Autor: Luiz Lima de Medeiros
Um adjetivo tão desejado pelos líderes e na verdade é essencial à qualidade deste. É confundido e usado, vulgarmente, para definir a pessoa amorosa, atenciosa, amante dos necessitados, conciliador, e por último para aquele que detém a admiração e atenção de todos. Secularmente o carisma é o dom de ser estrela. No Brasil, o tema foi atualizado pelo fenômeno da renovação carismática da Igreja e o sucesso do Padre Marcelo Rossi, com apoio da mídia, que tem papel duplo nessa história. Tanto potencializa o poder dos carismáticos autênticos (sejam eles artistas, políticos, religiosos, atletas etc.) como também fabrica mitos de ocasião. Nem sempre é fácil distinguir quem tem de fato uma personalidade e capacidade notável, ou quem é produto de marketing milionário. Foi o sociólogo alemão Max Weber quem ampliou na era moderna o conceito de carisma, que passou a significar um conjunto de qualidades excepcionais de liderança, especialmente no campo político. Hoje, dentro das empresas, o carisma das chefias pode definir não apenas o sucesso, mas também a harmonia do trabalho de equipe. As qualidades de um chefe carismático revelam uma sensibilidade refinada para compreender e inspirar grupos.
A etimologia da palavra carismata do grego, charismata, significa literalmente “coisas dadas gratuitamente”, ou seja, “dons”. No dicionário de Michaelis encontramos carisma (gr. khárisma) como dons e talentos de cada cristão para o desempenho de sua missão dentro da Igreja. Já o dicionário Aurélio, diz ser: um conjunto de “qualidades especiais derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excepcional”. O verbete amplia o significado do termo ao lembrar que o carisma também pode ser “diabólico” – e a história confirma que líderes capazes de influenciar multidões inúmeras vezes canalizaram esse poder para a destruição ou simplesmente para obter vantagens pessoais. Tal dom por ter origem divina, natural ou diabólica tem uso variado e finalidade por conta do possuidor. Logo, não se pode confiar no carismático. Tem que haver um modo de verificar a autenticidade do discurso para não ocorrer uma massificação, uma eventual “Maria vai com as outras”, ou melhor “Maria vai com o carismático”. Esta massificação – encabeçada pelo carismático Hitler – foi quem causou a morte de mais de seis milhões de judeus na Alemanha.
Para as Sagradas Escrituras o carismático é reconhecido pelo uso dos dons espirituais, que são dados (gratuitamente) pelo Espírito Santo para uma utilidade específica. Isto não quer dizer que o carismático seja o dono da verdade ou mais espiritual do grupo, até porque o Apóstolo Paulo repreende a Igreja em Corinto pelo mau uso dos dons. Eles se achavam superiores às outras Igrejas por possuírem dons, eram “Super Crentes”. Todos profetizavam ao mesmo tempo, todos revelavam ao mesmo tempo, todos falavam em línguas ao mesmo tempo. Não havia nesta desordem nenhuma prova de espiritualidade, mas sim, uma carnalidade desenfreada. Cada um aparecia mais que o outro.
Deve ser buscada a autenticidade do carismático nas Sagradas Escrituras, que respalda a conduta do cristão. Se este vicia em fazer ou no mínimo justificar sempre suas atitudes no discurso do carismático, corre o risco de errar o alvo (pecar) e ainda achar que está certo. Todo discurso deve passar pelo crivo da Palavra de Deus (Bíblia), mesmo o do mais renomado orador, Paulo foi filósofo e o maior carismático (minha opinião) e passou no exame dos Bereianos. Devemos ter um cuidado especial com as interpretações dadas aos textos bíblicos e principalmente com os costumes e culturas da época do escritor. Por exemplo: Paulo ensina que as mulheres mantivessem-se caladas nas igrejas e se quisessem aprender deveriam fazê-lo em casa com seus maridos, pois era vergonhoso que falassem na igreja. Não podemos pôr em prática tal ensinamento, por causa da nossa cultura e pela Constituição (princípio da isonomia) de nosso país . De igual modo é a americanização da atuação de Deus no Brasil. Achamos que a forma de Deus atuar na Igreja dos EUA é mais eficaz do que no Brasil, daí vem a importação de doutrinas americanas que nem sempre são bíblicas. Tudo o que Jesus Cristo fazia era autenticado pelo Pai (Deus) “… Este é meu filho amado, a Ele ouvi!”. Esta aprovação é essencial a um líder ou orador. Este certificado é obtido pelos frutos. Dons espirituais não produzem frutos, mas andar no Espírito tanto evita a satisfação dos desejos carnais como produz frutos no reino material. Logo, espiritual é a pessoa que anda no Espírito e não quem tem dons espirituais.
O carismático autêntico precisa ter compromisso. Isto o fará crucificar a carne. O cristão hodierno tem relaxado nisto, pois faz tudo que um mundano faz: vai a bares, boates, usa roupas sensuais, profere palavras de baixo calão, espanca a esposa, mente, furta, frauda, calunia, inveja, arma cilada para os inimigos, facciona, enfim faz tudo o que a carne deseja. Esta geração é a que reclama por não ver maior e mais poderosa atuação de Deus reclama por não ouvir a voz do Espírito Santo. Todas as bênçãos de Deus estão disponíveis para o que vive no Espírito. Enquanto os carnais são escravos da própria liberdade e deserdados por Deus . Os não-espirituais são persuadidos antes de tudo pela sua concupiscência carnal. Esta não vem daquele que os chamou, Cristo Jesus. Basta “um pouco de fermento para levedar toda a massa”, ou seja, pequenos erros abrem alas para que os grandes sejam banalizados. “Aqueles carismáticos no meio de vocês que estão procurando convencê-los a andar conforme o mundo estão fazendo isso por uma única razão: para poderem ser benquistos e evitar a perseguição que sofreriam se admitissem que somente a cruz de Cristo pode salvar”. Novamente digo: cuidado com o carismático!
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Notas:
1. I aos Coríntios cap. 12-14
2. Atos dos Apóstolos 17:11
3. I aos Coríntios 14:34,35
4. Constituição Federal do Brasil Art 5º inciso I “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações…”
5. Mateus 3:16,17; 17:5
6. Aos Gálatas 5:16,22-23
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