Autor: Charles Haddon Spurgeon
Alguns pensam que, ao longo de sua vida, as lágrimas de Pedro começavam a brotar da fonte todas as vezes em que ele se recordava de ter negado o Senhor. Não é improvável que assim fosse, pois seu pecado foi muito grande e, posteriormente, a graça teve nele um efeito completo.
“E, caindo em si, desatou a chorar” (Mc 14:72)
Esta mesma experiência é comum a toda família redimida, de acordo com a intensidade com que o Espírito Santo remove o coração de pedra não regenerado. Nós, como Pedro, nos lembramos de nossa promessa presunçosa: “Senhor, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a morte” (Lc 22:33). Nós comemos nossas palavras com as ervas amargas do arrependimento. Quando pensamos naquilo que juramos que seríamos, e naquilo que temos sido, podemos chorar um rio inteiro de pesar.
Pedro pensava na sua negação do Senhor. O lugar onde o fez, o motivo tão pequeno que o levou a um pecado tão atroz, os juramentos e as blasfêmias com que procurou confirmar sua mentira, e a terrível dureza de coração que o levou a fazê-lo outra vez, e mais outra (Mc 14:71). Quando somos relembrados dos nossos pecados e de sua grande iniqüidade, podemos continuar teimosos e impassíveis? Não faremos de Boquim (Jz 2:1-5) a nossa casa e choraremos diante do Senhor pela segurança renovada de amor e perdão? Que jamais façamos vista grossa para o pecado, para que em breve não tenhamos a língua queimada nas chamas do inferno.
Pedro também pensava no olhar de amor de seu Mestre. A advertência do Senhor sobre o canto do galo (Lc 22:34) foi acompanhada de um olhar triste, piedoso e amoroso de repreensão. Durante toda a sua vida, esse olhar jamais deixou a mente de Pedro. Foi muito mais eficaz do que dez mil sermões sem o Espírito Santo teriam sido. O apóstolo arrependido estava certo ao chorar ao ser lembrado do pleno perdão do Salvador, que o restaurou ao seu antigo posto. Pensar que temos ofendido o bondoso e meigo Senhor é razão mais do que suficiente para chorarmos constantemente. Senhor, fere a rocha do nosso coração e faz as águas fluírem!
“Eu roguei por ti” (Lc 22:32)
Quão encorajador é o pensamento da intercessão sem cessar do Redentor por nós. Quando oramos, Ele implora por nós; e quando nós não estamos orando, Ele está advogando nossa causa, e por Suas súplicas, nos protegendo dos perigos invisíveis. Observai a palavra de conforto dirigida a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para cirandar com trigo; mas…” (31). Mas, o que? “Mas vá e ore por você mesmo”. Teria sido um bom conselho, mas não é assim que está escrito. Nem disse: “Mas eu te observarei vigilante, e assim você será preservado”. Essa seria uma grande benção. Não! Está escrito: “Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”. Pouco sabemos quanto somos devedores às orações de nosso Salvador.
Quando alcançarmos o topo das colinas do céu, e olharmos para trás, sobre todo o caminho através do qual o Senhor nosso Deus nos conduziu, como O louvaremos; quem diante do Eterno Trono, desfez as malícias que Satanás fazia sob a terra. Como O agradeceremos porque Ele nunca nos negou Sua paz, mas dia e noite apontou para as feridas sob Suas mãos, e carregou nossos nomes sob Seu peitoral! Mesmo antes que Satanás tenha começado a tentar, Jesus já o tem antecipado e formulado uma petição no céu. A misericórdia corre mais rápido que a malícia!
Note, Ele disse: “Satanás vos pediu” (31). Ele controla Satanás até mesmo em seu próprio desejo, e arruina-o no germinar. Ele não disse: “Mas eu desejaria orar por você”. Não! Mas “Eu roguei por ti! Eu já fiz isto; tenho entrado na corte e entregue uma alegação contrária mesmo antes da acusação ser feita”. Oh Jesus, que conforto é que Tu tens pleiteado nossa causa contra nossos inimigos invisíveis; frustado suas minas, desmascarado suas ciladas. Aqui está um assunto para alegria, gratidão, esperança e confiança.
Charles Haddon Spurgeon
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