Autor: Philip Yancey
Uma olhada em torno do globo
revela um Deus tão grande quanto queremos que seja.
Um amigo meu retornou recentemente de uma visita a países asiáticos em que os cristão são perseguidos. Os cristãos da Malásia disseram-lhe: ‘Somos muito abençoados, pois na Indonésia eles matam cristãos, mas aqui temos apenas de lidar com a discriminação e restrições a nossas atividades.’ Na Indonésia, onde na verdade os cristãos estão morrendo por causa de sua fé, disseram-lhe: ‘Somos muito abençoados, pois na Malásia não podem divulgar livremente o evangelho. Aqui, ainda podemos fazer isso.’
Em minhas viagens além-mar, observei uma notável distinção nas orações proferidas. Os cristãos em países opulentos, quando surgem as dificuldades, costumam orar: ‘Senhor, afasta esta provação de nós!’. Já ouvi cristãos perseguidos, como também alguns que moram em países muito pobres, orarem: ‘Senhor, dê-nos força para suportar esta provação.’
Curioso! Perguntei a um missionário que já estava no ministério havia muito tempo e que já fizera dezenas de viagens para a China, a fim de visitar igrejas clandestinas que se reúnem nas casas, se os cristãos de lá oram por mudança nas políticas restritivas do governo. Ele respondeu que nem uma vez sequer ouviu um cristão chinês orar por libertação. Ele disse: ‘Eles apenas partem do pressuposto que enfrentarão a oposição. Não imaginam nada diferente disso.’ Depois, deu-me alguns exemplos da oposição que enfrentam lá.
Um pastor ficou preso por 27 anos, em regime de trabalhos forçados, apenas por dirigir reuniões de uma igreja clandestina. Quando ele saiu da prisão e voltou para a igreja, anunciou que fizera uma contagem diária em seu perigoso trabalho e que conectara um milhão de vagões de trens sem sofrer nenhum ferimento. Ele regozijou-se:
‘Deus respondeu as preces de vocês por minha segurança!’. Um outro pastor que também foi preso, ficou sabendo que sua esposa estava ficando cega. Desesperado, dirigiu-se ao diretor do presídio e anunciou que renunciaria a sua fé. Ele foi solto, mas logo se sentiu tão culpado que retornou sozinho para a prisão. Ele passou os 30 anos seguintes na prisão. No ano passado, visitei o Brasil e as Filipinas, dois países relativamente pobres em que a igreja apresenta um crescimento explosivo. Grupos locais convidaram-me para levar encorajamento à igreja, mas acabei sendo encorajado por eles. Em ambos os lugares, quando as pessoas recebem literatura cristã nas ruas, elas páram e a lêem; e quando são convidados para um encontro cristão, eles realmente vão. Nem mesmo a mídia utiliza o verniz do cinismo. Os cantores populares se convertem e falam abertamente sobre sua fé; os evangélicos escrevem, em jornais diários, colunas dedicadas à estruturação da fé. Em Manila, uma igreja na qual estive mantém cinco cultos aos domingos: 2 000 pessoas comparecem ao primeiro – às 5:00 horas da manhã.
Esses países estão em ‘lua-de-mel’ com o cristianismo. O evangelho ainda soa como as boas novas para eles. Encontrei brasileiros que acolhem em suas famílias crianças de rua sem lar e levam comida para prisioneiros – de maneira voluntária, não por meio de nenhum programa organizado. Vilarejos pobres que nunca ouviram falar em ‘justiça social’ ou em ‘teologia da libertação’ vêem sua posição econômica melhorar, quando o chefe da casa, agora convertido, para de beber, chega ao trabalho no horário e começa a agir como cidadão responsável.
Outros países estão na fase do ‘divórcio.’ No último ano, também visitei a Dinamarca, um país que compete com a Tchecoslováquia para saber qual deles tem a mais baixa taxa de comparecimento à igreja. As torres das igrejas irrompem os céus cinzentos, mas apenas os turistas se dão ao trabalho de entrar nelas. Ninguém conseguiu mencionar um único lugar em que pudesse encontrar qualquer coisa relacionada ao mais famoso cristão dinamarquês, Sören Kierkegaard. No museu nacional, uma placa explica que a cruz, outrora um símbolo religioso da Dinamarca, agora é considerada uma relíquia cultural.
Alguns países estão na fase do ‘casamento amadurecido.’ Nos Estados Unidos, aproximadamente metade de nós exerce alguma função na igreja em determinados domingos, e os cristãos estão visivelmente presentes nos campi universitários e em todas as profissões importantes. Políticos que concorrem a um cargo competem uns com os outros em apelos ao eleitorado religioso. Entretanto, algumas vezes, tanto a igreja quanto as agências cristãs parecem funcionar mais como uma indústria do que como um corpo vivo. Pagamos a outros para que tomem conta dos órfãos e visitem os prisioneiros, pagamos profissionais para conduzir a adoração. Sair de uma igreja do Brasil para uma dos Estados Unidos é como sair de uma feira em um condado do sul, em que todos cuidam da vaca e afugentam os porcos
, para o reino animal do mundo Disney, em que você paga uma entrada principalmente para ver animais (alguns dos quais são mecânicos) detrás de uma grade. No último ano, na conferência de Billy Graham, em Amsterdã, um locutor anunciou que agora os cristãos de países ocidentais desenvolvidos representam 37% dos crentes do mundo. À medida que viajo, observo um padrão, um estranho fenômeno histórico em que Deus se ‘movimenta’ geograficamente do Oriente Médio para a Europa, de lá para os Estados Unidos e daí para o mundo em desenvolvimento. Tenho uma teoria: Deus vai onde precisam dele. Esse é um pensamento assustador em um país como os Estados Unidos que tem uma economia robusta e 500 canais de televisão a cabo para propiciar diversão e entretenimento, isso para não mencionar a Disney World.
Tradução: Lena Aranha
(Christianity Today, 5 de fevereiro de 2001, Vol. 45, Nr. 2, Página 136)