Cadê os profetas?

Autor: Marcos Inhauser
Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros que mais se parecem a adivinhações e chutes prognósticos, nem aos que se sentem porta-vozes de Deus para manipular a vida de incautos, mas à dimensão vetero-testamentária, de pessoas vocacionadas por Deus para diagnosticar o presente, para denunciar os pecados individuais, fossem eles cometidos por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos púlpitos e animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai
, dos Isaías, Jeremias, Amós, Habacuques modernos.
Lembro-me de um renomado pastor guatemalteco, diretor de seminário e aclamado como teólogo, em uma reunião de seminários dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas, lhe perguntei como explicava o fato de ser (era isto 1990) o país mais violento politicamente da América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu que tropas do Exército se colocassem na torre da Igreja para vigiar e atirar nos manifestantes. E ele sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja e constatei isto.
Mais recentemente fui visitar minha filha na China e fomos três vezes à Igreja que é permitido aos estrangeiros freqüentar. Ela me explicava que há relativa liberdade, que podem cantar, orar, convidar outros estrangeiros, podem pregar aos nacionais em suas casas e aos empregados, mas que não podem falar de política, nem falar “mal do governo”. A função profética está castrada.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no sentido bíblico e não os encontro. Conheci o Federico Pagura, argentino, metodista, mistura de profeta e poeta. Conheci Dom Pedro Casaldáliga. Li sobre o Helder Câmara e o respeitei e o respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta denunciando escândalos, os desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário?
Que igreja é esta, a brasileira, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação à exaustão de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “pastores”, pela falta de ética generalizada em seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes mais gostam de holofotes, de palcos, multidões, loas, carrões, televisão, rádio que ter cara e coragem para denunciar os pecados nacionais? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías, Miquéias?
Esta é uma igreja manca, enferma. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que mais leva às cavernas que aos palcos. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que mensageiros.

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