Quando era adolescente, recém começando a frequentar a Igreja Presbiteriana de minha cidade, ali pelos meus 14 anos de idade, ouvi um sermão cujo título nunca me esqueci e lá se vão 48 anos. O pregador, que nunca mais viria a ver ou ouvir era o Rev. Oscar Chaves que foi pastor da Igreja Presbiteriana de Santo André. Recentemente vim a conhecer seu filho, Eduardo Chaves, que veio dar um curso na FTSA, e tenho por muitos anos pastor de seu sobrinho, Elcio.
O título do sermão naquela noite foi: “É possível nos decepcionarmos com Cristo?”.
Naturalmente, naquele momento, eu pensei que aquilo seria uma impossibilidade. Como alguém poderia ficar decepcionado com Jesus Cristo? Como isso seria possível.
João Batista encontrava-se na prisão. Sua mensagem vibrante, mas extremamente acusatória das injustiças cometidas e principalmente do abuso de poder tanto das autoridades religiosas bem como seculares, o havia levado ao encarceramento.
João Batista era uma figura notável. Sua vida e seu ministério eram o cumprimento de uma das promessas mais importantes do Antigo Testamento: “Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim…” (Malaquias 3:1). Ele era a voz que clamava no deserto. Clamava por justiça e por arrependimento. Anunciava a chegada de um novo tempo e de uma pessoa muito mais importante do que ele. Pessoa da qual ele não era apto nem para amarrar suas sandálias. A respeito dessa pessoa ele queria ser cada vez mais insignificante.
Certo dia, ao ver que se aproximava dele esse homem para ser por ele batizado, diz: “Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”. Ao proceder com o batismo ele ouve uma voz celestial que anunciava que aquele homem era o Filho de Deus e sobre o qual estava todo o prazer de Deus.
João não tinha absolutamente nenhuma dúvida de que Jesus Cristo era o Messias enviado por Deus.
Não tinha dúvidas até o dia em Herodes o coloca na prisão. No início do encarceramento é bem provável que ele não tenha se preocupado tanto. Ouviu, por meio de seus discípulos, que Jesus realizava grandes obras, fazia milagres extraordinários. Certamente, pensava ele, Jesus deve aparecer por aqui e libertar-me das garras do inimigo.
O tempo vai passando e nada acontece. Nesse dia, mesmo tendo tido certezas a respeito de Jesus, ele dúvida.
Por esse tempo, enquanto espera, surge um boato da prisão que haverá uma grande festa no palácio e que a cabeça de um prisioneiro será oferecida em um prato. Alguém morrerá brevemente. Os olhos dos presos se voltam para João. Era o único que havia ofendido ao rei. Não havia dúvidas de que ele era o candidato à morte.
João, angustiado, chama a dois de seus discípulos e dá a eles uma incumbência: Perguntem a Jesus se ele é a pessoa que estamos esperando ou devemos esperar outro? Ele é mesmo a pessoa que eu batizei e de quem falei tantas coisas boas e bonitas ou estava enganado? Ele é o enviado de Deus ou devemos esperar outro?
João usa o grego héteros para designar o termo “outro”. Outro diferente, de outra natureza ou espécie. “Devemos esperar outro diferente do que você é, porque aparentemente você não resolve minha situação e quem sabe outro diferente poderia resolver”.
Há muitos momentos em nossas vidas que mesmo tendo certezas a respeito de Jesus, nós duvidamos.
Nós duvidamos porque ele não satisfaz os nossos desejos, não preenche as nossas expectativas, não responde ao que oramos, não nos tira da enfermidade, não afasta a adversidade. Queríamos que todas essas coisas sumissem. Queríamos que Jesus, num estalar dos dedos, realizasse algo extraordinário, milagroso.
Mas nada acontece. Surgem então as pessoas que vão consertar as coisas, aprumar a sua fé.
– Você já jejuou sobre isso? Você então faz o jejum de sete dias, de Daniel e tantos outros. Olha pela janela para ver se Jesus está vindo e nenhum sinal dele.
– Você já fez a campanha dos sete cestos? Você faz. Demora um pouco mais porque na terceira semana não pode ir e teve que começar tudo de novo. Olha pela janela para ver se Jesus está vindo e nenhum sinal dele.
– Você já fez a oferta sacrificial no altar? Você não sabe bem o que é isso, pergunta por ai e faz. Olha pela janela para ver se Jesus está vindo e nenhum sinal dele.
– Você já foi à tarde da fé, da esperança, do amor, da bondade, da felicidade, da vitória, do fogo do céu? Você já deve ter ido, mas não frequentava mais. Passa a frequentar. Olha pela janela para ver se Jesus está vindo e nenhum sinal dele.
É você mesmo ou devemos esperar outro?
Se for você mesmo, porque não faz alguma coisa? Se for você mesmo, porque não cura? Se for você mesmo, porque não me acha um emprego? Se for você mesmo, porque o meu filho não se livra das drogas? Todos nós já fizemos essas perguntas. Na verdade não há nada de errado com elas. São humanas, devem ser feitas.
O que você e eu precisamos entender é que a vida segue (ou não) mesmo quando Jesus não realiza ou não atende aos meus pedidos.
És tu o Cristo ou devemos esperar outro?
Jesus responde sem responder diretamente ao que foi perguntado. Não diz sim e não diz não.
Diz aos discípulos que eles deveriam informar a João o que eles estavam vendo: “Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho (Mateus 11:5).
Jesus faz referência a uma profecia de Isaías 61. Ele é o cumprimento daquela profecia. Ele é o Messias e não há outro. Não virá outra pessoa diferente de mim. Eu sou o enviado de Deus.
Os discípulos devem ter informado isso a João, pois não retornam mais a Jesus.
João Batista morre e isso não alterou em nada o que Jesus era. Jesus não seria mais do que ele era se tivesse livrado João, como também não se tornou menos do que era por não ter livrado João. Jesus não precisa fazer nada para provar que ele é ele e não há outro.
A situação de João também não se altera. É certo que ele morreu naquela prisão, mas o seu status com Jesus jamais foi modificado. O que Jesus pensava de João, ele continuou pensando.
Assim, é possível nos decepcionarmos com Jesus?
A resposta é sim! Se o Jesus que você crê é o Jesus que vai fazer tudo o que você quer que ele faça, você ficará frustrado e se perguntará: “Vale a pena crer nesse Jesus, afinal ele não faz nada do que eu peço ou preciso!”.
Eu e você cremos, não porque ele faz, mas porque ele é. “Eu sou,” disse ele.
Essa é a grande e verdadeira vitória do cristianismo: “porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia (2 Timóteo 1:12). Essa é a fé que vence o mundo, ultrapassa tempos e eras e nos leva para a eternidade ao lado daquele que nos amou e continua nos amando.
Fique na paz!
Antonio Carlos Barro
Visite o site www.sermão.com.br
Graça e paz! Quando,em ‘minha igreja’, me refiro a algum sermão que ouvi,a apenas,dez ou vinte anos,alguns riem, outros, ainda, se admiram de algo recente…
Acredito que isso acontece por causa do nível espiritual do pregador,do qual o irmão fez questão de se referir e,para mim,reverenciou. ”-…a quem honra, honra.” Um abraço!
gloria a Deus
AC faltou a pergunta que você usou no seu sermão pregado em meados de 1998 neste mesmo tema: “O Jesus que já veio é o Jesus que eu quero?”
Deus continue a abençoar o seu ministério.
muito eficaz!!!!
Saudações a todos.
Para respaldar o “ministério de João Batista”, aparece a citação de Malaquias 3. Isso é, com todo respeito aos seguidores do Cristianismo, um absurdo, pois tal profecia se dirige a ISRAEL pelo contexto inicial. Espiritualizar este texto para defender legado de João Batista é um erro interpretativo e religioso.
Sem contar o fato de que a suposta revelação dada ao tido profeta em João 1:29 de nada valeu, se ele mandou seus discípulos indagarem “Jesus”.