Autor: Ana Paula Costa
Filhos de pastores geralmente são cobrados em suas atitudes, tanto pelos membros das igrejas quanto pela sociedade secular, que exigem um comportamento quase sempre ditado pela religiosidade. Com toda essa pressão, como eles podem lidar com essa cobrança?
Eles são constantemente observados. Por onde passam são acompanhados, muitas vezes, por olhares desconfiados que os seguem percebendo cada detalhe, cada gesto, o modo pelo qual estão vestidos, como falam e se comportam. Estamos falando sobre nada mais nada menos, do que os filhos de pastores. Um “título” que para muitos parece fácil de levar, mas, que às vezes, pode ser tornar um peso trazendo grandes conflitos.
Quando o assunto é filho de pastor a primeira palavra que vem à mente é exemplo, modelo. As pessoas querem ver os filhos de pastor como paradigmas de conduta. Entretanto, aí está o perigo. Elas se esquecem de que antes deles serem filhos de pastor, são seres humanos, sujeitos as mesmas fragilidades que qualquer outro mortal. Em certos momentos a cobrança chega a ser excessiva, impondo-lhes “rótulos” do tipo: “mentidos”, “protegidos”. Um erro por parte deles pode ser fatal, e a oportunidade de ‘ouro’ para os “acusadores” de plantão os difamarem com expressões: “É filho de pastor!” “E diz que é crente!”. E nessa, não são os filhos, mas os pais (os pastores, no caso) também são caluniados.
Não há como negar que muitos ‘paistores’ passam por situações constrangedoras devido a atitudes errôneas de seus filhos. Muitos chegam até mesmo a se afastarem do cargo, por causas das constantes “dores de cabeça” causadas por eles. Contudo, a Igreja, de um modo geral, precisa avaliar essa questão, pois como cristãos, sabemos (e muito bem) que o inimigo de uma maneira ou de outra tentará acabar (isso mesmo, acabar, destruir) com o ministério e a família daqueles pelos quais o Senhor colocou como líderes da igreja. E muitas vezes, o Diabo usará os filhos para que isso aconteça. Então, como a igreja deve agir? E os filhos de pastor, como devem reagir ante as cobranças?
Com a palavra os filhos
Ela é filha de um renomado pastor. O nome de seu pai é Jorge Linhares, presidente de uma das maiores igrejas batistas de Belo Horizonte – Igreja Batista Getsêmani. Isabella Linhares, 17, é a filha mais nova, de uma família de 3 filhos: Daniela Linhares, 24 e Thiago Luiz Linhares, 22. Aqui, ela ressalta os aspectos negativos que enfrenta por ser filha de pastor. “As pessoas costumam nos cobrar excessivamente. Com isso, a nossa responsabilidade é maior. Constantemente precisamos saber discernir o certo do errado para não dar motivos para falarem de nós.” Contudo, ela também vê o lado bom sendo de filha de pastor. “Conviver com um ‘paistor’ é gratificante, pois, além de vivenciarmos grandes experiências, temos a oportunidade de conhecer as coisas mais de perto.”
Bruna Késia Cantagalli, 17, é filha dos pastores Joaquim e Selma Cantagalli, presidentes da Igreja do Evangelho Quadrangular, do bairro Carlos Prates, em Belo Horizonte. O sobrenome “Cantagalli” diz muito. Pastor há mais de 25 anos, Joaquim Cantagalli têm uma vida agitada, juntamente com sua esposa. Ele, além de conferencista internacional, tendo percorrido os 5 continentes, é represente do International Third World Leaders Association para Comissão Econômica para América Latina – ECLA, junto a Organização das Nações Unidas (ONU). Selma, além do pastorado está à frente do Seminário Mulher Total. Um seminário anual, que ocorre há oito anos, tendo como objetivo resgatar a excelência da mulher cristã. Késia é a única filha numa família de três irmãos: Ítalo Filipe, Pedro Vinícius e André Vinícius. Ela conhece de perto a responsabilidade que tem por ser filha de pastores: “As pessoas cobram que eu seja igual ao meu pai em tudo, principalmente que eu tenha as mesmas atitudes. Quando tento agir por mim mesma, não me reparam.” Ela ainda fala sobre a dificuldade em relação à autoridade em casa: “Tanto meu pai como minha mãe, têm o seu valor. Contudo, na hora do aconselhamento é difícil separar pastor de chefe de família, mas o Senhor tem me socorrido para diferenciar os dois. Mesmo assim, é bom saber que tenho pais e pastores dentro de casa me aconselhando e corrigindo, isso significa bênção dobrada.”
Com a palavra os ‘paistores’
Sabemos que um pastor é muito mais avaliado fora do púlpito do que pregando nele. As pessoas observam como ele educa os filhos, como trata a esposa, como cuida da família. Por isso, a sua presença não só como pai, mas também, e principalmente, como “cobertura espiritual” que tem sobre a vida de seus filhos, é imprescindível. Muitos ‘paistores’ abandonam a sua família, os deixando a revelia. Separam tempo para dialogar com todos os membros da igreja, menos com os filhos. Deixando para que outras pessoas eduquem ou corrija os filhos. Como, então, os “paistores” devem agir em relação à educação de seus filhos? Para Joaquim e Selma Cantagalli a repreensão é algo que deve sempre existir. Selma diz: “Sempre que meus filhos agem de maneira errada corrijo-os imediatamente.” Para Joaquim Cantagalli, os princípios bíblicos devem ser seguidos. “A Palavra de Deus nos ensina como devemos tratar nossos filhos. Devemos corrigi-los em amor, sabendo respeitar também a posição deles, porque a Bíblia diz para não provocarmos a ira em nossos filhos, como está escrito em Efésios 6:4”, observa.
Cabe, aqui, salientar o fato de que muitos ‘paistores’ querem impor sobre os seus filhos a continuação de seu ministério. Márcio Valadão, pastor e presidente da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, é pai de três filhos: Ana Paula Valadão Bessa (ministra e líder de louvor do Ministério de Louvor Diante do Trono), André Valadão (também pastor) e Mariana Valadão, a caçula. Não há como negar que são três filhos conhecidos não só pelo talento como também unção. Claro que assim como qualquer outro pastor seria interessante que eles dessem continuidade ao ministério do pai. Contudo, pastor Márcio vê isso como algo que deve acontecer naturalmente e não imposto. Para isso ele diz: “Vejo que os nossos filhos são realmente filhos, mas eles devem viver isso de uma forma natural, espontânea, e não forçada à continuação, à extensão dos seus pais. Essa extensão diz respeito aos pais infligirem nos filhos qualquer obrigatoriedade de ministério e profissão, porque em qualquer área que os filhos estiverem eles devem trazer a lembrança dos pais, honrando-os com o seu proceder.”
Herança
Então, qual o maior legado ou herança que um ‘paistor’ pode deixar a um filho? O seu ‘cajado’ ou sua influência e instrução? Joaquim Cantagalli, responde: “Com certeza é a influência e a instrução. “Instrui o menino no caminho em que deve [andar], e até quando envelhecer não se desviará dele“ (Pv 22:6). O chamado pertence a Deus. Gostaria muito de ver meus filhos todos envolvidos no ministério, mas não por minha imposição e sim pelo chamado do Senhor da Seara”. Ele ainda completa: “O que realmente nós não abrimos mão é que eles sejam testemunhas fiéis do Senhor Jesus na área em que escolherem para servir. É sempre bom lembrar que ministério não é profissão, portanto, nada impede de que um médico seja um ministro. Lucas, o evangelista que o diga! Apenas o sacerdócio levítico era hereditário: Porquanto os levitas não têm parte no meio de vós, porque o sacerdócio do Senhor é a sua herança. (Js 18:7.)”
Pastor Márcio Valadão, também comenta a questão: “Eu não posso legar alguma coisa que eu possa dar, pois a Bíblia diz que o homem não pode receber cousa alguma se do céu não for dado. O Ministério não é uma coisa sucessória é uma unção, e quem não tem essa unção é porque Deus tem outro propósito para a vida dele. O maior legado que os pais podem deixar para seus filhos é exatamente os filhos lembrarem de seus pais podendo sentir alegria em dizer: ‘Meu pai foi um homem de Deus, uma pessoa honrada, uma pessoa verdadeira, justa e que trouxe alegria ao coração de Deus’. O maior legado que posso deixar para os meus filhos é uma fé e um bom nome para que eles nunca venham se envergonhar dos pais que tiveram e também a instrução, dando condições deles estudarem”.
Conselho aos ‘paistores’ e ao Corpo
Cabe aqui a palavra de um especialista, Jairo Gonçalves, que além de pastor é psicopedagogo. Ele juntamente com sua esposa, Cilene Gonçalves (também psicopedagoga e psicanalista em formação) trabalha com aconselhamentos e libertação, e tem ajudado a muitos a lidarem com problemas parecidos. Ele é autor do livro Família e Casamento – A Sexualidade Humana, editado pela Missões Vidas. Segue então a sua fala:
O apóstolo Paulo ensina que o pastor ou bispo deve viver, agir e comportar-se do modo como está prescrito em I Timóteo, capítulo 3, versos de 1 à 7. Os versos 4 e 5 dizem: “Que o pastor governe bem a sua própria casa, tendo os seus filhos sob disciplina, com todo o respeito, pois se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da Igreja de Deus?”
Ora, toda a igreja está acostumada a ouvir sermões e lições sobre como os pais devem educar os seus filhos. Algumas vezes, os pastores, aborrecidos com o mau comportamento dos filhos de pais que não sabem educá-los ou os educam mal, ‘descem o cajado’ no lombo das ovelhas. Isso provoca descontentamento que é descarregado, muitas vezes, de modo aparentemente vingativo, que é criticar de modo injusto a família do pastor, ‘metendo a língua’ no modo como a esposa dele se veste, anda, fala, e no modo como os filhos dele se comportam.
Duas coisas, pelo menos, decorrem desse fato. A primeira, é que o próprio pastor se revela mais rigoroso e intolerante com as falhas de seus filhos e dos outros, levando-os, às vezes, a se tornarem mais indisciplinados ou indiferentes com as coisas da igreja. A segunda, é que toda a igreja aumenta sua reação aos ensinos do pastor, sendo mais rigorosos e detalhistas no julgamento e condenação de qualquer atitude ou comportamento dos filhos de pastor, mesmo aqueles modos de vestir e falar e agir que são corriqueiros e normais, isto é, típicos do comportamento de qualquer criança ou adolescente.
Baseado em minha própria experiência, com quatro pastorados em três Estados brasileiros, cinco filhos e aconselhamento clínico como pastor e psicopedagogo, tenho duas ponderações a fazer. 1) Cada pastor deve rever o modo como está reagindo a essa pressão que, por força de seu cargo e de seus sermões disciplinares, a igreja faz sobre sua esposa e filhos. Ele deve ser firme e suave com os filhos dos membros da igreja e com seus próprios filhos, para não provocar os filhos à ira, mas criá-los na doutrina e amorosa admoestação do Senhor. Tudo para que os filhos dele, e dos outros, não percam o ânimo (Cl 3:21; Ef 6:4). 2) Toda a igreja deve ser alertada para agir do mesmo modo correto, a fim de que tenham zelo com entendimento, cooperando para que o pastor consiga criar os filhos na disciplina do Senhor Jesus, que é manso e humilde de coração. Isso irá ajudar a todos, principalmente aos filhos do pastor, a fim de que eles não fiquem negativamente marcados, rejeitando a vocação do pai: o filho declarando que jamais será pastor e a filha profetizando que jamais se casará com um pastor.”
Uma palavra pessoal
O ministério pastoral é um dos que merece atenção. Há pessoas que só sabem pedir ou cobrar dos pastores, porém não querem orar por eles e pela sua família, por seus filhos. Não fechamos os nossos olhos para a realidade. Sabemos sim que muitos filhos de pastores dão mau testemunho e aprontam a valer. Porém, a luta não será vencida com julgamentos e nem mesmo atirando pedras. A própria Palavra nos ensina que não devemos julgar. Com certeza não haverá mal algum se você aconselhar ou ajudar com uma palavra amiga. Caso não consiga isso, dobre os seus joelhos e ore para que tanto os ‘paistores’ com os filhos possam alcançar a misericórdia de Deus. E lembre-se: nem sempre filho de pastor, será um pastorzinho.
Fonte: www.lagoinha.com
anapaulacosta@lagoinha.com
Faça um comentário