Depressão também é causa de preocupação na 3ª idade

Autor: Dra Olga Inês Tessari

Publicado no Jornal A Tribuna de Santos – 01/05/2003

Conhecida como o mal da alma, a depressão é também uma das principais causas de transtornos mentais entre os idosos. Apesar de ser um sintoma comum a todas as fases da vida, na terceira idade o reconhecimento da doença é prejudicado devido ao preconceito e a dificuldade de obtenção de tratamento adequado.
“A depressão nos idosos, por exemplo, vem normalmente acompanhada de outros problemas físicos, o que acaba mascarando a doença. Além disso, muitos familiares tendem a encarar a depressão como um fato normal nesta faixa etária”, explica a psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari.
Segundo a especialista, que também é pesquisadora, um dos agravantes dessa situação é que muitos médicos tendem a tratar somente os sintomas da depressão, esquecendo que para a cura é preciso o acompanhamento psicólogico.
Prova disso, de acordo com ela, é que muitos dos pacientes que chegam em estado grave nos consultórios psicológicos já passaram pelos médicos e estão tomando antidepressivos.
O problema é que a maior parte desses idosos não é informada claramente que estão vivenciando um quadro depressivo.
Estudo realizado no Brasil por pesquisadores do Departamento de Psicologia Médica da Universidade de Sidney e do Rozelle Hospital, na Austrália, constatou que aproximadamente 10% dos idosos entrevistados que apresentaram quadros depressivos necessitavam de intervenções clínicas.
No entanto, mais da metade deles estava sem acompanhamento adequado.
Um dos aspectos mais preocupantes dessa situação é que a ausência de tratamento pode levar esses indivíduos à morte; seja por meio do suicídio ou pelo surgirmento de doenças infecciosas, ataques cardíacos e derrames.

Causas

Limitações físicas, dificuldade de elaborar novos projetos de vida, falta de atividades que preencham o tempo disponível com a vinda da aposentadoria são alguns dos fatores que podem ocasionar a depressão na terceira idade.
Contudo, os episódios que podem contribuir para o surgimento dos casos graves da doença estão relacionados, sobretudo, à morte de parentes e de amigos.
Esse tipo de situação leva as pessoas a constatarem que a sua morte pode estar próxima. Diante disso, algumas delas começam a aproveitar melhor o tempo que lhes resta. Outras se deixam abater, e não conseguem formatar novas perspectivas de vida, explica a psicóloga Márcia Brandão, especializada em saúde pública.

Caso extremo

Como exemplo, a psicóloga cita o caso do aposentado Amador Cortellini, de 68 anos, que em março, durante uma discussão, atirou no filho, Rodrigo, de 28 anos, viciado em cocaína e álcool.
Deprimido, o aposentado começou a se negar a comer eprecisou ser medicado com antidepressivos e remédios para dormir. Cortellini teve infecção generalizada e morreu 25 dias depois de ter assassinado seu filho.
Esse foi um caso extremo, mas nos comprova que a dificuldade em lidar com a dor da perda pode ter consequências sérias para a saúde das pessoas.

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