Corinhos: uma questão teológica

Autor: Ashbell Simonotn Rédua
“Deus está morto”(1), esta é a frase pronunciada há muito tempo pelo filósofo Friedrich Nietzche no seu livro “Assim falou Zaratustra”. Uma das ironias desta declaração de Nietzsche está na negação de toda a transcedência de Deus.

“O Deus ‘lá de cima’, ‘lá para trás, e assim por diante está morto”(2).

J. J. Altizer, teólogo americano, desenvolve um argumento teológico dizendo que “somente os conceitos tradicionais do Transcendente estão mortos ou seja quando o Deus ‘lá de cima’ veio ‘cá para baixo’ na encarnação de Cristo, então Deus já não estava ‘lá em cima’. O Deus lá de cima realmente morreu”.(3)

Comumente na Teologia do povo, observamos a mesma expressão do conceito da “morte de Deus”. Deus veio lá de cima, esvaziou da sua glória (F1. 2:7), encarnando na forma decadente da humanidade na pessoa de Jesus Cristo. Os homens crucificaram a Jesus Cristo, e Deus foi embora ‘lá para cima ‘ deixando o homem a mercê de seu destino. Com a morte de Jesus Cristo na cruz do calvário, Deus morreu para a humanidade.

São fatos desta teologia, “o Cristo Redentor”, no Rio de Janeiro. Um Cristo inerte, distante, que não fala, não ouve. Também observamos este mesmo conceito filo-teológico na música “Jesus Cristo”, que diz: “Olho pro céu e vejo uma nuvem branca que vai passando, olho pra terra e vejo uma multidão que vai caminhando “.(4) Tudo isto, dando a entender que Cristo foi-se, e agora está sentado no seu grande trono branco, olhando os homens à caminhos sem rumo e sem direção.

Não é somente na teologia popular que observamos estes desvios teológicos, mas os próprios “crentes”, os “evangélicos”, têm absorvido esta teologia popular, e, na forma de poesia, versos e corinhos tem-na introduzido no seio da igreja Reformada. Uma grande parte dos corinhos cantado nas igrejas retratam a “Teologia do Deus morto”, ou a “Teologia do Deus distante”, que habita nas alturas, sem aperceber-se da grande heresia por eles cantado.

Éber Ferreira retrata esta questão intitulando os cânticos do “Deus distante”, de “Cânticos do andar de cima”(6). Ele diz: “Parece que a exortação paulina de Col. 3:1-2 tem sido entendida literalmente. Ou louvor a Deus foi redescoberto nesses novos cânticos como uma ênfase absolutamente correta. No entanto ele tem sido um louvor a-histórico e até anti-histórico. Quando Deus é louvado na Bíblia é sempre porque interveio e intervém na história humana, quer seja na experiência do povo de Israel, da igreja ou até mesmo na dos autores apocalipticos. Os cânticos de louvor que estamos apreciando colocam Deus longe do homem, nas nuvens, no trono do céu, sublinhando mais sua transcedência, o “Deus absconditus”, do que o Deus “imanente que se revelou salvador, que veio ao mundo dos homens, morreu e ressuscitou por eles. Os exemplos dados a seguir” são indicadores disto.

Jesus, te entronizamos
Declaramos que és rei
Tu estás no meio de nós.
Te exaltamos com louvores.
A ti fazemos um trono de louvores
Oh! vem Jesus e toma o teu lugar.

“Assentaste à direita
Tu estás assentado no trono
Sempre reinando, soberano.
Anjos cantando, homens louvando, Deus reunido
Com seu povo”. (5.1)

O trono, os anjos, os louvores, a coroa, elementos sempre presentes nessas letras são a exata dimensão do local onde as cenas se desenvolvem: O Céu. Por conseguinte temos canções que transportam os adoradores para o céu, para o andar de cima, e é evidente que os mesmos favorecerão o êxtase e o emocionalismo. Só que, na verdade, os louvores estão na terra e o seu cântico deveria privilegiar o Deus que age no cotidiano de cada um e de todos.

Temos que louvar a Deus “pelos seus poderosos feitos” (SI. 150:2). O louvor tem de ser relacionado á vida para fazer sentido, ou corre o risco de se tornar uma melodia alienante, certamente não será esse o cântico mais adequado dirigido ao Deus de Israel que com mão forte libertou seu povo do Egito”.(6)

Corinhos: uma questão teológica a ser analisada. Precisamos conhecer mais a teologia para que a hinologia esteja coerente com a doutrina bíblica.

Efésios 1:20-23, diz que foi Deus quem coroou a Jesus Cristo e é o próprio Deus que declara que Jesus é Rei e Senhor de “todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro

O homem não tem poder de entronizar e fazer trono para Jesus. Ele é soberano, e independente de nossa vontade, Ele faz tudo como lhe apraz.

1. Gundiy, Stanley -TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA 2a. edição, Ed. Mundo Cristão,1987, São Paulo, pp. 116. Artigo escrito por Harold B. Kuhn – A teologia secular.

2. GEISLER, Norrnam L.; Feinberg, Paul D. – INTRODUÇÃO A FILOSOFIA – uma perspectiva cristã, la. edição, Ed. Vida Nova, 1983, S.P., pp. 272.

3. Idem Geisler, op. cit, pp. 272.

4. “Jesus Cristo” – Música e letra de Roberto e Erasmo Carlos (disco) ODEON – São Paulo.

5. Lima, Éber Ferreíra Silveira – REFLEXÕES SOBRE A CORINHOLOGIA BRASILEIRA ATUAL – Boletim Teológico no. 05, de 14 de março/91, pp. 60-61;

5.1 – Cita o cântico “Alfa e Ômega”: Coniposição da Comunidade do Rio de Janeiro.

Canções do Espfrito Santo (disco), Petrópolis, Life, 1986.

5.2 – Cita o cântico “Trono e Louvor”: Letra e música de Dale Garret. Câncão do Espfrito Santo (disco). Petrópolís, Life, 1986;

5.3 – Cita o cântico “Coroado Senhor”: Composição da Comunidade da Argentina. Testemunhos de Louvor (disco). S.P. Comunidade da Graça, 1987.

6. Idem Ëber Ferreira, pp. cit, pp. 60-61

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