Deus e o zelo pela evangelização

Autor: R. B. Kuiper
O Zelo Noutra Época

Os reformadores do século dezesseis e as igrejas da Reforma têm sido acusados muitas vezes de indiferença para com a evangelização. Por estranho que pareça, essa acusação tem sido lançada contra eles não só por escritores católico-romanos, mas também por protestantes. Admitindo que o entusiasmo protestante pelas missões alcançou os pontos mais altos nos séculos dezenove e vinte, os que fazem a acima referida acusação fazem vista grossa para vários fatos.

Os reformadores se lançaram a uma estrênua campanha visando à evangelização da Europa. Programaram as mais intensas missões domésticas. E é bom que se diga enfaticamente que as missões domésticas não são nem um pouco menos dignas do que as missões estrangeiras. A Bíblia foi traduzida para o vernáculo, para a língua comum do povo. Ao passo que na igreja romana o ritual tinha sobrecarregado o Evangelho, o protestantismo dava ênfase na pregação como a principal tarefa da igreja. Homens de todos os cantos do continente, bem como das ilhas britânicas, sentavam-se aos pés de Calvino e dele aprendiam a proclamar a Palavra de Deus. Além disso, o reformador genebrino mantinha correspondência verdadeiramente cosmopolita, no interesse do Evangelho. A alguém da Inglaterra ele escreveu: “Deus criou o mundo inteiro para que fosse o teatro de Sua glória pela propagação do Seu Evangelho.”

Quanto às missões estrangeiras, as igrejas da Reforma tiveram duas desvantagens. Estavam envolvidas em dura luta por sua própria existência, e muitas das terras recém-descobertas na Ásia, na África e na América estavam sob o domínio de nações católico-romanas como a Espanha e Portugal, intolerantes para com o protestantismo.

Considerando esses obstáculos, é verdadeiramente espantoso como o protestantismo foi tão ativo na evangelização de terras estrangeiras. Já em 1555 Calvino e o almirante Coligny, huguenote francês, organizou uma missão para o Brasil. Calvino conseguiu pessoalmente quatro missionários para aquele projeto, equipe que foi acrescida de mais oito, graças à colaboração de calvinistas residentes fora de Genebra. Devido à perseguição católico-romana, cinco daqueles missionários foram assassinados e os demais foram repatriados à Europa. Em 1559, o sueco Gustav Wasa levou o Evangelho à Lapônia. Em 1577, Wenceslau Budovatz, calvinista húngaro, iniciou as missões na Turquia maometana. Escreveu uma defesa da fé cristã para os muçulmanos. O Sínodo de Dort, que elaborou os chamados cinco pontos do calvinismo, preocupou-se seriamente com as missões estrangeiras. Isso foi em 1618 e 1619. Em 1622 foi fundado em Leyden um seminário calvinista para o preparo de missionários. Embora envolvido em sua guerra de independência da Espanha, o protestantismo holandês mandou missionários para as Índias Orientais e para o Celião. Atendendo aos apelos de pastores ingleses e escoceses, o Parlamento decretou uma lei criando a “Corporação para a Propagação do Evangelho na Nova Inglaterra”. Em 1646 ela designou John Eliot como o seu primeiro missionário, e ele fundou dezessete postos missionários entre os índios norte-americanos. Em meados do século dezessete apareceram duas obras sobre missões, pelos holandeses, ambas as quais continuam merecendo atenção no presente. São De Conversione Indorum (Sobre a Conversão dos Índios), de Johanes Hoornbeek, e De Plantatione Ecclesiarum (Sobre a Fundação de Igrejas), de Gijsbertus Voetius. A “Missão Dinamarquesa de Halle” entrou na Índia em 1706. O luterano Thomas V. Weston começou os seus trabalhos na Lapônia em 1727.

O relato acima, incompleto como é, dá a conclusiva evidência de que as igrejas protestantes da Europa estavam ativamente envolvidas nas missões estrangeiras muito antes de William Carey, freqüentemente mencionado como fundador das missões modernas, Ter viajado para as Índias em 1793.

Em vista destes fatos, é difícil explicar a acusação de que as igrejas da Reforma deram pouca, se é que deram alguma, demonstração de interesse pela evangelização. Uma provável explicação talvez esteja na atitude de antipatia da parte dos acusadores para com a teologia da Reforma. Era de esperar que um escritor católico romano como Joseph Schmidlin tivesse preconceito contra aquela teologia, mas mesmo o escritor protestante altamente considerado, que é Júlio Richter, não está por inteiro isento de culpa quanto a isso. Geralmente não se avalia como se deveria avaliar o fato de que a Reforma foi um movimento intensamente doutrinário – como o evidenciam as Noventa e Cinco Teses de Lutero e as Institutas da Religião Cristã de Calvino. E que a doutrina da predestinação, à qual Lutero subscreveu, bem como Calvino, só pode sufocar o zelo evangelístico, é um mal-entendido amplamente difundido. A verdade é que nas Institutas e nos seus comentários, como também nos seus sermões, Calvino manifestou profundo interesse pela propagação do Evangelho a “todos os estados e a todos os povos”. Comentando a Grande Comissão, disse ele: “O Senhor ordena aos ministros do Evangelho que vão longe para pregar a doutrina da salvação em todas as partes do mundo”. Tem-se dito com acerto que a Reforma não foi mais do que um redescobrimento de Paulo. Redescobriu aquele apóstolo como o mestre da doutrina da eleição divina e soberana, mas também como o vaso escolhido por Deus para levar o nome do Senhor perante os gentios (Atos 9.15).

Zelo Sem Conhecimento

Mais de um historiador já contrastaram os períodos em que a igreja estevem empenhada em controvérsia doutrinária com os períodos em que esteve devotada à difusão do Evangelho. Como regra geral, os que traçam aquele contraste censuram a igreja pelos primeiros períodos e a elogiam pelos últimos.

Atitude semelhante prevalece hoje entre os protestantes. Praticamente todos são zelosos pela evangelização, ou ao menos se apresentam como tais. Por outro lado, são poucos os que se interessam pela doutrina cristã. De fato, está generalizada e é atrevidamente defendida a idéia de que esta época é altamente propícia para sepultar nas águas as diferenças que o partiram em muitas denominações no rochedo das divergências doutrinárias. Insiste-se com o máximo empenho em que os missionários protestantes não devem perturbar com tais diferenças aqueles entre os quais trabalham, devendo apresentar uma frente unida. O movimento ecumênico moderno caracteriza-se por um mínimo denominador comum teológico originado nos campos missionários do mundo.

É evidente que seria grande estultícia pedir aos pagãos africanos que tomem partido sobre cada ponto doutrinário que sempre dividiu o protestantismo, e que seria uma atitude irresponsável reproduzir naqueles continentes todas as denominações existentes, digamos, na América do Norte. Entretanto, a atitude mencionada acima – da teologia mínima comum – merece vigorosa condenação.

Quando será que o protestantismo vai se cansar da banal e desorientadora – não, completamente falsa – máxima de que o cristianismo não é doutrina e, sim, vida? É claro que o cristianismo é vida, mas também é doutrina, sem dúvida nenhuma. Para usar uma velha ilustração, reconhecidamente inadequada, a ortodoxia é para o cristianismo o que são os ossos para o corpo. Os ossos, sós, não constituem o corpo. Isolados do restante do corpo, não passam de esqueleto. Assim, a ortodoxia sem a vida, ou, nas palavras de Tiago, “a fé sem as obras é morta” (Tiago 2.26). Mas os ossos também são indispensáveis ao corpo humano. Corpo sem ossos simplesmente não é corpo. Como também o cristianismo, sem doutrina, não é cristianismo. E ninguém pense que os ossos de um corpo vivo são mortos. Eles participam da vida que há no corpo todo. Assim também a doutrina cristã é vital. Mudando o símile e indo além dele, a verdade é o próprio coração ao cristianismo.

Há cordo legal em que o evangelismo deve transmitir a Palavra de Deus. Mas que é que isto significa? Significa que ele deve pregar a Cristo, a Palavra pessoal, de quem uma Bíblia errônea e falível dá testemunho – como dizem o modernismo e a chamada neo-ortodoxia? Ou é preciso manter a posição assumida pela igreja histórica, de que o evangelista deve proclamar a infalível e inerrante Palavra de Deus escrita, como também a Palavra pessoal da Palavra escrita?

Comumente se concorda em que o evangelista deve pregar a Cristo. Mas que Cristo? É óbvio que a resposta a essa pergunta é questão de doutrina. Será o Cristo do modernismo? – um Cristo que não existiu desde toda a eternidade como a Segunda pessoa da Trindade? Um Cristo cujo retrato pintado nos quatro evangelhos é em grande parte mitológico, que não nasceu de uma virgem e cujo corpo de há muito retornou ao pó? Um Cristo que não era divino, ou só era no sentido em que todos os homens são divinos, não merecendo, portanto, culto, ou, quando muito, um Cristo que foi homem que se tornou Deus? Ou é o Cristo da Bíblia, acerca de cuja pessoa e de cujas riquezas a igreja primitiva debateu durante séculos até que finalmente, no ano de 451, o Concílio de Calcedônia, falando pela igreja cristã como um todo, concluiu que Ele é “perfeito quanto à divindade e perfeito quanto à humanidade”, que é “uma pessoa… o Filho Unigênito, Deus Verbo”, e que Suas duas naturezas, a divina e a humana, são “inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis e inseparáveis?”

Também há acordo geral em que o evangelista deve proclamar a salvação. Mas salvação como? – pelos esforços pessoais do pecador ou pela graça de Deus? A cristandade defrontou-se com essa questão já no século quinto. Foi debatida com grande afã por Agostinho, bispo de Hipona, na África, e pelo monge britânico Pelágio. A posição de Agostinho era bíblica, e, daí, crista; e a igreja adotou-a.

Mas a igreja achou difícil manter aquela posição de modo coerente. A heresia dos méritos das boas obras veio pervagar a cristandade. Que o pecador é salvo pelos méritos humanos, em acréscimo aos méritos de Cristo, tornou-se o ensino oficial da igreja. Esse erro doutrinário foi desafiado pela Reforma. O protestantismo insistiu em que os méritos de Cristo constituem a única base da salvação. E esta verdade pertence à própria essência do Evangelho.

Como é evidente que a igreja histórica não estava de modo nenhum perdendo tempo e energia quando se lançava à controvérsia doutrinária! Antes, sob a direção do Espírito da verdade (João 16.13), ela estava defendendo o Evangelho. Se tivesse deixado de fazer a defesa do Evangelho contra a corrupção da heresia, a igreja de hoje não teria Evangelho para proclamar. Também hoje a igreja não tem dever mais solene do que o dever de manter a pureza da doutrina. A execução dessa obrigação não precisa inteferir na evangelização, mas, ao contrário, é do interesse dela e lhe é essencial. Com ela a evangelização cristã permanece ou cai.

Nenhum evangelista mais zeloso do que o apóstolo Paulo jamais pisou na terra. E ele também se meteu em controvérsia doutrinária. E não o fez com moleza. Ele declarou militantemente: “Ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gálatas 1.8) Era zeloso da sã doutrina porque era zeloso da evangelização. Seu zelo por uma irmanava-se ao zelo pela outra. Formavam uma só peça.

Zelo pela evangelização divorciado do interesse pela doutrina cristã é zelo “não com entendimento” (Romanos 10.2).

Esse tipo de zelo se manifesta patentemente na negligência quanto ao doutrinamento dos membros da igreja, notadamente das crianças. A prédica doutrinária é impopular hoje em dia. Os membros das igrejas querem que lhes falem do púlpito sobre o que fazer, mas raramente sobre o que crer. A maioria deles não se interessa por teologia, e dos poucos que se interessam, cada qual quer ser o próprio doutor em teologia. Seus pastores de boa vontade os deixam seguir seu caminho. Houve tempo em que os filhos da aliança eram instruídos por seus pastores nas verdades da religião cristã. Hoje são poucos os que tentam fazer isso. Um missionário na Arábia, enquanto passava seu ano de licença em sua terra, uma vez censurou seus ouvintes americanos – todos presumivelmente favoráveis às missões – dizendo-lhes que faziam menos pela educação religiosa dos seus próprios filhos do que pela educação religiosa da juventude maometana. A igreja se descuida do doutrinamento da geração nascente, logo não terá missionários para enviar para fora; por certo, nenhum missionário que seja zeloso em declarar o único Evangelho verdadeiro.

Zelo Orientado Para a Teologia

A acusação de que o interesse teológico é incompat’vel com o zelo evangelístico talvez tenha visado com maior freqüência a porta dos adeptos da teologia calvinista. Dando por entendido que nem todos os que professam a fé calvinista são zelosos pelas missões, e dando por entendido também que os irmãos morávios, os pietistas e os metodistas serviram de poderosos estímulos para as missões protestantes, pode-se mostrar facilmente que a fé calvinista, bem compreendida e aceita de coração, induz definidamente ao zelo evangelístico. A recordação de algumas facetas dessa fé, discutidas anteriormente, esclarecerá isso.

A soberania divina é o princípio fundamental do calvinismo. Pode-se afirmar com segurança que o calvinista acentua mais do que os outros cristãos a soberania de Deus. Ora, a soberania divina ganha expressão proeminente em três aspectos da vontade una de Deus: em Sua vontade secreta ou decretatória, em sua vontade revelada ou preceptiva, e naquilo que se pode chamar de vontade do Seu querer. Seja qual for o ângulo pelo qual se mire a soberania de Deus, sua consideração só pode gerar zelo pela difusão do Evangelho.

Desde a eternidade Deus elegeu certas pessoas em Cristo para a vida eterna (Efésios 1.4). Ninguém vá confundir esta verdade com o fatalismo teológico ou com o determinismo filosófico. Deus os escolheu por amor. E Deus não os leva à força para o Céu. Ele ordenou que seriam salvos por meio do Evangelho, e por nenhum outro meio. Segue-se que a eleição requer a evangelização. Segue-se que a eleição garante bons resultados da evangelização. Se fosse deixado aos cuidados dos pecadores – totalmente depravados como são – responderem com fé ao Evangelho, baseados em sua faculdade volitiva, ninguém o faria. Mas o que se dá é que o Deus que os escolheu certamente dota os eleitos da graça que os capacita a crer.

A Grande Comissão é uma ordem dada pelo soberano Deus. Obviamente, quanto mais seriamente se toma a soberania divina, mais se sente que é obrigação por dever sagrado obedecer àquela ordem. Dentre todos os cristãos, o calvinista dirá: “Sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (1 Coríntios 9.16). Uma coisa que Deus ordena soberanamente a todo aquele que ouve o Evangelho é que creia em Cristo. O fato de que ninguém pode crer se Deus não o atrai pela irresistível graça do Espírito Santo (João 6.44) não diminui em nada a força de obrigação daquela ordem. E não há nada que não seja razoável quanto a ela. Pois, se Deus exigisse que o homem fizesse alguma coisa que ele não poderia fazer no estado em que saiu das mãos do Criador – como, por exemplo, alterar a órbita solar da terra, seria desarrazoado e, ademais, seria injusto. Mas quando Deus requer que o homem ponha sua confiança em Deus, exige apenas o que o homem era capaz de fazer em seu estado original. Embora em seu estado decaído o homem não tenha mais aquela capacidade, só ele merece censura por sua perda. Os direitos de Deus não são afetados. Assim é que o pecador tem que crer, ou do contrário perecerá eternamente. Que incentivo para dar aquela ordem aos perdidos!

O cristão calvinista não foge aos paradoxos bíblicos. O certo é que não toma parte não toma parte no irracionalismo da neo-ortodoxia. Rejeita com todas as suas forças o ensino de que a verdade é autocontraditória. Mas, se encontra na Escritura o ensino inequívoco de duas verdades que não podem reconciliar-se mutuamente frente ao tribunal da razão humana, submete alegremente sua lógica à Palavra divina. Um paradoxo bastante espantoso é que Deus, que escolhe a raça humana decaída em número fixo de pessoas para a vida eterna, no entanto, oferece vida eterna a todos os homens sem distinção, e, ao fazê-lo, assegura-lhes que nada O agradaria mais do que aceitarem eles o Seu oferecimento. Deus assegurara aos pecadores de toda parte que “deseja que todos os homens sejam salvos” (1 Timóteo 2.4). Isso também é expressão da soberania de Deus, e proclamá-lo é reconhecer essa soberania. O calvinista o declara ardorosamente.

Praticamente toda gente sabe qu o apóstolo Paulo foi o maior missionário que a igreja teve. Embora se dizendo “o menor dos apóstolos que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo”, pôde testificar: “Pela graça de Deus, sou o que sou; e sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles” (1 Co 15.9,10). O que também sabem todos os que lêem com atenção as cartas do mesmo apóstolo é que ele costumava salientar que o principal mestre da doutrina da soberania divina foi ao mesmo tempo o principal missionário da igreja. Por todas as regras da boa lógica, isto só tinha que acontecer. A coerência o exigia.

Outro ensino distintivamente calvinista é o da aliança da graça. Como acontece com a doutrina da eleição, também desta se diz muitas vezes que é inimiga do zelo missionário. Todavia, desde que seja bem compreendida, ela sem dúvida gera zelo pela evangelização – não menos do que o faz a doutrina da eleição. É verdade que a aliança da graça favorece o particularismo e a separação, não porém como fins em si, e sim como meios que visam a universalidade como fim. Deus mandou Abraão sair de sua terra, de sua parentela e da casa dos seus pais, a fim de que neles todas as famílias da terra fossem abençoadas (Gênesis 12.1-3). O conceito da aliança da graça é tão amplo que se pode dizer que a aliança da graça está onde quer que o Evangelho é proclamado. E como ao dar a graça salvadora o Deus da aliança costuma levar em conta os laços de família, o evangelista pode estar seguro de que não só o seu trabalho não é vão, no Senhor (1 Coríntios 15.58), para o presente, mas também continuará a dar fruto de geração em geração.

A fé calvinista supre-nos do mais forte e mais nobre motivo para a evangelização. Dedicar amor ao próprio ser, indigno que é, e dedicar amor a pessoas que não têm nada que nos mova a amá-las, são de fato motivos nobres, mas nem um nem outro são o motivo último. O motivo último – e o que nos impulsiona com maior força – é o amor a Deus, que é absolutamente merecedor de adoração.

A fé calvinista apresenta a mais pura e a mais abrangente mensagem evangelística. Salienta com incontestável coerência o ensino bíblico da salvação pela graça de Deus. Nesta impressionante contagem de pontos, leva completa vantagem sobre o modernismo, mas também sobrepuja o luteranismo, com seu conceito sinergista da salvação, e o arminianismo, segundo o qual Deus depende do homem na apropriação pessoal da salvação. A fé calvinista abrange “todo o conselho de Deus” (Atos 20.27) – incluindo os ensinos da eleição divina particular e do amor divino universal, aparentemente contraditórios e, contudo, perfeitamente harmoniosos na mente de Deus.

A fé calvinista propõe o mais elevado objetivo da evangelização. E não é a salvação de almas. Nem o crescimento da igreja de Cristo. Tampouco é a vinda do reino de Cristo. Todos esses objetivos da evangelização são importantes, inestimavelmente importantes. Mas são apenas meios para a consecução do fim para o qual todas as coisas foram trazidas à existência e continuam existindo, para o qual Deus faz tudo o que faz, no qual a história toda culminará um dia, e no qual estão focalizadas todas as eras da eternidade sem fim – a glória de Deus.

Em resumo, de todos os cristãos, o calvinista tem de ser o mais zeloso pela evangelização. É o que será, se for verdadeiramente calvinista – e não só de nome.

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KUIPER, R. B. Evangelização Teocêntrica. 1ª ed. São Paulo, PES, 1976.
Digitação: Dawson Campos de Lima

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