Autor: Jonathan Menezes
Quanto mais o tempo passa, menos nos damos conta da quantidade de sonhos, projetos, ideais, visões, pensamentos e oportunidades que deixamos para trás, como quem joga um sapato velho fora, quem sabe por puro medo de assumir riscos, responsabilidades, por medo de errar, de frustrar-se, de perder. Nem sempre adquirimos determinados hábitos por livre e consciente escolha, mas por receio de criar ou por mero comodismo: o hábito de reprimir tudo aquilo que pode gerar desconforto; o hábito da não reflexão, do não pensar ou medir conseqüências; o hábito de se conformar com o remediável diante da preguiça e a supressão da criatividade; o hábito de buscar a felicidade a qualquer preço, sem o custo do envolvimento, mas por puro individualismo.
Liberdade, nesse ínterim, deixou de ser vocação, processo, conquista, ousadia, utopia e inventividade, passando a se resumir à tirania dos desejos, narcisismo, curtição passageira, falta de compromisso, de engajamento, de ideais ou de santa inquietação com o hoje e com as vicissitudes do amanhã. A vida perde sua chama revolucionária quando deixamos de acreditar e lutar pela liberdade, uma liberdade que não tenha nada a ver com a mera satisfação imediatista de vontades, outrossim, com a esperança de ser livre na relação com outros seres livres ou em busca dessa liberdade. Ser livre é ser grato, é viver intensamente as possibilidades do presente, é arriscar ser diferente, é dar um salto além do lugar em que se está, é não ter receio de amar apenas por repúdio à dor e à decepção, é assumir-se como se é, aceitando todas as implicações da vida que se tem, bebendo de seu próprio cálice, compartilhando com o outro, tanto das benesses como das mazelas da existência. Ser livre é poder ter alegria sem a necessidade de abolir a tristeza, ter a beleza de um sorriso que se mistura com lágrimas e a beleza de uma vida que está sujeita, não somente, à claridade, como também à tempestade, não apenas à festa como ao pranto. Enfim, ser livre é conhecer a Verdade (Cristo) que liberta.
Com a liberdade corremos riscos o tempo todo, é inevitável. E por que não há lugar para a liberdade cristã, conforme o Evangelho, em nossos dias? Por uma série de motivos, e aqui enumero apenas dois. Primeiro, porque a liberdade cristã não interessa àqueles que almejam manter o controle e o domínio sobre coisas, situações e pessoas. Segundo, porque a liberdade cristã representa uma ameaça, tanto à opressão escravizante por parte dos poderosos, como para a omissão dos indiferentes e a alienação e o utilitarismo de nossa geração pragmática e hedonista.
Faça um comentário