Cristianismo sem Deus

Autor: Rev. Augustus Nicodemus Lopes
Poucos cristãos modernos sabem que o Cristianismo europeu, e suas ramificações nos Estados Unidos, África e Ásia, recebeu profunda influência do Iluminismo e do humanismo que dominaram as universidades européias oficiais desde o século 19. Uma destas influências foi o filósofo inglês Francis Bacon, que decretou que a verdade só pode ser encontrada pelo método indutivo. Com isto, fez uma separação radical entre fé e razão, dizendo que só se podia crer em Deus e na Bíblia mediante o “sacrificium intellectus” (sacrifício do intelecto). Depois, veio F. Schleiermacher, teólogo alemão, que interpretou o Cristianismo como uma mera experiência religiosa subjetiva, relegando a religião ao que ele chamou de “província piedosa da alma”. Com isto, Schleiermacher abriu a porta para o ecumenismo entre todas as religiões e redefiniu o Cristianismo em termos de psicologia. Podemos ainda mencionar G. W. Hegel, filósofo alemão, que defendeu que a verdade só é alcançada por um processo histórico dialético contínuo, deixando assim o conceito de Deus e de sua ação na história, totalmente fora do campo real.

Com o surgimento do método histórico-crítico de interpretação da Bíblia, baseado nas idéias destes homens, a Bíblia foi desacreditada. Não podia ser mais considerada como a infalível Palavra de Deus. Os teólogos europeus nas universidades oficiais começaram a dizer que ela estava cheia de erros e contradições. Prevaleceu o conceito (infundado) que o homem moderno, vivendo na época científica, não podia mais aceitar como verdadeiros relatos de milagres, ressurreições de mortos e nem o conceito de que Deus criou o mundo e enviou Seu Filho para salvar pecadores. A historiografia hegeliana, arrogantemente, defendia que não precisamos de Deus para explicar os eventos que marcaram o rumo da história humana.

Como resultado da adoção desta nova teologia nas universidades européias, onde os pastores e professores de teologia eram formados, passou-se a ensinar nas igrejas que a Bíblia é um livro antigo de religião, cujo valor para nós hoje é meramente moral, que a tarefa principal do Cristianismo é fazer obra social, já que todos os homens são cristãos e todas as religiões são iguais, não sendo necessário o trabalho de evangelização; que a verdade é relativa; que a essência do Cristianismo, bem como de todas as outras religiões, é fazer o bem; que requer-se dos cristãos somente que batizem seus filhos, tragam-nos para a confirmação, que freqüentem uma igreja cristã nas datas mais tradicionais. E o mais importante, foi assegurado a eles que eram cristãos simplesmente por terem nascido em um país considerado cristão.

Os resultados deste tipo de teologia “cristã” começam a aparecer hoje na Europa, nos Estados Unidos e onde mais chegou sua influência. O homossexualismo mais e mais conquista seu lugar na sociedade, nas igrejas e nos púlpitos. O Cristianismo perde cada vez mais a sua identidade, a medida em que procura misturar-se com o Islamismo, o Judaísmo, o Budismo e outras religiões orientais. As igrejas onde ele foi adotado mais e mais perdem membros, que saem para outras formas de Cristianismo independente ou simplesmente se tornam agnósticos. Mais e mais agências cristãs européias e americanas se voltam para causas políticas e sociais ao redor do mundo, e menos e menos proclamam o Evangelho de Cristo às pessoas nestes países.

Na raiz deste tipo torcido de Cristianismo está o abandono da autoridade da Palavra de Deus. As principais doutrinas ensinadas na Bíblia foram deixadas de lado, por serem consideradas ultrapassadas. Assim, a doutrina da morte vicária de Cristo, a doutrina do novo nascimento e da regeneração, das penas eternas, da segunda vinda literal de Cristo e outras foram gradativamente substituídas por conceitos que preservaram as mesmas palavras mas com conteúdo diferente. Continuou-se a falar na ressurreição de Cristo nestas igrejas, só que agora significava, não a revivificação do corpo morto de Jesus, mas a pregação sobre a sua vida pelos discípulos.

Em muitas igrejas na Europa e nos Estados Unidos prevaleceu este tipo de Cristianismo. Um dos desafios enfrentados por cristãos que foram criados em igrejas assim é romper a barreira da tradição e reavaliar o que aprenderam à luz da Bíblia. Coisas surpreendentes podem acontecer. Estou lendo um livro escrito por Eta Linnemann, teóloga alemã, professora na Universidade de Marburg, que converteu-se a Jesus Cristo após anos de atividade como professora de teologia e escritora de livros sobre os Evangelhos. Linnemann aprendeu e ensinou este tipo de Cristianismo, mas pela graça de Deus, teve seus olhos abertos para voltar à fé simples e viva na Palavra de Deus.

Certamente todos nós precisamos avaliar, sempre, as coisas em que cremos e a religião que professamos, à luz da imutável Palavra de Deus. Confiamos que Deus sempre guiará seu Povo, mas por outro lado, é o mesmo Deus quem nos adverte na Bíblia contra os falsos ensinamentos, os erros e os desvios que podem acontecer dentro das próprias igrejas. É preciso uma atitude contínua de reflexão e auto-exame à luz da revelação de Deus, que é a Sua Palavra, a Bíblia Sagrada.

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