Autor: Steve Wohlberg
O propósito deste artigo não é condenar o apoio dos EUA a Israel ou tentar resolver uma situação conflitante aparentemente insolúvel no Oriente Médio; antes, seu objetivo é passar em revista o que o Novo Testamento–especialmente o livro de Apocalipse–realmente diz a respeito de Israel, Jerusalém, e o Armagedom. Seria válida a noção de que Deus defenderá a moderna Jerusalém durante a última guerra sobre a Terra? Seria correta a insistente teologia cristã de Deus respaldando o moderno Estado de Israel?
Da lista dos livros mais vendidos do jornal New York Times consta o ‘Armageddon: The Cosmic Battle of Ages’ [Armagedom: A Batalha Cósmica das Eras], obra de no. 11 da série “Deixados Para Trás”. Lançado em 8 de abril de 2003, na esteira de uma campanha publicitária de 5 milhões de dólares, Armageddon é agora lido por todos os EUA por cristãos e “pesquisadores seculares” em busca de respostas em meio a uma América em “guerra contra o terror”. Em sua descrição do argumento básico do conteúdo do livro, o site www.Leftbehind.com retrata um remanescente final de crentes espalhados por todo o mundo sendo “atraídos inexoravelmente para o Oriente Médio, como todos os exércitos do mundo, quando a história avança rumo à batalha final de todas as eras”.
Embora seja uma ficção, ‘Armageddon’ reflete uma teologia não-fictícia de milhões. O último campo de batalha da história: o Oriente Médio. Os combatentes derradeiros: o Anticristo versus judeus. A natureza do conflito: militar. O epicentro: um vale próximo de Jerusalém onde “todos os exércitos do mundo” convergirão para “a batalha final”.
Supostamente [pelo menos segundo livros semelhantes ao ‘Armageddon’, redes de TV como a CBN de Pat Robertson, e os filmes apocalípticos de elevados orçamentos como ‘The Omega Code’ [O Código Omega]], as profecias finais da Bíblia girarão em torno do moderno Israel e a Jerusalém manchada de sangue. Durante os últimos momentos da história–de novo, supostamente–o Todo-Poderoso finalmente pulverizará os inimigos invasores de Israel, e defenderá o Seu povo escolhido, os judeus. Este cenário está sendo agora ensinado em círculos cristãos por todo o mundo.
A crença de que Deus por fim defenderá os judeus no Oriente Médio quando do Armagedom está tão fortemente enraizada na psiquê evangélica do século XXI que isso já se tranferiu para o campo da política e tem até influenciado a postura governamental americana com relação ao estado judaico.[1]
Não só os Estados Unidos apóiam Israel como uma democracia–o que devia mesmo fazer, como incontáveis cidadãos americanos, inclusive aqueles inspirados por tais interpretações proféticas, cristãos politicamente ativos em Washington D.C., crêem vigorosamente que se apoiarmos Israel, Deus nos apoiará. Da Califórnia a Nova York, por rádio ou TV, muitas vezes se ouve a asserção: “Quem abençoa Israel será abençoado, e quem amaldiçoa Israel, será amaldiçoado” [embora essa sentença exata nem conste da Bíblia].
Eu próprio sou judeu e, logicamente, amo o povo judeu. Mas também creio em Jesus Cristo como meu Messias e Salvador. Como qualquer cristão, também anelo ver a bênção de Deus descendo igualmente sobre judeus e árabes. O propósito deste artigo não é condenar o apoio dos EUA a Israel ou tentar resolver uma situação conflitante aparentemente insolúvel no Oriente Médio; antes, seu objetivo é passar em revista o que o Novo Testamento–especialmente o livro de Apocalipse–realmente diz a respeito de Israel, Jerusalém, e o Armagedom.
Está o livro ‘Armageddon’ correto em seu pressuposto central de que Deus defenderá a moderna Jerusalém durante a última guerra sobre a Terra? Seria válida a insistente teologia cristã de Deus respaldando Israel, ou poderia haver algum equívoco nessa visão?
Um Texto Chocante
Primeiro que tudo–e esta verdade tem implicações sísmicas–o Novo Testamento de fato descreve dois grupamentos identificados como Israel, não somente um. Paulo escreveu: “porque nem todos os de Israel são de fato israelitas” [Rom. 9:6]. O que este impressionante texto significa? Observem detidamente. Ao falar dos que são “de Israel” a referência é ao povo pertencente à nação judaica literal. Mas somente porque pessoas são “de Israel”, ou judaicas, não significa necessariamente que de fato são “Israel”.
Para tornar claro, Paulo declarou haver “um Israel segundo a carne” [1 Cor. 10:18] e um “Israel de Deus” [Gál. 6:6] centralizado em Jesus Cristo. E para simplificar mais ainda, chamarei ao primeiro grupo de Israel Um, e ao segundo grupo de Israel Dois.
Israel Um é composto de “israelitas” segundo a carne” [Rom. 9:3, 4], que se refere aos judeus literais que podem remontar sua linha hereditária a Abraão, mas que ainda não crêem em Cristo como o Messias. Bem marcadamente Paulo escreveu o seguinte: “Estes filhos de Deus não propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” [vs. 8]. Assim, Israel Um, conquanto tenha uma maravilhosa herança religiosa, é constituído de pessoas que espiritualmente “não são filhos de Deus”. No sentido neotestamentário, “os filhos de Deus” aplicam-se somente àqueles que receberam a Jesus Cristo como Senhor [ver João 1:12].
Israel Dois, “o Israel de Deus” [Gál. 6:16] refere-se aos do grupo composto de judeus e não-judeus que, crendo no Crucificado, morreram para o eu e nasceram de novo [ver versos 14, 15]. Esse grupo é chamado “o Israel de Deus” porque tem por centro a Deus, sendo formado de pessoas que tiveram uma genuína experiência com o Senhor.
Tristemente, a maioria dos israelitas hoje não se enquadra nesta descrição.
Escrevendo a não-judeus, ou gentios, Paulo declarou: “Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa” [Gál. 3:29, 29]. Não percam de vista este ponto, pois é de suma importância. Esta passagem ensina que um gentio, se pertencer a Cristo, é misticamente incorporado à “semente de Abraão” que [segundo Isaías 41:8] é “Israel”.
Em Gálatas 6 Paulo sumaria sua doutrina por dizer que qualquer um, circunciso ou incircunciso, se torna uma “nova criatura” mediante a fé em Jesus, passa a fazer parte do “Israel de Deus” [vss. 15 e 16]. Pertence ao Israel Dois.
Aqui está a pergunta explosiva: Que grupo–Israel Um ou Israel Dois–é o enfoque dos céus no livro de Apocalipse? Seria o “Israel segundo a carne” [o moderno Israel] com sua capital atual de Jerusalém? Milhões de crentes conservadores que crêem nas profecias e que são politicamente ativos pensam assim. O livro Armageddon ensina isso. Entretanto, o que realmente diz o Apocalipse? A resposta não será descoberta casualmente, mas mediante um profundo estudo da Palavra de Deus.
Desvendando o Livro
Quando abrimos as misteriosas páginas do Apocalipse descobrimos predições a respeito do Monte Sião [14:1], das doze tribos de Israel [7:4-8], de Jerusalém [21:10], do Templo [11:19], de Sodoma e Egito [11:8], de Babilônia [17:5], do Rio Eufrates [16:12] e do Armagedom [16:16]. Assim, o Apocalipse de fato emprega a terminologia e geografia do Oriente Médio.
Mas, esperem um minuto. Uma vez mais eis a importante pergunta: Deseja Deus que estas profecias sejam aplicadas a esses lugares literais do Oriente Médio e ao “Israel segundo a carne” centralizado na moderna Jerusalém [Israel Um]? Ou teria Ele a intenção de que as profecias quanto ao “Israel de Deus” sejam centralizadas em Jesus Cristo [Israel Dois]–isto é, a um Israel espiritual constituído tão-só de judeus e gentios nascidos de novo e espalhados por todo o mundo? Um grande número de eruditos bíblicos conservadores aplica as profecias do Apocalipse ao Israel Um e a localizações literais do Oriente Médio, mas é isso correto?
Comecemos desde o início do Apocalipse. O último livro bíblico é, em última instância “a revelação de Jesus Cristo” [Apo. 1:1]. Jesus Cristo é a fonte, o centro, o intérprete. No capítulo 1, João estava “em Espírito”–não se esqueçam disso–quando viu a Jesus caminhando “no meio dos candeeiros” [vs. 13]. A idéia dos sete candeeiros de ouro faz nossa mente remontar ao castiçal de sete braços dentro do Templo judaico antes de sua destruição no ano 70 AD pelo exército romano. Contudo, no Apocalipse os sete castiçais de ouro são claramente simbólicos.
O que representam? Explicando “o mistério”, o intérprete declarou: “Quanto ao mistério . . . [d]os sete candeeiros de ouro . . . os sete candeeiros são as sete igrejas” [vs. 20]. Assim, no próprio primeiro capítulo do Apocalipse Jesus Cristo tomou algo extremamente judaico e o empregou para representar simbolicamente Sua igreja. Como veremos, este é o princípio interpretativo-chave para entender o livro inteiro.
Em Apocalipse 2:18, numa carta ditada “à igreja de Tiatira”, Jesus reprovou o Seu povo por permitir que “essa mulher Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem cousas sacrificada aos ídolos” [vs. 20].
Jezabel foi uma ímpia mulher nos tempos do Velho Testamento que se introduziu em Israel e causou problemas. Estava Jesus dizendo que “Jezabel” havia reencarnado, ou ressuscitado, e estava literalmente ensinando o engano dentro de Tiatira? Obviamente não. Uma pequena reflexão revela que Ele empregou a palavra “Jezabel” como símbolo de um movimento maligno que estava afetando a Sua Igreja. Como no caso dos sete candeeiros de ouro, o Messias de Deus tomou algo da história judaica e aplicou-a a Sua Igreja, “o Israel de Deus”.
Em Apocalipse 3:7, 12, o intérprete celestial ditou outra carta para “a igreja de Filadélfia” na qual disse que um cristão podia tornar-se uma “coluna no templo de Meu Deus”, e ter um lugar na “cidade do Meu Deus, a Nova Jerusalém”. Não percam de vista o significado disso. Não somente Jesus mais uma vez emprega imagens do Templo judaico e as aplica simbolicamente a Sua Igreja, como identifica outra cidade, a “Nova Jerusalém”, como a real cidade de Deus. Essa cidade não será uma Jerusalém terrestre remodelada, com seus buracos de balas tapados e lavado o sangue dos suicidas transportadores de bombas. Esta “desce do céu” como indica o vs. 12.
Lembrem-se, no primeiro capítulo do Apocalipse, João estava “em espírito” [vs. 10] quando recebeu sua visão. De fato, por todo o Apocalipse ele estava “em espírito” [Apo. 4:2; 17:3; 21:10]. Quando alguém está “em Espírito” vê mediante os olhos do Espírito Santo, em vez de fazê-lo pela visão carnal. Lembrem-se também que Paulo descreveu dois povos de Israel, um “segundo a carne”, e um em Cristo. Novamente, a pergunta é–qual Israel é o enfoque da “Revelação de Jesus Cristo”? Quando a obra-prima profética final de Deus fala sobre Israel [7:4], o Monte Sião [14:1], Jerusalém [21:10], o Templo [11:19], Sodoma e Egito [11:8], Babilônia [17:5], Eufrates [16:12], e Armagedom [16:16], acaso isso se refere a lugares literais, “carnais”, terrenos, destruídos por guerras, no Oriente Médio?
O fato é que cada referência específica a “Jerusalém” no último livro de Deus diz respeito à Nova Jerusalém [3:12; 21:2] que se assenta sobre uma “grande e elevada montanha” [Monte Sião] [21:10; 14:1], que abriga “o templo de Deus . . . no céu” [11:19; 15:5; 16:1, 17] e é o lar final do “Israel” vitorioso [7:4] que segue o Cordeiro “por onde quer que vá” [14:4, 1]. O inimigo da “Nova Jerusalém” de Deus é uma “grande cidade” chamada “Babilônia” [14:8; 17:5; 18:2], que “se assenta sobre muitas águas” [17:1] do “grande rio Eufrates” [16:12] até que a ira de Deus finalmente a destrói no Armagedom [16:16, 19].
O que está acontecendo aqui? Um pouco de reflexão, combinada com a iluminação do Espírito Santo, revela que o Apocalipse está engenhosamente utilizando a terminologia e ambientação do Oriente Médio num sentido muito particular, espiritual, celestial.
O Que É e Onde Se Encontra o Eufrates?
Diz a Bíblia: “Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela terra” [Apo. 16:2]. Os que interpretam literalmente a terminologia do Oriente Médio–tal como Armagedom–em geral aplicam esta passagem a reis asiáticos marchando através do leito seco do rio para lançar balas contra os judeus no Armagedom. Um bem conhecido pregador radiofônico dos EUA sugeriu que uma represa turca poderia ser o meio de secar o rio.[2] Mas é disso realmente que trata Apocalipse 16:12?
A fim de compreender esta incrível profecia, devemos primeiro estudar algo de história bíblica a respeito do antigo Israel e da Babilônia literal. Em 605 AC “Nabucodonosor, rei de Babilônia” veio “a Jerusalém, e a sitiou” [Dan. 1:1]. Jerusalém foi conquistada, Israel foi levado cativo por 70 anos [Dan. 9:2]. Após 70 anos deu-se um impressionante conjunto de circunstâncias. O Eufrates foi secado, Babilônia foi conquistada a partir do oriente, e Israel libertado. Esta história forma o pano de fundo para uma verdadeira compreensão de Apocalipse 16:2.
A antiga Babilônia assentava-se sobre o Eufrates [Jer. 51: 63, 64]. Um muro rodeava a cidade. O Eufrates fluía pelo meio de Babilônia, entrando e saindo da cidade mediante dois portões de ferro cujas barras desciam até o leito do rio. Quando esses dois portões eram fechados, bem como todas as outras entradas, Babilônia ficava virtualmente impregnável.
Em 538 AC, na noite da queda da antiga Babilônia, seu rei e súditos estavam embebedados com vinho [ver Dan. 5]. E assim também os guardas que se esqueceram de fechar as portas duplas plenamente. Mais de 100 anos antes Deus havia predito a respeito de Babilônia e do Eufrates: “Eu secarei os teus rios” [Isa. 44:27]. O Senhor até falou sobre Ciro, o homem que conquistou Babilônia, revelando: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita. . .” [Isa. 45:1]. Ademais, Deus chamou a Ciro de seu “pastor” e “seu ungido” [Isa. 44:28; 45:1]. Destarte, Ciro foi um tipo de Jesus Cristo. E ele veio “do oriente” [Isa. 46:11]!
Acha-se no Museu Britânico, em Londres, o famoso Cilindro de Ciro, que descreve como Ciro, um general de Dario, conquistou Babilônia. Ciro e seu exército cavaram valas rio acima ao longo do rio Eufrates, que desviaram a água. O rio gradualmente teve suas águas reduzidas ao percorrer Babilônia. Ninguém notou. Naquela noite, no auge da bebedeira de Belsazar [ver Dan.5], as águas baixaram ao ponto de permitir que Ciro e seus homens furtivamente adentrassem na cidade sob as portas duplas que haviam sido deixadas abertas. Rapidamente atacaram a condenada cidade, mataram o rei [vs. 30], e dominaram Babilônia. Depois Ciro emitiu o seu famoso decreto deixando Israel partir [Esdras 1]. Os judeus estavam livres.
Engenhosamente, o livro de Apocalipse aplica o antigo relato desse evento com aguda força profética a outra “Babilônia” e a outra libertação a partir “do oriente”.
Como Interpretar “Babilônia”?
No Velho Testamento a batalha era claramente entre a nação literal de Israel e a Babilônia literal [Dan. 1]. No Apocalipse também encontramos uma luta entre “Israel” e “Babilônia” [7:4; 14:1, 8]. Como muitos de nós bem sabemos, em sua maioria os ensinadores de profecias aplicam isto, pelo menos a parte que diz respeito a “Israel”, aos judeus literais da Margem Ocidental. Mas sejamos coerentes: o que dizer a respeito de “Babilônia”? Aplica-se isso à reedificação da cidade ao sul de Bagdá? Alguns dizem que sim. A evidência sugere algo diferente.
Em Apocalipse 17 um luminoso anjo instruiu a João: “Veio um dos sete anjos que têm as sete taças, e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas”. [vs. 1]. João estava “em espírito” [vs. 3] quando recebeu esta profecia. Assim, devemos estar “em espírito” para interpretá-la corretamente.
O nome da mulher é “Mistério: Babilônia”. A palavra “mistério” é significativa.
Em Apocalipse 1 o verdadeiro intérprete, Jesus Cristo, empregou a mesma palavra referindo-se à imagem judaica do castiçal de sete braços com relação a Sua igreja. Em Apoc. 17 a mesma palavra é aplicada ao inimigo de Sua Igreja, ao “Mistério: Babilônia”. E essa “Babilônia” não tem aplicação à antiga cidade cujos tijolos secados ao sol agora estão embranquiçados pelo tempo ao sul de Bagdá.
Nos dias do Velho Testamento Babilônia literal assentava-se sobre o rio Eufrates literal. Na “revelação de Jesus Cristo” o “Mistério: Babilônia” também se assenta “sobre muitas águas” [Apo. 17:1], contudo essas águas não se referem ao barrento Rio Eufrates que agora atravessa o moderno Iraque. O intérprete angélico junto a João oferece esta divina e explosiva interpretação: “Mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas”.
Segundo o anjo-intérprete as “muitas águas” do Eufrates do Apocalipse representam “povos” por todo o planeta Terra que agora dão apoio ao “Mistério: Babilônia”. Estão “embriagados com o vinho de sua devassidão” [vs. 2]. O vinho obviamente é simbólico, bem como a “devassidão” O “vinho” representa as falsas doutrinas de Babilônia, enquanto sua “devassidão” [“fornicação”, segundo a Versão King James] se aplicava a sua união ilegítima com “os reis da Terra” [vs. 2].
“Mistério: Babilônia” é também “uma mulher” [vs. 3], que em profecia representa uma igreja. Deus compara o Seu povo a uma “noiva” que “se ataviou” [Apo. 19:7-9]. A mulher babilônica também caiu [Apo. 14:8]. Isso deve representar que “Mistério: Babilônia” no Apocalipse representa uma igreja globalmente apoiada que “caiu” de seu verdadeiro amor, Jesus Cristo, e da verdade bíblica. Contudo, Deus ainda tem um povo dentro de Babilônia, ao qual Ele chama “Meu povo”. Antes do último ato do drama da história, Ele o chama para “sair” de Babilônia [Apo. 18:4]. Por quê? É porque o Rio Eufrates está destinado a secar.
“Derramou o sexto [anjo] a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas secaram para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do nascimento do sol” [Apo. 16:12]. O livro Armageddon, na linha do “deixados para trás” e inúmeras outras fontes aplicam esse secamento ao Eufrates literal, de modo que os exércitos asiáticos possam atacar à bala os judeus no Armagedom.
O que, porém, diz a Bíblia que faz secar o rio? A Turquia? Não. A Palavra diz que o sexto anjo “derramou a sua taça”. Esta “taça” é uma das sete “taças da ira de Deus” [vs. 1]. Destarte, é a ira de Deus, e não a Turquia, que seca o Eufrates! O que significa isso? Reparem bem–Se as “águas” representam “povos”, e se a taça da ira cai sobre as águas, então isso significa que a ira de Deus será finalmente derramada sobre povos que apóiam firmemente o “Mistério: Babilônia”.
Quando os juízos dos céus recaírem sobre as agitadas águas dos povos apoiadores de Babilônia, a realidade será inescapável. Perceberão que foram enganados. Daí “odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo” [Apo. 17:16]. Destarte seu apoio mal situado a um sistema falso desvanecerá. É assim que as águas de Babilônia secarão, preparando o terreno para “os reis” do oriente [Apo. 16:12].**
Nos tempos veterotestamentários, Ciro veio “do oriente” para conquistar Babilônia [Isa. 44:26-28; 46:11]. A palavra oriente significa “sol nascente”, e o nome Ciro significa “sol”. Ciro não veio para atacar os judeus, mas para livrá-los, e, novamente, Ciro foi um tipo de Jesus Cristo, o “Sol da justiça” [Mal. 4:2]. No Apocalipse, os anjos de Deus vêm do oriente [7:2], e o próprio Jesus declarou: “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem” [Mat. 24:27].
Portanto, do modo como Ciro veio do oriente para libertar o Israel literal das garras de Babilônia literal, também o Rei Jesus descerá dos céus orientais com “os exércitos que há no céu” [Apo. 19:14] para vencer Babilônia espiritual e libertar “o Israel de Deus” [Israel Dois] no Armagedom.
O Que Dizer Sobre “Armagedom”?
Surpreendentemente, esta precisa palavra é empregada somente uma vez na Bíblia, em Apocalipse 16:16. O texto inspirado diz, “Então os ajuntaram no lugar que em hebaico se chama Armagedom”. Para dizer a verdade, não há um “lugar” literal em parte alguma da Terra que traga esse exato nome. É verdade que há um vale ao norte de Jerusalém que nos tempos bíblicos era chamado “Megido” [Juízes 5:19]. Era um local onde os exércitos de Israel defrontaram inimigos em sangrentas batalhas.
Em vista de que “Megido” tem o som aproximado de Armagedom, milhões presumem que é esse mesmo lugar onde se dará um confronto final contra os judeus. Todavia, é isso certo? O “Armagedom” representa o auge, o clímax, a batalha final no Apocalipse. Será uma batalha militar no Oriente Médio?
Sejamos coerentes. Por todo o Apocalipse, como acima demonstrado, vimos como termos do Oriente Médio são empregados num sentido cristocêntrico, celestial, espiritual. Quando chega ao “Armagedom”, que é um termo que descreve a grand finale no maior livro simbólico já escrito, faria sentido que o último livro de Deus subitamente mudasse a temática de seu enfoque apontando a um local literal, baseado no Oriente Médio, ou a uma conflagração de alta tecnologia envolvendo russos, chineses, sírios e os judeus literais?
Não precisamos ficar a imaginar como seria isso. A resposta está no contexto de Apocalipse 16:16. Conquanto fuja ao escopo deste artigo discutir os detalhes, eis os principais pontos:
1. A batalha envolve “os reis do mundo inteiro” [vs. 14], o que possivelmente nem poderia ser acomodado no vale de Megido.
2. O enfoque do Apocalipse é “o santuário” do céu [vs. 17], não o Templo judaico a ser supostamente reedificado sobre a Terra.
3. Os efeitos do Armagedom são globais, muito além do Oriente Médio [vs. 18-20].
4. O sistema primário identificado como sendo destruído no Armagedom é a “Babilônia” espiritual [vs. 19], não a Rússia, China ou Síria.
Em essência, o “Armagedom” descreve a batalha final entre o Rei Jesus e Seus exércitos celestiais [Apo. 19:11-19] contra as forças satânicas mundiais e o Mistério: Babilônia. Por ocasião da Segunda Vinda o diabo perde, e seu reino global desaba. Jesus não precisa empregar armas nucleares contra Seus inimigos, mas somente Sua “espada de dois gumes” [Apo. 1:16; ver também Apo. 19:15], que representa a Sua Palavra de verdade [Efé. 6:17].
Quando Cristo descer vindo do oriente Ele libertará “Israel” das igrejas de “Babilônia”. Mas a qual Israel Ele libertará? Segundo a temática central de todo o livro de Apocalipse, deve ser o “Israel de Deus” [Gál. 6:16] centralizado em Jesus Cristo cujo lar é a nova Jerusalém [Apo. 21:10].
O Oriente Médio permanece um barril de pólvora. A luta dos EUA contra os radicais muçulmanos prossegue. E não há solução terrena no horizonte.
Em meio a esse ambiente de tão alta tensão, milhões de conservadores na América, cristãos politicamente ativos, acreditam que o próprio Deus não só está por detrás do moderno Israel, mas finalmente aniquilará os inimigos do Estado Judeu no Armagedom, uma idéia vigorosamente proclamada no livro Armageddon. Contudo, tal doutrina é contrária ao Novo Testamento.
Além disso, penso que o ensino é na verdade danoso, porque adiciona combustível aos fogos já ardentes na disputa de árabes e judeus. Os Estados Unidos não carecem disso na sua guerra contra o terror!
Um detido estudo da “revelação de Jesus Cristo” demonstra que a insistente teologia de cristãos conservadores respaldando Israel não é verdadeira.
O enfoque do Apocalipse não é sobre “Israel segundo a carne” [Israel Um], mas sobre o “Israel de Deus” [Israel Dois] composto tanto de judeus quanto de gentios [inclusive árabes] que têm por centro a Jesus Cristo.
A paz verdadeira só pode ser encontrada num lugar, e é disponível a judeus, palestinos e cristãos da mesma forma. Acha-se ao pé da cruz, no coração de um Homem que nos ama a todos e que morreu pelo mundo inteiro.
___________
1. Ver Grace Halsell, ‘Prophecy and Politics: The Secret Alliance Between Israel and the U.S. Christian Right’ [Lawrence Hill & Co., 1989].
2. ‘Endtime Magazine’, Irvin Baxter, janeiro/fevereiro de 1998, pag. 2.
* Steve Wohlberg é autor de ‘Exploding the Israel Deception’ e outros livros. Ele é orador e diretor de Endtimes Insights Radio and TV Ministries. Quem desejar maiores informações sobre este tema da parte do autor pode dirigir-se a www.israelinprophecy.com ou dirigir-lhe um e-mail [em inglês] para
** Numa época de caças bombardeiros supersônicos, mísseis intercontinentais, tropas aerotransportadas, veículos militares anfíbios, um rio literal não representa impedimento algum para modernos exércitos avançarem sobre território inimigo, como ficou mais do que claro na última Guerra do Golfo-II.
Faça um comentário