Evangelismo o testemunho da Reforma

Autor: Arnaldo Hoffmann Filho

O mês de Outubro é o mês da educação, é o mês da Reforma Luterana. Estudar Lutero é sempre prazeroso. Muito do que escreveu tem relação direta com as preocupações do cotidiano. É considerado por muitos um personagem contraditório, contestador, político, porém, encontra boa guarida entre os sérios pesquisadores comprometidos com a verdade. Há que se fazer grande esforço em resgatar a nossa história e, por isso só, já será compensador, mas haveremos de ver com os nossos próprios olhos a prática de uma boa teologia, com sabor de quero mais.

Fala-se muito hoje em crescimento de igreja. A igreja que não cresce é uma igreja morta. Aplica-se Marketing de igreja. Treinam-se pessoas pelo método Kennedy, pelo evangelismo explosivo e outros, com a finalidade de crescer.
Sem dúvida alguma o crescimento faz parte da igreja, porém, nós não desejamos crescer a qualquer custo. Não queremos crescer apenas numericamente ou desordenadamente. Precisamos, sim, crescer na graça e no conhecimento de Deus. Precisamos crescer no amor, na caridade, nas obras da fé, e não apenas na aparência.

É pensamento mais ou menos corrente que Lutero não se ocupou com o tema missão. Muitos, ainda nos dias de hoje, o consideram omisso e fraco neste tema tão vital de igreja cristã. Pura ignorância de quem assim pensa. Quando se lê qualquer escrito de Lutero percebe-se claramente que estava totalmente integrado e envolto numa mentalidade missionária. Quando Martinho Bucer exortou os teólogos de Wittenberg a percorrerem o mundo e a pregar, Lutero respondeu: “É precisamente o que nós fazemos com os nossos livros”.
Para Lutero a missão/evangelização não era uma imposição à igreja, por isso não necessitava badalá-la. Para ele a missão pertence à NATUREZA da igreja. É tão natural a ela como as uvas aos ramos que habitam na vinha. Havendo conhecimento adequado dos objetivos e funções da igreja, não há necessidade maior de se falar em missão.

Em 1528, no seu tratado sobre a confissão e a Santa Ceia, Lutero afirmou: “Esta cristandade (igreja) não está apenas sob a igreja romana ou o papa, mas está em todo o mundo, como os profetas o anunciaram, que o evangelho de Cristo viria a todo o mundo (Sl 2.8; 19.5). Portanto, a cristandade está corporalmente espalhada sob o papa, turcos, persas, tártaros; mas espiritualmente unida em um só evangelho e fé, sob uma só cabeça, que é Jesus Cristo”. “Nesta cristandade”, ele continua, “e onde a mesma se encontra, há perdão dos pecados, isto é, um reino da graça e da verdadeira indulgência. Pois aí está o evangelho, o batismo, o sacramento do altar, nos quais se oferece, se busca e se recebe perdão dos pecados; e aí está também Cristo e seu Espírito. E fora desta cristandade não há salvação e perdão dos pecados, mas sim, eterna morte e condenação”.

Sobre a “Missa Alemã”, em 1526, ele repreendeu com insistência grupos exclusivistas, como os valdenses, que relaxavam o esmerado estudo de línguas, dificultando assim o livre curso da palavra a todas as nações. Um programa responsável de educação era tido por Lutero como um meio de cumprir a missão de Cristo e fazer um evangelismo por excelência.

O pastor Waldo J. Werning, no prefácio de seu livro “Visão e estratégia do Crescimento da Igreja”, diz: “O que acontece no mundo precisa primeiro acontecer na congregação local”. O pastor Waldo está falando da missão de Jesus Cristo e da compreensão superficial da mesma pelos membros das congregações.

O fato é que nós precisamos saber que “Deus age através da igreja hoje”. Isto nos leva a um compromisso de fé, a um engajamento na obra de Deus e à sua ordem. É preciso compreender também que precisamos exercitar o nosso cristianismo onde nós estamos. Sem termos cumprido esta etapa não temos moral para sair e falar aos outros. A ordem de Cristo é que os discípulos deveriam iniciar com o testemunho em Jerusalém, depois na Judéia, depois na Samaria e, por fim, até os confins da terra (At 1.8).

Voltando a Lutero, podemos afirmar que ele encarnou a ordem do Senhor da igreja: “Vós sereis minhas TESTEMUNHAS, até os confins da terra; Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Foi ele testemunha de Deus e confiou na sua promessa: “Eis que estou convosco TODOS OS DIAS até a consumação do século”. Lutero estava comprometido com a verdade e contava com a garantia da presença de Cristo.
Diante das mais altas autoridades imperiais e eclesiásticas reunidas na Dieta de Worms, em 18 de abril de 1521, ele afirmou prontamente, em defesa das Escrituras e testemunho para todas as épocas: “Nada posso retirar dos meus livros, se não for convencido com claro testemunho das Sagradas Escrituras. Não quero e não posso retratar-me, porque não é correto um cristão falar contra a sua consciência. Aqui estou; não posso ser diferente; que Deus me ajude”.

Lutero deu aos alemães o que nenhum outro jamais dera a seu povo: a língua, a Bíblia, a hinologia… É reconhecido como o pai da alfabetização. Dirigiu-se aos pais, através de muitas publicações, falando-lhes da escola e da educação dos filhos como necessidade inadiável, para a pátria e a igreja verem melhores dias.

Deixou ele à posteridade dezenas de volumes contendo obras doutrinárias, exegéticas, homiléticas, pastorais e pedagógicas. Calculou-se que seriam necessários, a um homem, dez anos de sua vida para simples cópia manual das cartas, orações e inumeráveis escritos do reformador. Sabemos que ele não apenas as redigiu, mas pensou-as, deu-lhes estudo e reflexões, corrigiu-as, e isso entre ocupações múltiplas, quase sempre absorventes e das mais diversas: suas prédicas, sua atividade social e política, os cuidados e o tempo que consagrou aos amigos e à sua própria família.

Na epístola aos Hebreus 13.7 há uma exortação que nos diz assim: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, IMITAI a fé que tiveram”.

Isto é relevante para os nossos dias. Já que a igreja tem como tarefa essencial fazer missão, evangelizar, cumprir a ordem de Cristo, é preciso que isto comece em casa, com uma reflexão profunda das finalidades da igreja de Cristo, dando um bom testemunho para os de fora, sendo um modelo de fé, arrependimento e vida cristã.

Aproveitemos os escritos do homem Lutero. Muitos livros já foram traduzidos para a língua portuguesa. Eles são relatos vivos, obras de Deus que trazem bênçãos e métodos eficazes nas estratégias de se fazer missão hoje.

Vivemos tempos difíceis. Muitas idéias sincréticas, ocultas, imperando nas consciências o legalismo e o medo. Nota-se como conseqüência a presença de um fanatismo exacerbado, um racionalismo como moda e um indiferentismo mórbido. É mais que necessário que os cristãos encarem os desafios da fé possibilitando ao mundo um gosto pelo bom prato espiritual, sadio, nutritivo, saboroso. A Comunidade cristã, que se encontra para viver em conjunto a sua fé, será a melhor oficina de prática do amor de Deus e todos se beneficiarão destes serviços. Lutero fez a sua parte escrevendo, organizando, testemunhando. Nós haveremos de continuar esta obra e o mundo haverá de ver a diferença e muitos serão salvos. Eis o desafio: Conheça a Cristo! Leia como estudos adicionais os escritos de Lutero! Seja um cristão autêntico! Faça a obra do Senhor! Amém.

* Arnaldo Hoffmann Filho é Pastor em Belo Horizonte, da Igreja Bom Pastor (IELB).

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