Desenvolvendo a graça de dar

Autor: José Kleber Fernandes Calixto
Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom,e demora ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida.” (v. 9) (1 Reis 17.8-24)

Um dos principais obstáculos para vivermos o Evangelho de Jesus em toda a sua plenitude é a tremenda dificuldade que temos de nos desprendermos de nós mesmos e dar um pouco do que temos para Deus e para os outros. Infelizmente, as palavras do Senhor “mais bem-aventurado é dar que receber” (Atos, 20.35) continuam sendo uma fronteira desconhecida e inexplorada para a maioria dos cristãos, cujos estreitos horizontes não passam d’além dos seus próprios interesses. Mas, por que dar? Por que dar é tão importante para a nossa própria felicidade segundo as palavras de Jesus? O texto que nós lemos é tremendamente importante para nós entendermos porque o Senhor Jesus disse que é mais bem-aventurado dar que receber.

1. Há uma lei que rege o mundo físico que é a lei do fluxo e refluxo. Esta lei determina que só recebe aquele que exercitou a graça de dar de si mesmo. À medida que nós damos (fluxo), nós recebemos (refluxo). Jesus decodificou essa lei do Pai quando disse: “dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também” (Lucas, 6.38). O texto que lemos é um fiel retrato desta lei inexorável da vida. Para receber, a viúva de Sarepta primeiro teve que se dispor a dar aquilo que tinha. Por que? Porque esta é uma lei da vida: à medida que damos, recebemos. O fluxo (dar) sempre termina num maravilhoso refluxo (receber) da Graça de Deus em nossas vidas.

2. Dar é tão vital quanto o não dar é letal para nós. Ou seja, quem não dá, morre. Quem não dá, torna-se um mar morto – sem saídas, sem vazão, sem trocas, só recebe – por isso morto. Para não morrer (embora não soubesse disso) aquela viúva teve que dar o pouco de farinha que tinha e o pouco azeite que lhe sobrara. O não dar implicava na própria morte. Aqui está a ironia fina da vida. Aquilo a que ela atribuía valor fundamental para sua vida seria o que lhe roubaria a vida, caso não se dispusesse a entregar. Dar era tão vital quanto o não dar seria letal para ela. Talvez esta seja a razão porque existam muitas pessoas que morreram para vida. Nunca deram de si para ninguém. Sofrem da síndrome do mar morto. São lacradas, são sem saídas, são hermeticamente fechadas, só recebem; são cisternas podres – cujas águas estão sempre paradas, nunca se renovam. Dar é tão vital quanto o não dar é letal para nós.

3. O retorno é sempre infinitamente maior do que aquilo que nós damos. Aquilo que damos, volta, mas volta infinitamente maior. O retorno sempre é maior que o investimento: “dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão…”. Aquela viúva deu um pouco de farinha e azeite. O que ela recebeu? Farinha e azeite? Não! Ela recebeu a vida de seu filho de volta (mais tarde, Elias teve que ressuscitar o filho da viúva). Será que, se ela soubesse antes que Elias iria salvar o seu filho, teria relutado em dar o seu pão para mantê-lo vivo? Claro que não! Ela jamais imaginou que ao dar o seu pão para o sustento do Profeta, ela estava dando na verdade a vida para o seu próprio filho. Jamais imaginou que o ajudando (o que fez com certa má vontade) ela estava na verdade se ajudando. Aqui está o problema que nos impede de dar o que temos para Deus e para o próximo: quando damos, o fazemos achando que estamos sempre ajudando os outros e nunca nós mesmos. Não atinamos para o fato de que ao dar o nosso “pão”, não estamos ajudando ninguém, a não ser unicamente nós. Porque o retorno sempre é infinitamente maior do que aquilo que nós investimos. Quando Deus pede para nós darmos alguma coisa (por mais precioso que pareça ser) é porque Ele quer nos dar em troca algo muito maior e mais importante.

Olhando para algumas pessoas para quem a vida nunca dá nada, nunca lhes sorri, para quem Deus nunca deu nada de bom, é possível ver pessoas que ainda não desenvolveram a graça de dar de si mesmo para outros e para Deus. Não entenderam que, na contabilidade de Deus e da vida, é dando que se recebe, é dividindo que se soma, é deixando escorrer de nós o fluxo da graça de dar, que somos inundados pelos refluxos generosos da graça de viver – o que nos faz pensar que é sempre mais bem-aventurado dar que receber…
Que Deus nos abençoe!

Igreja Presbiteriana do Sertãozinho – Patrocínio-MG
Fonte: Pão Quente Diário

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