da igreja e a redescoberta do sacerdócio real dos cristãos mostram como Lutero estava consciente da missão da igreja, e como seus ensinos e princípios teológicos servem de fundamento para a obra missionária que a Igreja Luterana realizou durante estes quase cinco séculos.

Pode-se perceber nos escritos de Lutero sua clara compreensão da atividade missionária da igreja. Nos seus sermões e comentários sobre os Salmos, encontramos muitos ensinos missionários. Falando sobre o salmo 117, Lutero comenta: “Se todos os povos devem louvar a Deus, antes disso todos devem pertencer a Deus e, para isto, todos precisam conhecê-lo e crer nele. Se devem crer nele, precisam ouvir sua palavra e receber o Espírito Santo, que, pela fé, irá purificar e iluminar seus corações. Se eles precisam ouvir a palavra, então pregadores devem ser enviados para lhes anunciar a palavra de Deus. Assim, onde houver gentios, ali o evangelho deverá chegar e trazer as pessoas ao reino de Cristo.”

No comentário sobre o salmo 19, Lutero afirma: “O evangelho deve ser anunciado em todas as terras, nações e línguas e não apenas aos judeus, não somente em Jerusalém e nem em uma só língua.” Lutero destaca aqui a necessidade de levar a palavra de Deus a todas as nações, fundamento de toda a obra missionária, para que os pagãos passem a louvar a Deus e sejam membros de seu reino.

Missionários – É para isto que Deus providencia missionários e evangelistas. Isto é expresso por Lutero no segundo sermão para o dia da Ascensão, quando fala sobre a Grande Comissão dada aos apóstolos: “A pregação dos apóstolos seguiu por todo o mundo, apesar de não terem ido por todo o mundo. Esta ida começou e foi levada adiante, apesar de ainda não estar concluída, visto que continuará até o último dia.” Enquanto houver mundo, o evangelho será pregado e a obra da missão continuará.

No terceiro sermão para o dia da Ascensão, baseado em Marcos 16, Lutero expôs o chamado do evangelho a todos os homens: “Estas são palavras da majestade divina ao enviar estes pobres mendigos para anunciar esta nova mensagem, não em uma cidade ou país, mas em todo o mundo, para abrir sua boca livre e alegremente diante de toda criatura para que todos ouçam esta mensagem.”

Nestes poucos exemplos de sermões e comentários de Lutero, evidencia-se com clareza seu pensamento missionário. Ele afirma a necessidade de levar a palavra de Deus, a certeza de que a evangelização é obra contínua do próprio Deus levada a efeito pelos cristãos, que proclamam a sua palavra, para que alcance todas as pessoas em todo o mundo.

Da mesma forma, em seus escritos confessionais, Lutero demonstra sua preocupação com a missão da Igreja Cristã. Nas Confissões Luteranas, não há uma teologia das missões, especificamente expressa, mas elas têm muito a dizer sobre a doutrina da igreja, sobre a universalidade da redenção, sobre a pregação da palavra. E estas questões estão diretamente ligadas à missão em si. Por exemplo, ao falar sobre o Pai-Nosso, Lutero expõe que, quando o cristão suplica “venha o teu reino”, está rogando que o reino venha a ele e que, através dele, alcance o mundo inteiro. Em outras palavras, o cristão coloca-se à disposição de Deus como seu instrumento para realizar a sua missão.

Em tudo isto, vê-se a compreensão de Lutero sobre a obra que Deus vem realizando no mundo. A Grande Comissão, dada por Cristo aos seus discípulos, ainda é cumprida pelos discípulos de hoje, e Lutero viu esta responsabilidade e necessidade com muita clareza, mostrando que esta obra continuaria até o dia do Juízo Final, até que “o pecado, a morte e o inferno sejam exterminados, a fim de vivermos eternamente em plena justiça e bem-aventurança.”

O desafio de ir e anunciar a boa notícia do Reino continua, tendo sido colocado por Deus aos apóstolos, a Lutero e à IELB de hoje, o desafio do CRISTO PARA TODOS.

Marquardt é pastor e assessor do presidente da IELB

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