Desceu ao inferno

Autor: Lairton Cruz Jr.
O Credo dos Apóstolos declara que Cristo desceu ao Hades. Essa é sem dúvida uma daquelas afirmações teológicas intrigantes que encontramos nas formulações credais da Igreja a desafiar a nossa imaginação. O que isto significa? Quer dizer que Cristo desceu ao inferno após a sua morte?
Afirmar que Ele desceu ao inferno tem algumas conseqüências perigosas. Em primeiro lugar, se Ele foi ao inferno fazer missões, com o objetivo de pregar o Evangelho, então quem esteve por lá e creu na sua pregação foi salvo mesmo após a morte. Em segundo lugar, se Cristo foi ao inferno fazer algum tipo de sofrimento expiatório, então é possível sair de lá, depois de certo tempo, por um esforço penitencial, não sendo estranha a idéia de um lugar chamado purgatório. Só que a Bíblia ensina que, depois da morte, não existe a menor chance de salvação, ao afirmar, “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto o juízo…” (Hb. 9:27). As Escrituras ensinam também que se pode entrar no inferno, mas de lá não se pode sair, segundo Abraão, que disse, na parábola do rico e Lázaro, “E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós”(Lc. 16:26).
Cristo não desceu ao inferno. O inferno desceu sobre Ele. Segundo Calvino, o Credo dos Apóstolos fala da realidade espiritual da morte de Cristo. Ele não somente provou uma morte física, mas espiritual também. Cristo padeceu os mais terríveis e angustiantes horrores de ter-se feito pecado por nós, a ponto de ser abandonado pelo Pai. No Calvário, Cristo sofreu a nossa condenação. Mesmo sendo Deus, Ele é Deus encarnado, o que o fez sentir os rigores do castigo divino na sua alma e, na sua alma, ele experimentou a separação espiritual do Pai, tendo dito: “Eli, Eli, lamá sabactani?” (Mt. 27:45, 46). Na verdade, ao ser crucificado no Calvário, Ele provou por nós os tormentos que estão reservados aos condenados e ímpios que perecerão no inferno uma morte espiritual. Deus exerceu sobre o seu próprio Filho Unigênito a sua ira, para satisfazer o seu justo juízo, a fim de se reconciliar com o mundo. Por um lado, Deus imputou sobre Cristo as transgressões dos homens (II Co. 5:19) e, por outro lado, Deus imputou sobre nós os méritos da obediência de Cristo (Rm. 5:9). Enquanto as trevas do inferno baixaram sobre Ele na cruz, sobre nós raiou a glória refulgente do céu. Amém.

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