Grávidos de Deus

Nascimento: um dos acontecimentos mais mágicos e emocionantes da natureza. O nascer do sol, dos rios, das flores, da vida humana. Não sei (mas espero logo saber) se existe anseio mais gostoso que o dos pais de uma criança quanto ao seu nascimento. O nascimento é algo natural, mas é também um milagre, o milagre da vida, o milagre do natal.

Todavia, em nosso anseio (moderno) por naturalizar tudo – uma vez que “naturalizar a existência é um dos grandes desafios do homem moderno” (Gabriel Giannattasio) – temos naturalizado (banalizado, comercializado, fashionizado) o maior nascimento de todos: o advento, a vida do menino-Deus.

Por tudo o que envolveu o advento, ele foi o acontecimento mais extraordinário que já existiu.

Primeiro, porque nada nele seguiu o curso “natural” das coisas. Jesus nasce de uma virgem (Maria), noiva de José (o carpinteiro), numa estrebaria pobre na cidade de Belém. Uma história repleta de impossibilidades humanas feitas possibilidades divinas. Deus escolhe nascer do ventre de uma bem-aventurada aos seus olhos, mas desventurada (socialmente) para os seus (quem imaginaria?). José, contrariando os temores de Maria, e a atitude “normal” de qualquer judeu naquela circunstância, adota o bebê como seu filho, após ter sido convencido pelo anjo (pelo anjo!) de que Maria estava grávida do Espírito. Personagens anormais, para uma história anormal. Afinal, eles estavam grávidos de Deus! Tinham eles consciência da dimensão disso?

Segundo, porque o advento representa Deus se fazendo gente, tomando a forma humana, “arregaçando as mangas” e entrando na bagunça da história. O advento é uma das expressões mais sublimes de que Deus nos entende, e de que Ele nos ama. O menino-Deus é Deus conosco! Encarnou a fragilidade, a dor, e a miséria da condição humana, desde a inglória manjedoura até a insuportável cruz, expondo sua total vulnerabilidade para que, através de sua morte, encontrássemos vida.

Mas que vida é essa que encontramos? Em mensagens de fim de ano é comum se escutar pessoas dizendo que precisamos relembrar o verdadeiro significado do natal: Cristo nasceu e ele precisa continuar a nascer em nosso coração. Para que isso não continue sendo apenas um clichê de fim de ano, precisamos entender que esse nascimento não foi um acidente, nem pode ser naturalizado, mas é fruto do poder do amor do “Deus que intervém” (Schaeffer).

Ademais, de fato, o nascimento de Deus para a história não tem sentido (para além da naturalização e culturalidade) se ele não nascer em mim. E para que ele nasça em mim e em você é preciso que deixemos o Espírito realizar o milagre do natal, nos engravidando de Jesus. Não há força de vontade, nem bons pensamentos ou boas obras que possam gerar Deus em nós, e fazer da nossa vida uma vida cheia de Deus; quem faz isso é o Espírito, por obra e graça Dele mesmo.

Jesus nascendo em mim implica em eu nascendo para uma vida nova, vida repleta de amor, justiça, paz e esperança; vida que gera vida; vida que inspira a vida; vida que move outras vidas a viver conforme o viver de Deus em Cristo. Esse é o milagre do natal; não somente a notícia de que Deus está presente, mas do que vem a reboque: pessoas cheias, “grávidas de Deus”, ávidas por “engravidar” umas as outras com o amor, a compaixão, a solidariedade e os sonhos que brotam do trono da graça Daquele que sempre foi o mais fascinado e apaixonado pela história humana.

Que neste natal o Espírito te engravide de Cristo, para que a vida de Deus nasça em você e nasça em quem mais estiver ao seu redor.

 [author] [author_image timthumb=’off’][/author_image] [author_info]Jonathan Menezes , Historiador, Teólogo, Mestre em História pela UEL. Professor da FTSA e Pastor Presbiteriano. http://www.escreveretransgredir.blogspot.com/ [/author_info] [/author]

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