Autor: Calmeiro Matias
Fomos eleitos por Deus como seus colaboradores na obra da Criação. Para isso o Senhor nos criou à sua imagem, isto é, pessoas capazes de se relacionarem amorosamente com as criaturas e com o criador.
Apesar de chamados a colaborar com Deus, a nossa relação com a criação tem sido marcada pelo abuso e a insensatez.
Devido à falta de atenção para com a natureza, a Humanidade está muito perto de sofrer as consequências de um verdadeiro desastre ecológico.
Na base das nossas atitudes irresponsáveis está a ganância de um progresso sem controlo e a falta de atenção às exigências do equilíbrio ecológico bem como uma exploração desenfreada dos recursos da natureza.
Outro aspecto da nossa relação irresponsável para com a terra é o problema da poluição. São cada vez mais claros os sinais de que estamos a afectar gravemente o equilíbrio do ecossistema.
Convertemos a natureza num recipiente de lixos tóxicos, ao ponto de já serem muitos os sinais de saturação e rotura no nosso ecossistema.
O problema da poluição assenta em diversos pilares fundamentais e interactivos: atmosfera, energia solar, circulação dos ventos, extensões de água, fauna, flora e vida humana.
Os resíduos provocados pela actividade humana, uma vez lançados na natureza, são absorvidos e entram nos diversos circuitos da natureza, provocando desequilíbrios a nível da atmosfera, da hidrosfera e dos climas, criando problemas muito sérios para os seres vivos, tanto das plantas como dos animais e a da própria Humanidade.
Dos diversos desequilíbrios do ecossistema resultam a poluição do ambiente, o efeito estufa, a destruição da camada de ozone, as chuvas ácidas e a alteração dos climas.
Tudo isto põe em causa a nossa sobrevivência. Trata-se, portanto, não apenas de um pecado contra Deus, autor da natureza, como também de um pecado grave contra a Humanidade. Na verdade o pecado é sempre uma recusa de amor contra Deus e os homens.
O progresso industrial descontrolado e a utilização irresponsável dos recursos naturais está a gerar uma grave crise energética, bem como uma grave desigualdade entre os povos. Os dez países mais industrializados consomem 75% das energias disponíveis.
Vem depois a crise de matérias primas. Para satisfazer as exigências de produção o homem apodera-se das fontes de matérias primas, as quais são limitadas. 5, 6% da população mundial (Estados Unidos) consome 40% das matérias primas e provoca 50% da poluição atmosférica e hídrica.
Se a Humanidade continuar neste ritmo irresponsável e injusto pode provocar num curto espaço de tempo desequilíbrios muito graves capazes de pôr em perigo a continuidade da vida sobre a Terra.
Os cristãos sabem pela fé que o Universo é obra de Deus. Sabem que a Terra é a morada que Deus concedeu amorosamente ao Homem, a fim de este a cuidar com um sentido de fidelidade ao projecto do Criador. Este projecto engloba uma opção pela justiça e a fraternidade.
A nossa fé interpela-nos não apenas no sentido de agir de acordo com a defesa da natureza, mas igualmente a denunciar os abusos que o Homem comete contra a mesma natureza.
A Terra é um dom do amor de Deus. Estamos chamados a ser colaboradores de Deus na obra da Criação. Por outras palavras, Deus chama-nos a pôr a Terra ao serviço da vida e da dignidade humana.
A Bíblia diz que Deus, ao criar o Homem à sua imagem e semelhança, colocou-o à frente da criação e convidou-o a orientá-la segundo o seu projecto Criador (Gn 1, 27-30).
Deus convida-nos a proteger a Terra e a cuidá-la com solicitude, a fim de a vida se desenvolver de modo equilibrado e feliz.
Destruir a natureza é agir contra Deus e o Homem. A Terra é um dom de Deus para todos os homens e para todas as gerações. Isto significa que cada geração tem o direito de usufruir dos bens da Terra e o dever de a cuidar e proteger, a fim de a entregar às gerações seguintes como uma morada para o bem-estar e humanização das pessoas.
Isto faz-nos compreender como os homens de uma geração determinada não são os donos absolutos da Terra. Esta é também um dom de Deus para as gerações futuras.
Pôr em perigo o equilíbrio do ecossistema é pôr em perigo o futuro das gerações seguintes. É impedir a Humanidade de continuar a emergir e deste modo, impedir o projecto humano de crescer.
Este procedimento empobrece a comunhão humana universal, pois esta será tanto mais rica quanto maior for a multidão das pessoas que a compõem e mais profunda a realização pessoal das mesmas.
De facto, as pessoas são o património da comunhão universal da Humanidade. Segundo a visão cristã esta comunhão humana universal é o Reino de Deus. Provocar um fim violento à emergência da Humanidade é impedir o Reino de Deus de continuar a crescer.
Os cristãos devem defender e trabalhar por um equilíbrio constante entre respeito pela natureza, utilização dos recursos da Terra, sentido de solidariedade com as gerações futuras e respeito pelo projecto do Criador.
Os homens de cada geração têm o direito de utilizar os bens da Terra, a fim de se poderem humanizar. Têm igualmente o dever de aperfeiçoar as condições de vida nesta morada que Deus nos deu, a fim de a transmitirem como gesto de amor fraterno às gerações futuras.
A solidariedade e o amor para com as gerações vindouras exige de nós um profundo respeito pela conservação e protecção da natureza.
Os poderes políticos e sobretudo os devem sentir-se interpelados no sentido de defender a Terra, condição para a sobrevivência da Humanidade. Para isso devem fazer projectos marcados por critérios ecológicos. É esta a maneira de estarem ao serviço da Humanidade total, a qual inclui não apenas os homens que já existiram e os que existem hoje, mas igualmente os milhões de convidados possíveis para a festa da vida. Seria um pecado muito grave fechar-lhes a porta ao banquete a que têm direito.
A solidariedade com a qualidade de vida das gerações futuras exige à nossa geração um profundo respeito pela conservação e protecção da natureza.
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