Autor: Durvalina Bezerra
Palestra proferida no III Congresso Brasileiro de Missões
Outubro de 2001 – Águas de Lindóia SP
Iniciaremos proclamando que o nosso Senhor é Rei e o seu reino é eterno! É uma realidade atemporal. Na sua primeira manifestação, Israel reconhece e declara: “O Senhor reina para sempre; o teu Deus ó Sião, reina de geração em geração” (Sl.146:10). O nosso Deus está assentado num alto e sublime trono, e governa sobre os filhos dos homens. Temos consciência do seu domínio porque cremos na sua soberania e afirmamos que absolutamente nada foge do seu controle.
Todo o poder e toda a majestade lhe pertencem. “Ninguém há semelhante a ti, Ó Senhor; Tu és grande e grande é o poder do teu nome. portanto: “Quem não te temeria a Ti, ó Rei das nações? Pois isso é a Ti devido; porquanto, entre todos os sábios das nações e em todo o seu reino, ninguém há semelhante a Ti.” (Jr.10:6-7)
I – AS VÁRIAS DIMENSÕES DA ESCATOLOGIA
Se o nosso Deus reina eternamente e reinará para sempre, falaremos, “neste sentido, de uma escatologia perfeita, de uma escatologia presente e de uma escatologia futura, bem como de uma escatologia que poderíamos chamar de trascendental, enquanto está se referindo ao agir do Deus eterno dentro, aquém e além de todos os tempos escatológicos.” 1 A escatologia perfeita, para Claus Schwambach é a irrupção da eternidade para dentro do tempo, da presença da salvação escatológica na pessoa e na obra de Cristo. A escatologia presente é apresentada como o Evangelho que anuncia o perdão, se manifesta já agora, de forma antecipada, o veredicto de Deus como Juiz final. A palavra da cruz atualiza tanto o passado como o futuro, fazendo-os valer no presente. A escatologia futura, tem como conteúdo a esperança cristã da ressurreição, o arrebatamento, a segunda vinda de Cristo, o juízo final, o fim do mundo, a nova criação, céu e inferno, a vitória final, “quando Cristo entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder, porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés.” (ICo. 15:24-25)
“O reino de Deus não tem significado estritamente temporal. Ele expressa dinamicidade, atividade e está sempre orientado teocráticamente.” 2
Reconhecendo a limitação humana não ousaremos medir o tempo nem tão pouco nos deteremos a examinar os sinais do tempo do fim, pois não limitamos a escatologia ao estudo dos eventos finais. Porque “todos os temas teológicos apresentam uma dimensão escatológica.” 3 Atentaremos ao fato de que a promessa escatológica da inserção do reino na história dos homens deve ser o incentivo, o impulso, a força do nosso compromisso de proclamar, como arautos do Rei, a vinda do seu Reino.
II – A PROCURA DA DEFINIÇÃO DO TEMPO.
Deus domina sobre o tempo e os homens não têm capacidade de cronometrá-lo nem entendê-lo. O tempo pertence a Deus. Ele domina sobre as épocas, “é Ele quem muda os tempos e as estações(…)” (Dn.2:21)
O controle do homem sobre o tempo é tão restrito e tão inseguro, que a humanidade vive na inquietação acerca do tempo do fim. Na virada do milênio todo mundo viveu sob o temor do que poderia acontecer. Mesmo vivendo a época mais avançada da ciência e da tecnologia, onde o homem se põe no centro do universo exibindo seu domínio sobre a criação, a incerteza quanto ao tempo escatológico apavora, tanto os mais ignorantes como os mais entendidos, tanto os religiosos como os céticos.
Segundo Stephen Jay Gould, cientista paleontólogo, a descoberta, no século XVIII, de que a história do universo não se contava em milhares mas em bilhões de anos perturbou os sábios e constituiu a maior revolução intelectual dos tempos modernos. Porém, o Criador do tempo exibe sua sabedoria tão alta e tão profunda que inibe uma aproximação definida dos números, o que induz o cientista a dizer: ” O problema, é que a natureza não produz regularidades astronômicas que permitam estabelecer ciclos numéricos simples.(…) a relação entre o calendário e os ciclos astronômicos não se exprime em termos matemáticos simples. O problema vem da maneira como a natureza funciona.” 4
A maneira como Deus lida com a sua criação, põe a cronologia do tempo e dos fatos numa escala acima do entendimento e da inquirição humana. E é percebendo esta verdade que Gould acuado com as pequenas brechas deixadas pelo Criador para percepção da luz do tempo, ele conclui: “A complexidade do calendário é um desafio à astúcia humana. É por isso que dizemos: se Deus existe, ou tem senso de humor ou é uma nulidade em matemática(…)ou é simplesmente incompreensível para um espírito humano.” 5 A ciência tem que se dobrar diante da inescrutável força e sabedoria do Criador do tempo e dos tempos.
III -OS SINAIS DOS TEMPOS.
Dentre tantas catástrofes que o planeta já sofreu e vem sofrendo, desde o dilúvio quando o mundo de então foi destruído com água, predições têm sido feitas, por cientistas e religiosos, quanto a destruição do planeta e o tempo do fim, citaremos apenas algumas: o aquecimento da terra seguida do esfriamento do sol, a perda da camada de ozônio, previsão de possível queda dos meteoros e asteróides, os terremotos, as injustiças sociais, as opressões dos sistemas políticos, a miséria, o desenvolvimento científico, etc. Esta palestra foi escrita antes do dia 11 de setembro quando aconteceu o atentado ao World Trade Center em New York que insere no mundo o pavor do terrorismo. Fica evidente na guerra entre o ocidente e o oriente,que o ódio ao povo da promessa – Israel e a rejeição ao Cristianismo constrói uma barreira de separação que nenhum tratado de paz, nem negociação econômica nem poder bélico pode quebrar. Ficou revelado o esquema do Al Qaedar montado em todo o mundo. Se Osama bin Laden tem comando organizado em 40 países, como será possível vencer o terrorismo? Arnaldo Jabor, comentarista da rede Globo disse, que o ocidente precisa mudar de cara de diabo e malignidade como é visto pelo oriente para aproximar uma reconciliação. Não será essa a hora do aparecimento do anti-cristo para promover a paz mundial? Diante disso, a tarefa missionária fica ainda mais difícil porque a cara do ocidente se confunde com a face do cristianismo em seu desenvolvimento ocidental. Não será esse um específico sinal do fim?
Muitos têm estado atentos aos sinais e eventos preditos por Jesus no sermão do Monte das Oliveiras, no cap. 24 de Mateus. As guerras, e rumores de guerras, a fome e terremotos, o aumento da iniquidade e falsos profetas, as perseguições sofridas pelos servos de Deus, os massacres e os martírios que a Igreja do Senhor tem sido alvo ao longo dos séculos, tudo isso nos leva ao anseio escatológico e nos põe a questionar: quando virá o fim?
Magno Paganelli 6 trabalha com os sinais no campo astronômico, no campo atmosférico e meteorológico e no campo hidrológico, como acontecimentos apocalípticos e assinala que já estamos vivendo o cenário que antecede o estabelecimento do anticristo. Muitas especulações surgiram no decorrer dos anos. Muitos tentam prognosticar a parousia, o segundo advento, com a intenção de encontrar uma resposta que satisfaça a curiosidade e a inquirição humana, no entanto, as previsões têm sido frustrantes. O tempo do fim, é segredo de Deus e não cabe ao homem identificá-lo. Disse Jesus: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho senão o Pai.”(Mt. 24:36)
IV – AS PROMESSAS DO REINO DE DEUS A ISRAEL
A vinda do reino de Deus é o tema central do Antigo Testamento. Quando o Senhor escolheu Abraão para fazer dele uma nação separada, era o seu propósito constituir um reino Teocrático. “Agora pois, pergunta aos tempos passados que te precederam,(…) se jamais aconteceu coisa tamanha como esta(…)ou se um deus intentou ir e tomar para si um povo do meio de outro povo(Dt. 4:32,34). A intenção divina persistia fazer Israel uma testemunha do seu Rei, para que todos os povos da terra percebessem que a nação era governada e dirigida por um Deus sábio e Todo-Poderoso. E os povos ouvindo os estatutos dirão: “Certamente este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus,(…)e que grande nação há que tenha estatutos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?(Dt. 4:6-7)
Deus fez aliança com seu povo: “Não vos esqueçais da aliança do Senhor nosso Deus, feita conosco(Dt. 4:23). Mas Israel quebrou a aliança, porém o ministério profético em Israel condenava o pecado da nação que impedia a ação divina e apontava para uma nova aliança. A esperança profética apontava não apenas para uma restauração, mas para um novo pacto. “Eis ai vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel(…) dar-lhes-ei um só coração e um só caminho para que me temam todos os dias. Farei com eles uma aliança eterna(Jr. 31:31; 32:39-40).
Tendo em vista que a monarquia teocrática não alcançou a legitimidade dentre as dinastias, tendo apenas algumas sinalizações no reinado de Davi e Salomão, evidenciou-se o contraste entre aquilo que era e aquilo que deveria ser, renovando assim, a esperança escatológica. “Logicamente, não se duvida que Deus seja Rei, mas a concretização de sua realeza torna-se objeto de esperança. Em outros termos, a ‘teocracia’ é aguardada no futuro, ela passa a ser escatológica.” 7
O profeta Isaías identifica sua mensagem escatológica, no que diz respeito ao estabelecimento da Casa do Senhor, para a qual afluirão todos os povos. Após o julgamento e a correção de Deus os povos gozarão paz universal.(Is.2:1-5)
“A expressão usada por Isaías “naquele dia” é também indicadora da mensagem escatológica do profeta, na qual anuncia “o Renovo do Senhor que será de beleza e de glória(…) Será que os restantes de Sião serão chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém para a vida”(Is. 4:2-3) O profeta prevê a extensão mundial do reino quando declara que: “Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será morada” (Is.11:10).” 8
Há um kerigma escatológico na profecia de Isaías identificada à luz do Novo Testamento. “A glória do Senhor se manifestará e toda a carne a verá. Eis aqui o meu Servo a quem sustenho, pus sobre ele o meu Espírito, e Ele promulgará o direito para os gentios”( Is.40:1-5; 42:1) Isaías também profetiza: “Ano aceitável do Senhor,” a mesma diz respeito ao ministério do Messias na unção do Espírito do Senhor Deus. “Porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados e apregoar o ano aceitável do Senhor(…) Indo Jesus a sinagoga, levantou-se leu esta profecia e identificou o seu cumprimento na sua própria pessoa e obra. “Hoje se cumpriu a Escritura quer acabais de ouvir.” (Lc.416-20) O kerigma escatológico de Isaías tem o cumprimento no advento do Messias, através do qual Deus executa a salvação do seu povo. “Para os homens, a vinda escatológica de Deus significa o juízo e a salvação. Para Deus, ela eqüivale à manifestação da sua glória, ou de seu Nome e à instauração do seu Reino.” 9
O profeta Daniel também vaticina e renova a esperança do reino escatológico. Cativo na Babilônia, apresenta-se ao grande rei Nabucodonosor e relata a interpretação da visão dos reinos que sucederiam no cenário mundial, e deixa claro que o Soberano reina sobre a terra acima dos poderosos. “É Ele quem remove reis e estabelece reis. O Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens e o dá a quem quer.” (Dn. 2:21; 4:25). Mesmo que o seu braço não seja percebido e seus feitos ofuscado pela soberba humana. Ele determina o tempo de cada reino até que o reino escatológico se estabeleça. Daniel nos dá algumas características deste reino.
Primeiro – o Reino é eterno. “O Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído.”(v.44) Só o Deus infinito pode estabelecer um reino sem fim.
Segundo – O Reino de Deus é o reino do seu povo. “Não passará a outro povo.” (v.44) Os escolhidos do Senhor reinarão com Ele. “Os santos do Altíssimo
receberão o reino e o possuirão para todo sempre, de eternidade em eternidade.”(7:18)
Terceiro – o reino é divino, ele se estabelecerá sem o auxílio de mãos, sua erupção no reino dos homens é sobrenatural, não dependerá de acordos de paz nem de estruturas mercadológicas ou de sistemas políticos. “(…)uma pedra foi cortada sem o auxílio de mãos, feriu a estátua(…)esmiuçará e consumirá todos estes reinos.”(v.34,44) O profeta relata ainda outra visão(7:13-14) na qual: “(…)vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem,(…)foi-lhe dado domínio, e glória e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.
O Senhor Jesus em Mateus 26:64 reivindica para si a profecia deixando claro que o reino escatológico está acima do reino de Davi. “É o novo status do Jesus ressurreto: autoridade absoluta, a autoridade do Filho do Homem. É evidente que Jesus demonstrava autoridade divina durante o seu ministério, mas essa autoridade estava encoberta pela forma humilde que ele assumiu. Depois de ressurreto ele assume uma autoridade cósmica, universal que lhe é de direito.”10
Quarto – O reino é escatológico -“O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente.” (v.45) Era para Daniel um futuro distante, para nós, mais próximo, mas ainda a se cumprir. É para o futuro mas é certo porque a interpretação é fiel!
Quinto – O reino é universal. Não dominará apenas o espaço geográfico da Palestina e não se limitará a nação de Israel. “A pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha que encheu toda a terra.” (2:35)
Estamos hoje aqui, voltados para a visão de Daniel, a maior parte já cumprida, mas a expectativa e esperança do seu total cumprimento nos faz pedir: Venha o teu reino em toda a terra! Venha o teu reino entre todas as nações!
V – A ESCATOLOGIA E A MISSÃO.
Quando Daniel recebeu as revelações acerca dos acontecimentos escatológicos, ele ouviu a pergunta de um ser que dizia: “Quando se cumprirão essas maravilhas?” depois o próprio Daniel indaga: “meu senhor, qual será o fim destas coisas?” Em nenhum momento Deus se deteve a responder acerca do tempo.
Jesus foi indagado por seus discípulos: “Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação dos séculos.” O Senhor Jesus lhes respondeu dando alguns sinais e eventos que precederiam a queda de Jerusalém e o tempo do fim. Um futuro imediato e a consumação escatológica. Após a ressurreição de Jesus os discípulos voltaram a expor suas preocupações com o tempo da vinda do reino. “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para a sua exclusiva autoridade.” (At. 1:7) Mas, o homem continua a indagar: Quando será o fim? A quase dois mil anos o apóstolo Pedro fala dos escarnecedores que diziam: “Onde está a promessa da sua vinda?” porque julgavam a promessa demorada. (IPd.3:4,9)
O apóstolo João ouviu a voz dos mártires clamando em grande voz: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (Ap. 6:10)
O retorno do Senhor Jesus, o estabelecimento final e concreto do seu reino, nós não sabemos o tempo, nem especulamos acerca disto, mas procuraremos entender como o Senhor Jesus e os apóstolos trataram o assunto, identificando o que de fato deve nos preocupar e dando algumas razões da sua aparente demora.
“Jesus é movido em primeiro lugar pelo teocentrismo e não pela escatologia; em última análise revelar a Deus e o tornar visível no seu ser de Senhor e de Pai é mais fundamental para Jesus que anunciar a proximidade do reino(…) Cristo como Filho deste Pai, é o princípio hermenêutico de todas as afirmações escatológicas.” 11. Ele é o amem para todas as promessas de Deus.
Porém, o Mestre divino não deixou os discípulos sem respostas e ofereceu-lhes alguns sinais escatológicos, mas assegura que ainda não é o fim, e, de imediato lhes propôs o que na verdade deveria preocupá-los. Antes da sua vinda, o mundo deveria ouvir o testemunho e a pregação do evangelho, que é na verdade a mensagem do reino que está presente de um modo espiritual e que deve ser levado até a última fronteira. “O reino, era esperado para o final da história mas veio na história de um modo inaugural antecipando sua vinda apocalíptica.” 12
O Senhor Jesus traça, no entanto, alguns acontecimentos que servirão de indicadores do tempo do fim, mas segundo o Dr. Russell Shedd, “Todos estes sinais apenas criam o ambiente para a manifestação do grande sinal, a pregação do evangelho até aos confins da terra.” 13 “E será pregado o evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.” (Mt. 24:14) Ele profetiza acerca do fim falando de um período muito mais distante que a destruição de Jerusalém. Ele aponta o período em que se dará a evangelização mundial, a profecia tem uma abrangência muito maior que Mateus poderia imaginar, nós, a Igreja apostólica podemos presenciar nesta geração uma expansão bem maior. Segundo o pesquisador Ralph Winter, nunca em toda história da Igreja tem havido tantas conversões como em nossos dias. Porém ainda temos 140 tribos brasileiras sem conhecer a Jesus. Temos 8.000 povos ainda esperando o anúncio da redenção pela primeira vez. São bilhões que ainda não creram. O fim virá quando o Evangelho se espalhar entre todas as nações, fato que haverá de preceder imediatamente o estabelecimento do reino eterno.
A Igreja em todos os séculos deve aguardar a vinda do Senhor Jesus como a Igreja primitiva, esperando o fim em nossos próprios dias. A expectativa do fim, deve ser um estimulante da ação missionária da Igreja. “Os discípulos de Jesus não deveriam esquecer sua grande tarefa por causa da expectação do reino. Esta tarefa é para ser realizada entre a ascensão de Jesus e parousia do Filho do Homem. Eles deveriam assumir a vocação à luz da salvação já revelada e doada na sua vinda ao mundo.” 14
A nossa preocupação escatológica deve ser a preocupação Joanina. Segundo George E. Ladd a sua preocupação é com o destino dos homens, não com destino dos cosmos. O que inquietava o seu coração era a vida eterna, que é a entrada no reino de Deus, porque Deus se decidiu definitivamente pela salvação pela salvação dos homens.
Na perspectiva do Senhor Jesus, à luz de Marcos 1:15, o reino de Deus é uma realidade presente para ser recebida agora, a qual defini a posição futura e prepara o homem para entrar no Reino de Deus, porvir. “Sendo assim, presente e futuro são inseparáveis, o reino de Deus presente, é também uma bênção escatológica.” 15. A vida do reino é experimentada em dois estágios: presente e futuro. Ela é para ser gozada tanto aqui como na eternidade. Por isso, “Falando sobre o seu retorno, o Senhor Jesus não fala de um segundo evento escatológico, mas da consumação e da fruição que está sendo trazido ao cumprimento.” 16
Fica claro então, que a Igreja deve lidar com a tensão do reino que já veio e o reino que virá. “Quando os profetas do Antigo Testamento declaravam: ‘O dia do Senhor está perto'(Is.56:11; Jl 3:14;Zc.1:14); eles ainda tinham uma perspectiva futura. Eles eram capazes de sustentar o presente e o futuro juntos numa tensão não resolvida. A tensão entre a iminência e a demora numa expectação do fim é uma característica de toda escatologia bíblica.” 17
O Senhor Jesus trabalhou com seus discípulos para fazê-los entender essa tensão. Ele mesmo se colocou como o reino escatógico de Deus que emergiu dentro da história. “Para Jesus, a vinda do Reino eqüivale à vinda de Deus em pessoa. A vinda do reino para Jesus, é, em primeiro lugar, a manifestação da soberania do que Deus mesmo fará, é a realização da santificação do seu Nome. E neste sentido o Reino de Deus, para Jesus, é exclusivamente obra de Deus.” 18 A era messiânica chegou e as profecias nele se cumpriram. Após a descida do Espírito Santo foi possível os discípulos perceberem essa verdade, mesmo, ainda sob a tensão do tempo.
Quando o apóstolo Pedro se levantou no dia de Pentecostes explicou aos seus ouvintes a vinda do reino na pessoa de Cristo: “Deus cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer.” E imediatamente revela a expectação da sua vinda: “(…) e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou pela boca de seus santos profetas desde a antigüidade” (At. 3:18,20,21).
Pedro anuncia que Ele veio e que Ele virá. O reino de Deus é o desenrolar da história, tem um já agora e ainda não. É a história que se cumpre desde os tempos passados em toda revelação vétero-testamentária, que se cumpriu nos tempos da comunidade neo-testamentária, que se cumpre hoje com o avanço da Igreja no cumprimento da sua missão, e que se cumprirá até que Ele venha. Por isso, os que estão no reino não devem deixar de clamar: Venha o teu reino! Esta é a meta da história, o reino escatológico.
Refutando aos escarnecedores que julgavam a demora do cumprimento da promessa da sua parousia, com a qual viria o reino escatológico em sua plenitude, Pedro declara:
Primeiro – A fidelidade da Palavra de Deus – A promessa da sua vinda é tão certa, como os céus e a terra que agora existem, porque a Palavra do Criador, que trouxe o universo à existência é a mesma que procede da boca do Senhor garantindo seu segundo advento.
Segundo – O Juízo divino é inevitável! Assim como o dilúvio expressou o juízo divino para a geração de Noé, o juízo final é uma realidade, porque “Os céus e a terra estão entesourados para o fogo, estando reservados para o dia do Juízo e a destruição dos ímpios.” (3:7)
Terceiro – A julgada demora da sua vinda é uma expressão da longanimidade de Deus em harmonia com o propósito de sua graça, necessária para a plenitude dos salvos ser alcançada.”Não retarda o Senhor a sua promessa, (…)pelo contrário, Ele é longânimo para conosco.” (3:9) O caráter misericordioso de Deus tarda a sua ira e o julgamento final, Ele espera para que o homem se arrependa e aguarda o retorno das ovelhas perdidas. Sua paciência também é aplicada à Igreja que tem sido falha na sua missão. Deus está trabalhando com longanimidade em suportar a nossa indiferença com a situação dos povos. Para entender a sua paciência, precisamos olhar para o seu caráter bondoso. “A bondade radical de Deus apareceu no meio dos homens através de Jesus(…) Ele integra a sua compreensão de Deus como Pai bondoso dentro do seu anúncio da vinda do reino, da sua mensagem escatológica.” 19
Quarto – A sua aparente demora prova seu amor pelos pecadores. Porque Ele ama, Ele continua a dar oportunidade para o arrependimento. Só Ele na sua onisciência sabe o horror de uma eternidade, onde o fogo não queima e onde haverá choro e ranger de dentes.(Mt.13:42;25:41; Ap.21:8)
Sua compaixão nos eleitos já alcançados, deve ser revelada aos bilhões que ainda estão sob a ira da condenação eterna. A misericórdia divina é tão infinita que ultrapassa qualquer cômputo de tempo.
Quinto -A sua longanimidade sustenta o seu querer: “não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” (v.9) Como porém se arrependerão se não ouvirem do seu perdão? E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados? Diante desse desafio, Pedro fala que devemos esperar e apressar a vinda do Dia de Deus, (v.12) Só há uma forma de antecipar a sua vinda, pregar as Boas Novas a cada criatura, e fazer discípulos de todas as nações! Temos o grande privilégio e a grande responsabilidade de apressar a vinda do Senhor. “Lembrando que a graça preocupa o Senhor mais do que o juízo.” 20 Por isso, a Igreja deve assumir o compromisso da obediência missionária e cumprir a sua missão – evangelização mundial.
Sexto – A longanimidade é prova da sua justiça. O Senhor Jesus declarou para Israel: “Enchei vós, pois, a medida de vossos pais(…) para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra.” (Mt.23:32,35) O nosso Deus tem uma medida extensa para suportar a iniquidade, porque quando estabelecer o julgamento, terá todas as provas necessárias para aplicação da sua justiça que é perfeitamente reta. A resposta divina ao clamor dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam foi que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos mártires. Então, Ele julgará o sangue dos justos. . (Ap. 6:9-11)
Sétimo – Pedro responde que Deus tem o tempo determinado, porque Ele não cronometra o tempo como nós, Ele é o Senhor do tempo. porque “(…)para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia.”(v.8) Então não há demora. A nossa fé, deve formar uma nova mentalidade, nos pondo em direção a uma nova categoria de tempo, a eternidade.
CONCLUSÃO:
Que posição devemos tomar diante da realidade do reino já presente e do reino futuro, ou o reino espiritual e o reino escatológico?
Para o reino presente devemos: Ser responsáveis pela expressão do reino na era presente, isto é, não viver alienado do mundo, mas influenciá-lo com o nosso testemunho de vida, com uma conduta digna e uma ética cristã, que possa ser a expressão do reino de Deus. Com um compromisso sério com a missão integral da Igreja, lutando pela transformação social como sal e luz do mundo, fazendo diferença em todos os segmentos da sociedade. Expressar o caráter do reino em todas as suas dimensões, e isso não significa fazer algo para Deus, mas o como fazemos. Porque servir a Deus está muito mais relacionado com o como fazemos do que com o que fazemos. Não importa se temos formação teológica e missiológica se usamos tecnologia de ponta no nosso ministério ou se somos um simples membro da igreja, se trabalhamos de tempo integral ou se usamos a nossa profissão à serviço do reino, o que importa é que tudo que façamos para Deus expresse as virtudes do seu reino. “Visto que, o reino de Deus não é simples sinônimo de justiça e paz social, mas é uma nova ordem de todas as coisas, de tudo que é bom, justo, puro e de tudo que compõe a realidade da vida presente e porvir em todas as suas dimensões.” 21
Para o reino futuro devemos: Ser responsáveis pela expansão do reino. Possuir um senso de urgência sentindo a pressão da iminência do tempo do fim. Estar consciente de que a vinda do reino escatológico em sua plenitude é precedida pela pregação do evangelho, por isso devemos dispor a nossa vida e tudo que temos para cumprir a missão de expandir o reino entre todas as nações. Comprometer-nos com a obediência missionária, como participante ativo na evangelização mundial, seja na missão de interceder, na missão de prover o sustento financeiro, na missão de enviar, na missão de ir e proclamar que as bodas do Cordeiro já está preparada, e que ainda há lugar, pois urge que a Casa do nosso Senhor se encha. Depender da sua presença até a consumação dos séculos, assegurando-nos que a tarefa continua inacabada até que Ele venha. Outro componente deve ter lugar em nossa perspectiva escatológica, a certeza, na linguagem apostólica, a firme esperança de que estaremos diante do trono de Deus e do Cordeiro, com aqueles que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, porque cumprimos a nossa missão e poderemos proclamar juntos e em grande voz: “Digno é o Cordeiro, que foi morto de receber o poder, e riqueza e sabedoria, e força, e honra, e glória e louvor e domínio pelos séculos dos séculos.” (Ap.5:9,12)
Bibliografia:
1 – Claus Schwambach. Escatologia. Apostila do Curso Avançado em Teologia e Bíblia. Faculdade Luterana de Teologia do CETEOL. S. Bento do Sul.2001. p.3
2 – Neutzling, Inácio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo 1986. p.50
3 – Claus Schwambach. Escatologia. Apostila do Curso Avançado em Teologia e Bíblia. Faculdade Luterana de Teologia do CETEOL. S. Bento do Sul.2001. p.3
4 – Stephen Jay Gould. Entrevistas sobre o fim dos tempos. Ed. Rocco. Rio de Janeiro- 1999 p. 13,15,16
5 – Stephen Jay Gould. Entrevistas sobre o fim dos tempos. Ed. Rocco. Rio de Janeiro- 1999 p. 18
6 – Magno Paganèlli, “…E então virá o fim.” Ed. Bom Pastor. São Paulo,1995, p.53
7 – Brakemeier. Gottfried . O Reino de Deus e esperança Apocalíptica. Ed. Sinodal S. Leopoldo 1984 p. 26
8 – Linhares, Araújo, Osmir. Análise de Isaías. Apostila do curso de Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia. Seminário do Betel Brasileiro. São Paulo. 2001
9 – – Brakemeier. Gottfried . O Reino de Deus e esperança Apocalíptica. Ed. Sinodal S. Leopoldo 1984 p. 40
10 – Kirschner. Estevan, F. Mateus 28:18-20. Missão Conforme Jesus Cristo Revista Vox Scriptural vol. VI, n º2,Dez/1996. P. 40
11 – Neutzling.Inácio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo. 1986 p. 63
12 – Darci Dusilek. Missão Integral e Escatologia. In A Missão da Igreja. Missão Editora. 1994 p. 90
13 – Shedd,Russell. Bíblia Shedd. Ed. Vida Nova, 1998 p. 1370
14 -Ridderbos, Herman. The Coming of the Kingdom. The Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1962 p. 517
15 -Ladd,George,Eldon. A Theology of the New Testament -Library of Congress Cataloging in Publication 1977 p. 301
16- Ladd,George,Eldon. A Theology of the New Testament -Library of Congress Cataloging in Publication 1977 p. 303
17 – Ladd,George,Eldon. A Theology of the New Testament -Library of Congress Cataloging in Publication 1977 p. 210
18 – Neutzling. Inácio, S. J.O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo 1986 p.40
19 – Neutzling. Inácio, S. J.O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola. São Paulo 1986 p.60-61
20 – Shedd,Russell. Bíblia Shedd. Ed. Vida Nova, 1998 p. 1744
21 — Brakemeier. Gottfried . O Reino de Deus e esperança Apocalíptica. Ed. Sinodal S. Leopoldo 1984 p.17
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