Igreja: Uma Responsabilidade Social

tempestades da vida

“Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.” – Atos 2.44-45
A responsabilidade social da Igreja está no “DNA” desde sua formação. Neste trecho em Atos, está-se iniciando a Igreja de Cristo após a morte, ressurreição e a vinda do Espírito Santo sobre os que creêm. Neste início de encontro e ajustes iniciais desta comunidade primitiva Cristã, tem um ponto muito forte que nasce juntamente com a Igreja, a responsabilidade social. A preocupação por uma igualdade social, pela vida digna do cidadão e da comunidade, fez com que a igreja começasse a sua caminhada trabalhando para o bem comum.
Uma comunidade que tinha como prioridade o anúncio da salvação e da vinda de Jesus como o Messias a todo o povo e que após o cumprimento desta primeira etapa, já partia para o próximo passo que era o suprimento das necessidades básicas do povo.
“A vocação original da Igreja ou Eclésia, que se constitui na ‘Assembléia de pessoas chamadas para fora’, é o chamado de servir ao mundo em nome de Deus.”¹
Com o passar dos anos e com o crescimento do evangelho e consequentemente da Igreja, algumas necessidades foram surgindo e tomando o lugar muitas vezes das necessidades básicas como Jesus cita em Mt 6.31,33: “Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
Com isso a Igreja foi perdendo seu referencia inicial (Atos 2) e percebendo que deixou para tras muitas ideologias Cristãs ensinadas por Jesus e princípios bíblicos. Talvez no afã de querer corrigir este esquecimento pelo bem da vida social, as igrejas começaram a dar tanta ênfase na prática social, que dividiu-a da prática espiritual.
A bíblia ensina que o ser humano é inteiro e que a sua vida, em qualquer segmento, deve ser coerente com a teoria e prática. Em Tg 2.17 diz: “… a fé, se não tiver obras, está completamente morta”.
“A práxis Cristã no cotidiano é potencializada por meio das práticas sociais da igreja, focando problemas sociais reais e buscando promover o enfrentamento dos mesmos, com vistas à transformação de uma determinada realidade social.” ²
Entendo que a motivação que Jesus espera que a Igreja, que Ele mesmou constituiu, se interesse pelas necessidades do próximo e aja conforme Deus (e nem sempre como o outro quer) espera que façamos quando percebemos uma real necessidade na vida de alguem ou de um certo grupo. Motivações como: ganhar mais “almas” para Cristo e “corpos” para a igreja é como se déssemos menos valor às almas e deixassemos com Deus, já que não sabemos como cuidar da alma. E ficamos com o que realmente nos importa, que são números (corpos) em nossas igrejas ou ainda uma imagem que se passa para outras igrejas e comunidades que a Igreja está fazendo alguma coisa. As vezes nem importa o que está fazendo, mas sim que está fazendo.
Percebo que Jesus enxerga o ser humano como um todo e quer salvar e resgatar todo o ser humano com tudo o que ele possui: corpo, alma ou espirito, emoções, pensamentos e etc e não somente a sua alma, pois não é somente a alma que sofreu uma condenação e um castigo no Éden, mas o corpo também que agora tem uma “validade” determinada, em consequência do pecado.
A igreja tem responsabilidades muito mais que no acompanhamento e crescimento de seus membros, mas da comunidade ou local aonde ela está inserida. Se entendemos que Deus é quem constitui a Igreja, então temos que perceber que aonde a Igreja está não é fruto do acaso, mas sim que própositos divinos estão ali revelados.
A Igreja deve amar as pessoas, sejam elas quem for, mas principalmente quem Deus tem colocado dentro da realidade dela. E este amor deveria ser como o amor que o próprio Deus tem por nós. Deus nos ama muito ao ponto de nos aceitar como somos, mas nos ama ainda mais para não nos deixar do jeito que estamos. A Igreja deve ter este amor. Amar as pessoas de sua comunidade, mas ama-las ainda mais para não deixar as pessoas do jeito que estão. Ela deve se interessar e se importar com a realidade do mundo que está ao seu redor, e buscar a sensibilidade do Espírito Santo para saber quando, como e aonde agir para trazer dignidade integral na vida das pessoas.
Deus formou uma Igreja bem diferente do que muitos monges acreditam ser espiritualidade. Os monges ficam isolados por anos, distante de todos, sem se interessar pela realidade que está latente no mundo, apenas “rezando” (a sabe-se lá quem) e buscando Deus em si mesmos. Os Cristãos devem ser sal neste mundo. E em uma comida, para o sal fazer efeito ele precisa estar junto, misturado à comida. Assim também é o Cristão, tem que estar junto e misturado ao mundo. Não nos aspectos dos valores mundanos, mas agindo à criação de Deus e por quem Cristo deu sua vida.
Se o Cristão se propõe a amar as pessoas, estabelecer uma igreja, em fazer “evangelismo” no bairro aonde a igreja fica, ele cria responsabilidade nisto. Não apenas pelos seus atos e formas de como fazer todas estas coisas, mas principalmente com as pessoas que aceitam a mensagem anunciada por nós.
Não creio que todas as igrejas Cristãs protestantes tenham que ter trabalhos específicos para todo tipo de pessoas em suas mais diferentes e difíceis realidades. Mas a direção de Deus deve ser buscada por cada um, individualmente e consequentemente por toda a Igreja, como uma família, para entender e praticar as “boas obras” que Deus nos confia para realizar. Esta direção de Deus vai manter o foco da Igreja aonde ela deve agir nos aspectos mais necessários das pessoas com as intenções mais puras e despretensiosamente egoístas.
Não acredito também que a Igreja irá conseguir por ela mesma ou somente ela mesma, resolver todos os problemas e suprir todas as necessidades. Uma, porque as necessidades são quase infinitas quando se trata do ser humano e em reconstituir todo o arraso que o pecado fez nos seres humanos e no mundo. E outra porque a Igreja, ainda que seja uma instituição Divina, tem a parte humana (confiada por Deus) que é falha e limitada. Mas a igreja deve sim apontar a direção para a solução e fazer o máximo para levar as pessoas até está direção, que é o caminho estreito até a cruz de Cristo, que vai sarar e restaurar todos os aspectos humanos que afastam as pessoas de Deus.
A responsabilidade da igreja é social, espiritual e completando, integral.

Autor: Mateus Feliciano

Bibliografia:
¹ CUNHA, Maurício. O Reino Entre Nós. Viçosa; Ultimato, 2003.
² KAPPAUN, Marciano. A Práxis Social da Igreja. Campinas, 2008.

Extraído de SEARA URBANA

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