Autor: Jonathan Menezes
“Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal”. (João 17:15)
Como conciliar o evangelho com a cultura? É uma questão que tem sido feita há algum tempo, ao passo que tentativas de resposta também têm surgido, quem se lembra da série “Lausanne”, da Abu editora, sabe que ali houve reflexões, como a de John Stott, por exemplo, sobre essa relação entre evangelho e cultura. No entanto, tenho a impressão que discussões como esta, ainda hoje, estão, vias de regra, restritas ao seio de uma camada mais “intelectualizada” da igreja, que se encontra de um lado oposto e minoritário em relação a sua maioria, composta pelos “novos” fundamentalistas, de vertentes variadas (gestadas, em sua maioria, no fundamentalismo norte-americano) e que hoje oscilam desde evangelho da “prosperidade” e da “batalha espiritual”, até um evangelho legalista/ moralista, ascético e aprisionador.
Estes “evangelhos” estão à vista de todos, podem ser facilmente encontrados, para além dos templos espalhados por aí, nas livrarias evangélicas mais próximas de você, nos livros e cd’s best sellers, que prestam mais desserviço do que serviço à igreja, bem como nos programas evangélicos veiculados pela mídia em horário nobre. Sem dúvida, nós evangélicos poderíamos ser identificados, hoje, como uma “subcultura”, à medida que se tem adotado uma dupla postura que, por um lado, cria uma cultura própria, alienígena e com um verniz de “sacralizada”, e, por outro, demoniza e censura a “mundana” cultura brasileira.
Conheço algumas pessoas desse contexto que, antes de se converterem, eram hiper criativas, vivazes, inteligentes e ousadas em sua área de atuação específica, e, após a conversão, de uma ora para outra, tornaram-se pessoas, com perdão da expressão, “tapadas”, confinadas, em sua consciência e atuação, a uma visão de mundo aprisionadora e intolerante. Neste caso, cabe fazer a pergunta do começo: essas pessoas se converteram ou foram adestradas? É lógico que “conversão”, compreendida grosso modo como “aceitar Jesus”, pressupõe mudança de referencial, de valores e de prática. Contudo, não podemos confundir isso com “adestramento”, isto é, com um tipo de treinamento em que se cria no indivíduo um estereotipo comportamental fechado e “comum” a todos os “espécimes” iguais a ele, incutindo no mesmo a idéia de que tudo o que fazia antes, desde então não presta mais para nada.
O Rev. Caio Fábio disse, certa vez, que “as pessoas estão sendo ensinadas a não ter consciência própria”, acrescentando ainda que “a maior libertação que precisa haver hoje na igreja evangélica, é a libertação desse estado de cativeiro, no qual a consciência de cada um se colocou”. Deus não nos chamou à que percamos nossa criatividade, ousadia e habilidades (seria uma incoerência por ser, Ele mesmo, um Gênio Criativo), tão pouco à que abandonemos ou estigmatizemos de vez nossa cultura, sendo arrogantes e atalaias de um evangelho a ser guardado a sete chaves, como se este precisasse de alguma proteção especial.
Que relevância pode ter um evangelho “estranho” ao seu contexto, apresentado por crentes adestrados em sua maneira de ser e agir, sendo este um mundo em que as pessoas têm a tendência de rejeitar qualquer coisa que lhes pareça estranha? Sinceramente, nenhuma. Pregar o evangelho exige conhecimento e envolvimento com a cultura na qual se está inserido; não nos esqueçamos do princípio da encarnação de Cristo. É preciso, portanto, crer no poder do evangelho de Jesus e em sua capacidade de transpor barreiras culturais, de impactar até ao mais vil pecador, santificando o que é ruim, valorizando e melhorando o que já é bom em nossa culltura.
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