Autor: Wanderley Pereira da Rosa
De tempos em tempos o meio evangélico é surpreendido por uma nova onda na qual boa parte dos irmãos e irmãs se lançam de cabeça.
Uma das novas manias (são tantas) são os livros de auto-ajuda para o público cristão. Basta entrar numa livraria e você poderá vislumbrar inúmeros títulos que abrangem as mais variadas áreas: namoro, casamento, sexualidade, traumas emocionais, etc.
Como Diretor de uma Faculdade de Teologia conheço bem a importância de termos livros sérios em nossa própria língua. Além de muita leitura da Bíblia, precisamos também aprender a valorizar a leitura de bons livros (qualquer bom livro, não apenas evangélico) como forma de abrirmos nossa mente, crescermos, irmos a outros lugares, conhecermos outras vidas, aprendermos com o exemplo alheio, criarmos senso crítico e resistência intelectual a ideologias que tentam nos engolir e por aí vai…..
Certamente, temos muita literatura boa à nossa disposição. Temos aqui que reconhecer o trabalho sério de várias Editoras Protestantes que se esforçam em colocar no mercado livros essenciais para nossa edificação e amadurecimento.
Por outro lado, é lamentável vermos o desperdício de dinheiro, tempo e energia com a impressão de tanta literatura ruim. E ela é ruim não apenas por não acrescentar nada a quem a lê mas, principalmente, por vender uma ilusão, por passar a sensação de ter contribuído com algo, na medida em que faz cócegas na alma, na medida que dá a impressão de ter servido como um “mapa do tesouro”. Livros do tipo “Dez passos para isto…” ou “Sete maneiras para aquilo…” (vindos especialmente da terra do Tio Sam) ao final, geram muita culpa e desordem emocional, pois, o leitor, em sua sinceridade, não achando o “tesouro” prometido, sente-se um fracassado e ainda mais desorientado e desanimado do que quando iniciou aquela leitura.
Fica uma pergunta simples no ar: Por quê ? Por quê apesar de tão ruim e tão falaciosa vende tanto ? Por quê o nosso povo, em sua maioria gente de bem e de boa fé, é tão facilmente levado por estas ondas ?
Ocorre-me duas possíveis respostas: inicialmente, porque é da nossa natureza buscarmos respostas fáceis para situações difíceis da vida. Nenhum de nós gosta de remédio amargo ou grave. O problema é que não adianta tentar curar câncer com aspirina. Para a cura do câncer, geralmente receita-se cirurgia, quimioterapia e radioterapia. É assim: doença séria exige uma intervenção igualmente profunda. Creio que muitos dos problemas de ordem emocional enfrentados por nossos irmãos podem ser superados com aconselhamento pastoral, oração e espera paciente em Deus. Mas, em muitos casos também, além destas coisas, podemos precisar recorrer a profissionais da área de saúde para superarmos nossas dificuldades. Aqui, livro de auto-ajuda cristão é aspirina para câncer…
Em segundo lugar, desconfio que este tipo de literatura dá tanto “ibope” pela falta de conteúdo no púlpito. Pastores, de modo geral, são pessoas que estudaram mais que a média. Muitos possuem curso superior de Teologia. Muitos possuem outros cursos superiores além de Teologia. O problema, não é que não tenham tido acesso a cultura (salvo vários casos), a questão é que aquelas outras “ondas” têm chegado com força descomunal e quem não “pega sua prancha” corre o risco de ficar de fora e não ver sua igreja crescendo tanto quanto a do colega que nela está “surfando” com extrema desenvoltura. Junto com estas ondas vêm a literatura de auto-ajuda para cristãos.
“Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são os princípios elementares da Palavra de Deus; assim vos tornas-te como necessitados de leite, e não de alimento sólido” (Hb 5:12). Boa palavra esta de Hebreus. Vale a pena ler o texto todo de 5:11 a 6:3.
Bem, como falei muito mal de um tipo de livro muito lido ultimamente, acho que seria bom encerrarmos dando uma dica daquilo que, ao meu ver, é uma boa leitura. Primeiro, um título religioso: “Atravessar Problemas e Encontrar a Deus” de Larry Crabb um dos livros que mais bem fez à minha alma nos últimos anos. E uma ótima obra secular é o “Carandiru” do Dr. Drauzio Varela, certamente, ainda que não religioso, vai te ajudar muito mais do que muito livro cristão, na medida em que ele nos humaniza diante de uma realidade tão crua descrita nele, realidade que eu tive o privilégio de presenciar quando trabalhei por um tempo na Capelania daquele presídio em São Paulo. Boa Leitura, e que ela te ajude de verdade…
Autor é formado em Teologia, Filosofia e Psicanálise e é diretor da Faculdade Teológica Unida.
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