Autor: João Paulo da Silva
“Já podeis da Pátria filhos,ver contente a mãe gentil, já raiou a liberdade, no horizonte do Brasil…”
Quem não lembra destes versos? Eles fazem parte da letra do Hino da Independência do Brasil. Como cristão metodista tradicional lembro-me nitidamente do meu tempo escolar no primário e no ginásio. Eram formadas filas, onde os alunos entoavam o Hino Nacional Brasileiro e nos dias próximos a 7 de Setembro, também entoava-se o Hino da Independência do Brasil. Esta atitude mostrava e mostra na atualidade, um sentido de patriotismo. Inclusive, em alguns cadernos e em alguns livros vinham e vêm impressas as letras de ambos os hinos. O termo patriotismo, conforme o dicionário, indica “amor da pátria, devoção ao seu solo e às suas tradições, à sua defesa e integridade”.
Atualmente, falar sobre patriotismo no Brasil, é algo muito desafiador; isto porque tem prevalecido as idéias equivocadas de que o cristão deve viver a sua fé afastado o máximo possível das coisas de seu país (política, aspectos sociais, aspectos culturais, etc.). No entanto, se analisarmos histórica e socialmente a Bíblia, não vamos encontrar base alguma para uma fé acrítica, alienada, omissa e desvinculada da realidade social e histórica.
No Antigo Testamento, vemos homens e mulheres engajados na vida política e social. Também no Novo Testamento, testemunhamos estes fatos. Além destes exemplos bíblicos, temos também os exemplos extrabíblicos como o dos macabeus e dos zelotes na história do Povo de Deus.
Segundo o professor E. Clinton Gardner em seu livro Fé Bíblica e Ética Social, “a base primária para o interesse do cristão pela ordem política e a principal motivação para qualquer esforço no sentido de conseguir reforma política, encontram-se, pois, não em poucos pedacinhos isolados de conselhos políticos no Novo Testamento mas, ao contrário, na fé subjacente ao ensino e à conduta de Jesus e dos escritores neotestamentários. Jesus, à semelhança dos profetas do Antigo Testamento, conduz os homens a Deus, que é o Senhor dos céus e da terra, e ensina-lhes a orar para que a sua vontade seja feita ‘na terra como no céu’”.
Entretanto, a fé cristã não é pois, uma experiência estática, longínqua e do além; todavia, é dinâmica e é vivenciada concretamente no tempo e no lugar da história onde Deus nos têm colocado. Em artigo publicado no Jornal Brasil Presbiteriano, o reverendo Luiz Longuini Neto declara: “Quando o salmista afirma: ‘Feliz a nação cujo Deus é o Senhor’, ele está dizendo que Deus será Deus de uma nação com tudo o que implica ser uma nação, ou seja: seus aspectos cultural, social, econômico, político e religioso”.
O patriota é sensível ao clamor dos desprovidos. Não hesita em pressionar e até depor, se for o caso, pelas vias legais, os governantes que deixam de cumprir a função para a qual foram eleitos. O já citado E. Clinton Gardner, afirma: “Nos países em que os cidadãos têm oportunidade de participar do processo de governo, a obediência a Deus não é a mesma coisa como submissão pura e simples àqueles que estão constituídos em autoridade e poder numa determinada época. Pelo contrário: isso envolve a responsabilidade de colaborar com as autoridades na realização de suas tarefas pelo apoio dado a elas, pela crítica contínua de seus atos e pelas providências para substituí-las quando for evidente tal necessidade no interesse de melhor governo”.
Indubitavelmente, uma fé comprometida com a realidade, é portanto, demonstração de um patriotismo autêntico, claro e exemplar. Sejamos sim, embaixadores do Reino de Deus, mas também, vivamos no mundo como trabalhadores do Evangelho e semeadores da Boa Palavra, conforme diz um cântico antigo: “… Deus é Senhor, Senhor da Criação, nós somos parte, deste mundo bom…”
Que Deus, o Eterno, nos ilumine em nosso trabalho cotidiano como cristãos e patriotas, a fim de que a nossa pátria ouça o chamado de Deus, e participe juntamente conosco da luta pelos ideais de paz, amor e fraternidade.
Por Jesus Cristo, Nosso Senhor e Messias!
2004!
Chegamos a mais um ano eleitoral no Brasil!
No dia 3 de outubro, algumas cidades do país já elegeram seus novos prefeitos ou reelegeram os atuais; no entanto, outras cidades ainda vão participar do segundo turno das eleições em 31 de outubro – Dia da Reforma Protestante, um marco de suma importância na História do Cristianismo.
Quando se fala em política, algumas pessoas pensam em eleições, comícios, passeatas, campanhas eleitorais no rádio e na televisão e outros meios de comunicação, colação de cartazes em muros e postes, panfletagem, colocação de outdoors, Cabos Eleitorais, Vereadores, Prefeitos de Cidades, Governadores de Estado, Deputados Estaduais, Deputados Federais, Senadores e Presidente da República. Todavia, essa é somente a parte eleitoral da política.
A política é um fator muito abrangente na sociedade, ou seja, significa a participação em um sistema de regras relacionadas à direção, organização e administração de ações governamentais ou institucionais. Quando nos relacionamos com o objetivo de organização coletiva, tais como: sindicatos, associações de moradores, associação de pais e amigos, centros acadêmicos, movimentos e projetos sociais, estamos fazendo política.
A política muitas vezes é confundida como algo mórbido, sórdido, negativo, assustador e sarcástico, devido a algumas atitudes e situações caóticas, corruptas e escandalosas dentro dos setores governamentais (governos municipal, estadual e federal e órgãos judiciários do governo).
Essas atitudes e situações desvanecedoras têm levado algumas pessoas a se alienarem politicamente, embora cada um de nós tenha, necessariamente, um posicionamento político. No entanto, este posicionamento é pessoal e permite que façamos nossas próprias escolhas. E essas próprias escolhas terão reflexos sobre nossa existência coletiva e individual, sobre nossa prosperidade e pobreza. É preciso lembrar que as atitudes passivas beneficiam quem está governando, entretanto, nunca somos realmente neutros em uma sociedade.
Somos comissionados por Jesus Cristo – o Messias para sermos “Sal da Terra” e “Luz do Mundo”; para contribuirmos com nosso “sabor” e nossa “luminosidade”. É mister tomarmos posicionamentos conscientes, ou somente serviremos para ser marionetes de um sistema dominador e sermos pisados e desdenhados dentro da sociedade.
Miltom Nascimento em sua música “Planeta Blue”, expressa o sonho de ver uma sociedade igualitária no mundo, mas, em especial no Brasil e em outros países da América Latina. Conforme os versos abaixo:
“Eu sou a Atlântica dor plantada no lado sul;
de um planeta que vê e que é visto azul…
quem sabe se a terra segue o seu destino;
bola de menino para sempre azul;
quem sabe o homem mate o lobo-homem;
e olhe o olhar do homem que é o seu igual;
quem sabe se a festa chega na floresta;
e o homem aceite a mata e o animal;
quem sabe a riqueza e toda beleza;
estará nas mesas da Terra do Sul”.
Se a Justiça de Deus já alcançou em Jesus Cristo – o Messias nossas vidas; é hora de mostrar com nossa conduta a justiça que Deus requer do governo, das instituições e das pessoas.Uma Música Cristã Antiga diz o seguinte em uma de suas estrofes e no côro:
“…a nossa força está na união;
o mundo novo vem de Deus e dos irmãos;
vamos lutando contra a divisão;
e preparando a Festa da Libertação”.
“Lutar e crer, vencer a dor;
louvar o Criador;
justiça e paz hão de reinar;
e viva o amor”.
Convictos de nosso Chamado como cristãos, temos a plena convicção de que o direito vencerá, porque o Eterno reina, ama a justiça e fará o bem prevalecer.
O Brasil é um país de contrastes. Dentre muitos, enfatiza-se, sobremaneira, a desigualdade social. Temos dentro de nossa nação inúmeros “brasis”, onde muitos têm pouco. No mesmo espaço, convivem as mais variadas classes sociais. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o índice de mortalidade infantil na Região Nordeste é de 89 por mil/nascimentos, diferindo de outras Regiões com índice bem abaixo. Existem Regiões em que a renda per capita ultrapassa os seis mil dólares; entretanto, 28,7% da população não recebe nem o correspondente a um dólar por dia. Entre 18,5 milhões de aposentados, 11 milhões ganham somente um salário mínimo, enquanto uns poucos recebem mega-salários; são diversos os exemplos que demonstram as desigualdades sociais do país.
Sonhamos com a possibilidade do Brasil tornar-se uma nação feliz, próspera e igualitária. Para isto, é mister que se tenha coragem para rever a política governamental, visando garantir os direitos mínimos dos cidadãos.
Diz a Constituição que “todos são iguais perante a Lei”. Um fundamento bíblico que concebe as pessoas como iguais aos olhos de Deus e com os mesmos direitos e privilégios. Este princípio deveria ser notado nos tribunais, assegurando justiça rápida e econômica para todos. E também quanto à moradia, trabalho, saúde, transporte, etc. Como iguais, devemos lutar prol de direitos iguais para todos. O Reformador João Calvino (1509-1564) disse: “Deus deseja que haja analogia e igualdade entre nós. Que cada um socorra os pobres segundo as suas possibilidades, a fim de que alguns não tenham em excesso, enquanto outros sofram penúria”.
Sabemos que o Brasil é uma nação herdeira de problemas sociais procedentes dos mais priscos tempos. O avanço tecnológico e científico e o processo de modernização nacional custaram muito e geraram dívidas altíssimas e estapafúrdias com os bancos internacionais (dos Estados Unidos e Países da Europa), comprometendo demasiadamente toda a economia do Brasil.
A abertura econômica do capital estrangeiro e as vorazes privatizações não surtiram o efeito esperado. E, preso aos interesses de outros países, o governo brasileiro obriga-se a obedecer aos governos de outras nações, em vez de voltar-se para os problemas nacionais. Diz o velho ditado popular: “quem paga a conta é que dá as ordens”, ou seja, o governo brasileiro envia milhões para pagar os juros da dívida externa, enquanto o povo brasileiro, principalmente pessoas pobres e desfavorecidas, padecem e sucumbem das condições mínimas de subsistência.
Em suma, o que precisamos é priorizar os nossos problemas sociais nacionais, e não as exigências de grupos como o FMI (Fundo Monetário Internacional). É muito alto o preço deste paradigma. Para muitos brasileiros, a situação atual é insustentável. O povo cansou de promessas políticas “áureas” e discursos “bonitos” e “arrebatadores” que não resultam em benefícios para a população tão ansiosa por dias melhores na pátria brasileira. E, obviamente, este é o essencial motivo da rejeição popular à política governamental. Priorizar a Agenda Social do País é a única e obrigatória política para o Brasil. Em tempos distantes, o Profeta Isaías alertou: “Ai daqueles que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos”. (Isaías 10:1-2)
Enfim, ao contemplar o quadro crítico e frígido do nosso país, a Igreja não pode manter-se estática nem tampouco alheia. Além de orar e cumprir com seus deveres cívicos (votando em Vereadores, Prefeitos de Cidades, Governadores de Estados, Presidente da República, Senadores, Deputados Estaduais e Deputados Federais), os cristãos podem e devem agir como “sal da terra” e “luz do mundo”, e também “fermento na massa”, buscando a transformação da sociedade em um ambiente justo e digno de se viver; onde todos gozem de alegria, se alimentem e vivam decentemente em suas casas com seus familiares. Indubitavelmente, se a Igreja assim fizer, estará cumprindo sua autêntica e eficaz Ação Profética.
A questão da exclusão social.
Afinal, quem são os excluídos?
Pode-se dizer com plena convicção que excluídos são todos aqueles que, embora vivendo na sociedade, deixam de usufruir os benefícios e os recursos que ela proporciona. São pessoas que estão a margem do sistema social e econômico. São as vítimas de uma economia discriminativa, absolutista, sagaz e voraz.
Em mais de cinco séculos de História Brasileira, percebe-se que os problemas sociais que provocam a exclusão de milhões de pessoas estão presentes em nossa sociedade desde o princípio da Colonização de nossa nação por Portugal; em outras palavras: as riquezas minerais e vegetais do país sendo transferidas para o exterior, a democracia sendo mascarada e caminhando paulatinamente, a justiça sendo parcial e provocando as desigualdades entre as pessoas, e os interesses particulares controlando o Estado.
Para ser ter uma idéia das raízes profundas dos problemas sociais, basta observar o que acontecia com as pessoas que eram trazidas abrupta e injustamente à força dos países da África para serem escravos e tratados como uma mercadoria qualquer. Estas pessoas eram escravizadas pelos perversos senhores que se diziam os “donos da verdade”, e o mais vergonhoso e triste para a Igreja e a Nação é que muitos destes senhores se diziam “cristãos”.
O fim da Escravidão beneficiou as pessoas escravizadas no sentido de terem liberdade para andar de um lado ao outro das cidades, em contrapartida, com o fim da Escravatura os perversos senhores não queriam pagar seus ex-escravos que agora teriam de ganhar algum valor pelos seus trabalhos para sobreviverem. Devido a isto, os ex-escravos saíram de mãos abanando, sem terem condições de comprar um pedaço de terra para viverem dignamente, e é por isto que começou a ocupação dos morros e encostas das grandes cidades, acarretando atualmente na pertinaz favelização das nossas grandes cidades.
Certamente, se as pessoas que foram trazidos dos países da África pelos vorazes colonizadores permanecessem em seus países de origem, a história destes povos seria outra, assim como a realidade brasileira também. Não há dúvidas de que se não houvesse exploração dos povos africanos, eles seriam países bem estruturados financeiramente.
Os índios também foram sempre excluídos. Espoliados e dizimados, foram paulatinamente perdendo as suas terras e tratados como sub-raça. Ao menos alguns setores governamentais e não-governamentais na atualidade estão procurando os erros sociais que atingiram os nossos indígenas através de órgão como a FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Um exemplo atual que temos de exclusão social neste país, são as Universidades Públicas que teriam e têm objetivo de favorecer os pobres (que não têm condições de pagar uma Universidade Privada), só que a maioria dos alunos do Ensino Público Superior são ricos e mais favorecidos. Criar cotas para negros e carentes não resolve o problema, caso contrário, acaba transparecendo ainda mais a discriminação e a desigualdade social. Os governantes e setores públicos educacionais devem ser mais justos priorizando o acesso dos pobres na Universidade Pública, basta prepará-los com um bom Ensino Médio Público e eles estarão aptos a concorrerem no Vestibular e serem aprovados. Não diria que os ricos não possam estudar no Ensino Público Superior, todavia, para que se tenha uma nação igualitária e justa é preciso que o governo priorize as vagas para os pobres no Ensino Público Superior.
O Ministério de Jesus Cristo – o Messias estava voltado para todos. No Reino de Deus não há espaço para nenhuma espécie de preconceito ou exclusão. O interesse de Jesus Cristo pela justiça em toda a terra precisa ser anunciado e encarnado pela Igreja. Embora a Igreja seja o povo cristão que ora e caminha na Presença de Deus, ela vive na terra e é membro constituinte de uma sociedade política, temporal.
Não se espera da Igreja uma conformidade com os sistemas dominadores deste mundo (Cf. Romanos 12:2), mas sim, uma ação transformadora, que seja capaz de nortear significativamente os sistemas injustos e opressores impostos por aqueles que ainda não tiveram a mente transformada pelo Poder do Espírito Santo.
É mister denunciar e rejeitar todos os projetos políticos que não estão voltados para o social. A Igreja Brasileira não pode e não deve se conformar com a política econômica que atenta contra a justiça social e a dignidade da vida.
A Igreja precisa levantar ardentemente sua Voz Profética, pois, o Eterno não faz acepção de pessoas, mas quer que todos tenham vida. Lutemos pelos nossos ideais!
João Paulo da Silva é Bacharel em Teologia pelo UNIBENNETT – Centro Universitário Metodista, Pastor Metodista no Estado do Rio de Janeiro, Professor de Bíblia (Antigo Testamento), Hebraico, História de Israel (Antiga e Moderna), História da Igreja, Homilética e Missiologia no Núcleo de Capacitação Missionária da Igreja Metodista em Duque de Caxias e em outros Seminários Teológicos de Duque de Caxias e cidades vizinhas. Também é Historiador e Pesquisador Ferroviário da AFPF (Associação Fluminense de Preservação Ferroviária).
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