Autor: Jonathan Menezes
A “queda” de um dos maiores e mais cruéis ditadores dos últimos tempos, Saddam Hussein, que culminou em sua prisão no último dia 13, foi um fato que tem gerado manifestações diversas, em diferentes partes do mundo, seja de congratulação e felicitações ao algoz do referido ditador, George W. Bush – como fez o nosso Presidente Lula –, seja, porém em um grau menor, de lamento e revolta por parte de alguns iraquianos que ainda insistem em se colocar como pró-Saddam, isto sem contar a ala dos indiferentes espalhados pelo mundo.
Uma das possíveis acusações a Saddam é de ter cometido “crimes contra a humanidade”, conforme a Folha de Londrina noticiou no dia 18 deste mês. E de fato existem evidências de crimes cometidos pelo ditador contra o povo iraquiano, bem como a outros povos e adjacências vizinhas, nos últimos 20 anos. Mas, se as várias atrocidades cometidas por Saddam, desde então, são, corretamente, avaliados como crimes, o que Bush, Tony Blair e companhia têm feito, desde o início da Guerra no Iraque – que “ainda não acabou”, conforme ele mesmo (Bush) declarou recentemente – pode ser considerado o que? O “caminho para a liberdade”? Vontade e determinação Divina? Guerra “justa”? Respeito à autodeterminação dos povos? Nada disso.
Dizem as más, ou boas, línguas que Saddam, ao longo de sua “carreira” como ditador, recebeu uma série de predicados, em sua maioria vindos do povo islâmico, tais como “a besta selvagem”, “besta apocalíptica”, “lobo sedento de sangue”, dentre outros. D’outra forma, quais seriam os predicados cabíveis a Bush? A figura ambígua do atual presidente dos EUA abre precedente a opiniões díspares sobre sua pessoa. Assim, ele tanto pode ser o “messias” como o “anticristo” ou “anti-sei lá o que”, tanto ser o “cordeiro” como o “lobo”, o mocinho ou o bandido, e assim por diante.
Sobretudo, é inegável a perspicácia política de Bush que, após a tão almejada prisão de Saddam (que, por sua vez,, diga-se de passagem, “de repente” se tornou uma vítima dócil e passiva), viu seu índice de aprovação entre seus conterrâneos crescer de um percentual de 52% para 58%, segundo registros da pesquisa The New York Times/ CBS; ao mesmo tempo em que as forças da coalizão norte-americana prosseguem com as matanças no Iraque (mais de 17 iraquianos morreram, isto só após a prisão de Saddam, e, entre “rebeldes” e inocentes, sabe-se lá quantos mais pagarão “o pato” com suas vidas). Desta feita, se estabelece uma relação no mínimo duvidosa, em que se cometem crimes contra a humanidade visando, pelo menos no discurso, combater outros “crimes contra a humanidade”, proteger a pátria e garantir a “paz” mundial.
Para finalizar, duas frases emblemáticas sobre essa situação. A primeira é do iraniano aiatolá Ali Khamenei, que, a meu ver, foi feliz ao dizer que se o mundo “é bem melhor sem o Sr. Saddam Hussein”, conforme afirmou Bush, para o último a recíproca seria a mesma, ou seja, o mundo também seria melhor sem Bush. A segunda é do administrador civil norte-americano no Iraque, Paul Bremmer, que, ao contrário de Khamenei, acredita que este é um “tempo de olhar pra frente”, para um futuro cheio de esperança, o “futuro democrático do Iraque”. Ora, se for Bush o representante desta “esperança” e “democracia”, o que o mundo, e principalmente o povo iraquiano, pode esperar é um tempo de mais terror, incertezas e imposições.
Bacharel em História pela Universidade Estadual de Londrina e Membro do Movimento Evangélico Progressista (MEP).
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