Autor: Samuel Davidson
A pergunta “quem vai pregar?” tem de ser considerada muitas vezes em cada igreja local e a maneira de chegar à resposta certa nem sempre é a mesma. Alguns pensam que esta pergunta somente pode ser respondida na hora da reunião quando o irmão escolhido pelo Espírito Santo se levanta para pregar. Outros pensam que a pergunta pode ser resolvida bem antes da reunião convidando um pregador de fora, ou fazendo uma escala entre os irmãos que pregam. Outros fazem o plano para a semana numa reunião dos irmãos que pregam, onde alguns destes aceitam a responsabilidade para pregar naquele período.
Romanos 10:15
Às vezes este assunto tem causado problemas porque alguns acham que somente uma maneira deve ser usada e julgam que as outras maneiras são carnais e contra a vontade de Deus. Vamos examinar as Escrituras sobre este assunto começando com exemplos no livro de Atos.
Atos 2: Lemos que no dia de pentecostes Pedro se levantou e pregou. Evidentemente os apóstolos não estavam esperando tão grande reunião de judeus para ouvir o Evangelho naquele dia e não houve planos feitos antes sobre quem deveria pregar. Não há dúvida que Pedro foi escolhido pelo Espírito Santo naquela hora, e nisto cumpriu a profecia do Senhor Jesus Cristo que ele receberia a “chave” para abrir a porta de salvação aos judeus e gentios (Mt 16:19).
* Atos 8: O Espírito Santo enviou Filipe a pregar ao eunuco no deserto e, quando encontraram, o eunuco convidou Filipe a explicar lsaías 53 para ele.
* Atos 10: Pedro foi enviado pelo Espírito Santo para pregar na casa do gentio Cornélio, mas ele não levantou-se esta vez sem o convite de Cornélio para pregar.
*
Atos 11: Os pioneiros, que saíram de Jerusalém por causa da perseguição pregaram o Evangelho em Antioquia no poder do Espírito Santo, sem qualquer convite, mas com grande resultado. Então a igreja em Jerusalém enviou Barnabé para examinar a situação em Antioquia e ajudar os novos convertidos. Barnabé sabia que aqueles irmãos precisavam de ensino sólido e ele mesmo convidou Saulo para ajudar neste serviço onde ficaram “por todo um ano” ensinando numerosa multidão. Não lemos de direção direitamente do Espírito Santo em Antioquia, mas não duvidamos que os meios usado ali foram guiados pelo Espírito Santo.
* Atos 13: Paulo atendeu o convite dos judeus incrédulos de pregar na sinagoga em Antioquia de Pisídia.
* Atos 16: Na prisão em Filipos o carcereiro pediu ajuda dos pregadores logo depois do terremoto.
* Atos 17: Em Atenas Paulo foi convidado pelos filósofos da cidade para explicar a sua “nova doutrina” e pregou o evangelho para eles.
Em todos estes casos podemos ver como o Espírito Santo guiou os servos de Deus, mas nem sempre usou a mesma maneira de escolher o pregador. Às vezes foi uma direção determinada pelo Espírito Santo, outras vezes veio um convite, ou de descrentes, ou de salvos. Mas, em cada caso o pregador foi enviado por Deus.
É notável que não temos muitos ensinos sobre este assunto nas cartas dos apóstolos, mas em I Cor 11 a 14, temos ensinos sobre a ordem do procedimento nas reuniões da igreja. Alguns acham que I Cor 14:26, onde mostra vários irmãos participando espontaneamente, nós dá o padrão para todas as reuniões da igreja hoje. Porém, para usar tudo que está mencionado em I Cor 14:26 na igreja hoje traria grande confusão, pois o tema deste capítulo é o controle dos dons temporários, e, especialmente, o dom de línguas (idiomas). Estas coisas tinham seu lugar no início, até que o Novo Testamento foi completo e não achamo-las nas cartas escritas mais tarde. Por isto precisamos de cuidado em usar este capítulo como o único padrão para a igreja hoje.
Os ensinos de I Cor 14, de forma clara, não foram dados para governar as pregações do evangelho, mas o contexto das reuniões do povo de Deus. Todos nós concordaríamos que, embora todos devemos chegar preparados, não devemos ter dirigente humano ou planos feitos para a Ceia do Senhor, onde a igreja dá adoração Àquele que deu tudo por nós. Contudo, pensar que se não precisamos de dirigente na Ceia, também não precisamos de qualquer plano para a pregação do evangelho, ou ministério da Palavra numa Conferência, ignora a diferença no caráter destas reuniões.
O fato que o Espírito Santo deve guiar todas as reuniões não quer dizer que todas elas têm de ser deixadas sem qualquer plano feito antes da reunião. O Espírito Santo não é limitado a guiar somente na hora de começar a reunião, mas pode guiar também nos planos feitos antes por homens espirituais que buscam a Sua direção.
Voltando para o versículo citado de Romanos 10, a condição exigida aqui por Deus é que os pregadores sejam “enviados”. Não é dado detalhes sobre a maneira que os pregadores chegam a compreender seu chamamento. Este chamamento tem dois aspectos que devemos considerar agora:
*A capacidade dada pelo Senhor, ou seja, o dom do pregador;
*A santidade de vida do pregador para ser usado neste trabalho pelo Senhor.
O Senhor ainda dá os dons de evangelista e mestre para a igreja (Ef 4:11), mas nem todos recebem estes dons e há muitos outros dons também. Todos devem testemunhar do evangelho e falar do Salvador quando há oportunidade, mas nem todos devem pregar publicamente. Aquele que tem o dom de evangelizar ou ensinar, logo será reconhecido pela igreja e haverá resultados positivos do seu ministério.
Os presbíteros da igreja local devem reconhecer os dons e tomar o cuidado de não permitir qualquer irmão pregar, desde que seja notório que ele não tem a capacidade para o serviço, mesmo que tenha vontade. No caso de novos convertidos, é claro que precisam de amadurecimento, encorajamento e treinamento. Muitos não revelam o seu dom na primeira tentativa. Estes devem receber experiência na igreja local antes de ser permitidos a visitar outras igrejas onde não são bem conhecidos, mas possivelmente serão convidados a pregar.
Não é somente o dom que envia o pregador, mas o trabalho de pregar e ensinar exige a santidade na vida pessoal dos pregadores. Assim, é necessário que a sua vida esteja de acordo com as qualificações dos “diáconos” em I Tm 3:8-13. É coisa séria pregar e ensinar a Palavra de Deus (Tg 3:1), e um homem pode ter o dom, mas ainda ser desqualificado pelo seu testemunho. Na igreja em Corinto não faltavam os dons, mas muitos eram repreensíveis perante o Senhor (I Co 1:7-8).
Infelizmente, nem sempre o pregador reconhece a sua condição para este serviço, e neste caso, precisa de ajuda de irmãos com mais discernimento. Alguns podem recusar pregar pensando que não estão em condições, quando de fato estão; e outros podem desejar pregar quando não devem. Irmãos que gostam de pregar domingo a noite, ou ensinar outros, mas muitas vezes falham em chegar às outras reuniões por causa dos seus interesses pessoais, mesmo se têm o dom, não têm a condição espiritual para este serviço porque não são exemplos e precisam aprender primeiro o que significa a comunhão da igreja local, com seus privilégios e suas responsabilidades (At 2:41-42).
Diante desta meditação, temos de reconhecer que Deus não nos deixou todos os detalhes sobre a ordem das reuniões do Seu povo. Onde Ele não falou, nós seríamos sábios em falar pouco, mas agir sempre com humildade e oração, na plena dependência da Sua direção. Se estamos errados, Ele vai mostrar o nosso erro pela Sua Palavra. Mesmo querendo fazer a vontade de Deus, em qualquer maneira que usamos, haverá as vezes manifestações da carne nas nossas reuniões.
Tal fato pode ser evidenciado através de um irmão extrovertido que se levanta quando não é a direção de Deus. Pode também ocorrer através do irmão introvertido que recusa levantar-se, embora dirigido pelo Espírito Santo. Não devemos ser como o cavalo, que corre sem esperar as ordens do dono, nem como a mula, que não quer obedecer as ordens do dono (Sl 32:9).
Pode a carne agir de uma maneira muito sutil quando pensamos que a maneira mais misteriosa é a maneira mais espiritual. Chega a existir uma formalidade carnal quando certos irmãos fazem sempre a sua parte, a mesma coisa, como por exemplo: “citar o primeiro hino ou agradecer o pão durante a Ceia, enquanto os outros esperam neste costume sem pensar se esta é a vontade de Deus em cada reunião.
Quando surgem diferenças de opinião entre irmãos e igrejas sobre este assunto, e outros deste tipo, devemos respeitar a opinião dos outros e deixar a diferença como “diferença”, e não julgá-la como “erro”. Alguém, talvez de mudança, querendo forçar sua opinião sincera sobre uma igreja que já funciona de outra maneira e tem sido abençoada do Senhor na sua sinceridade, trará mais dificuldades que ajuda. A coisa mais certa que esta pessoa poderia fazer, seria aceitar a maneira que está sendo usada, ou se a sua consciência não pode fazer isto, procurar congregar-se onde as reuniões são como ele acha mais certo.