Autor: Eduardo Rosa Pedreira
Na complexa “arquitetura” de edificar a igreja de Jesus, Paulo tinha uma preocupação essencial com o alicerce. O semear novas igrejas por todo o império era uma resposta imediata a urgência da missão.
Paulo constitui-se, sem dúvida, no maior paradigma de plantação de igrejas dentro do cristianismo. Dois aspectos, entre muitos, podem explicar esta singularidade do apóstolo. O primeiro relaciona-se com o fato dele conjugar em sua pessoa uma combinação rara de características que, a meu ver, não foi repetida em sua plenitude por nenhum outro personagem da história das missões cristãs: teólogo, missionário e pastor. Foi ao mesmo tempo um teólogo profundo cuja mente brilhante fora capaz de, sob o influxo do Espírito, de sistematizar as bases da teologia cristã, um missionário ardoroso cuja paixão evangelística o levou a ultrapassar enormes barreiras para compartilhar a boa nova do evangelho e ainda revelou-se um pastor extremamente cuidadoso com os seus muitos filhos espirituais. Um segundo aspecto relaciona-se com sua estratégia missionária. Paulo teve como ponto de partida e de chegada de suas atividades missionárias a plantação de novas igrejas. Focado nas cidades do seu tempo, revelando claramente uma ênfase urbana em sua maneira de fazer missões, plantou durante dez anos (de 47 a 57) igrejas na Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia, províncias que compunha uma das bases principais do império Romano.
O problema com paradigmas tão completos como Paulo é a tentação de vê-los como inalcançáveis e distantes da nossa realidade comum. Para evitar esta reação e não fazer de Paulo um padrão anacrônico, precisamos perceber quais são as pontes a nos ligar com a realidade dele e com clareza discernir o que é repetível em nosso contexto e aquilo que é próprio, único e irrepitível na pessoa e ministério do apóstolo dos gentios. Esta é uma tarefa bem maior do que o espaço deste pequeno artigo, por isso mesmo, proponho que nos centralizemos em um ponto de ligação entre Paulo como plantador de igrejas e cada um de nós hoje envolvidos no processo de plantar uma nova igreja. As convicções que levaram o apostolo a plantar novas igrejas devem ser as mesmas a inspirar, orientar e julgar as nossas!
Paulo se moveu basicamente ancoradas em quatro convicções que se tornaram em si mesmas suas mais profundas motivações para plantar novas igrejas:
A Convicção Ministerial: A Edificação da Igreja de Cristo
Paulo percebeu a essência do seu chamado ministerial como sendo para edificar a igreja de Jesus Cristo. Entendeu que as promessas dadas por Deus ao longo da história, como a restauração de Israel, a criação de um povo santo vivendo dentro de um novo paradigma de relações comunitárias nas quais as barreiras entre judeus e gentios seriam superadas, se concretizariam todas na igreja de Jesus (Ef 2). A igreja plenificaria as promessas, mas também esta mesma Igreja, na visão Paulina, era a plenitude histórica de Cristo, ou por palavras mais teológicas, é na eclesiologia que a cristologia se plenifica historicamente (Ef 1.23, Ef 2.15; 4.24; Cl 3.10). Ao plantar uma nova igreja, Paulo entendia estar dando concretude histórica a presença de Cristo neste mundo. Por isso ele via seu ministério como sendo o de edificar, construir, plantar, regar, fazer crescer a igreja de Jesus.
A Convicção Missionária: As Boas Novas como instrumento mais essencial da edificação da igreja
Na complexa “arquitetura” de edificar a igreja de Jesus, Paulo tinha uma preocupação essencial com o alicerce. O fundamento desta igreja era o evangelho, o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (I Cor 3:10-12; Ef 2:20). Sua incrível criatividade metodológica de se fazer “tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns”( I Cor 9:20-23) não implicava em negociar o conteúdo básico ou a raiz mais profunda sobre a qual a igreja ia crescendo: a pregação da boa nova do evangelho. Nenhum método substituía este elemento central que na visão do apostolo era sem dúvida o mais e o único eficaz parar plantar, regar e fazer crescer a igreja de Cristo. Não era difícil então supor que a realização do apóstolo não se dava por conta de qualquer resultado, mas sim quando via as igrejas plantadas por ele fundamentadas no evangelho!
A Motivação Escatológica: O fim já começou!
Qualquer leitura, mesmo a mais desatenta das cartas paulinas, vai nos dar conta da curta perspectiva escatológica do apóstolo. Para ele o final dos tempos começou quando o tempo chegou a sua maturidade, alcançou a plenitude na pessoa de Jesus. Todas as coisas, as celestiais e terrenas, que convergiriam em Cristo, começaram no seu tempo (1 Cor 10:11; Gl 4:4, Ef 1:10). Tal perspectiva injetava em suas veias missionárias um senso de urgência tão profundo que o levava a não ter dúvida de que "eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2 Co 6.2b). O semear novas igrejas por todo o império era uma resposta imediata a urgência da missão. Não havia tempo a perder. Jesus batia a porta da história e convinha até sua chegada definitiva estabelecer sua igreja!
A Convicção Metodológica: A plantação de Igrejas Locais
Todas estas motivações geradoras da atividade missionária paulina encontrava na organização de igrejas locais sua face concreta e histórica. Os convertidos ao evangelho pregado se reuniam em comunidades locais dentro das quais cresciam na fé e no conhecimento! Estas comunidades não viviam somente do carisma, ou da dimensão espiritual e romântica da fé, organizavam-se institucionalmente, como por exemplo, o estabelecimento de uma “hierarquia” mínima e de processos de eleição das suas lideranças (At 14.21-23). Era dentro do contexto da igreja local que Paulo discipulava os novos, identificava liderança e os levava a assumirem o cuidado das igrejas, embora o apóstolo nunca deixou de voltar e supervisioná-las (At 15.36; 16.4-5; 18.23).
Está posto então que na ponta última da cadeia de convicções de Paulo estava a plantação de uma igreja local. Não fosse esta convicção metodológica de plantar igrejas locais, a atividade missionária de Paulo tenderia a se pulverizar e mesmo não ter qualquer relevância e permanência na história, visto que foi pelas igrejas que plantou que o evangelho foi sendo disseminado de geração em geração.
O contato com estas convicções de Paulo deve inspirar a todos nós envolvidos hoje com o processo de plantação de novas igrejas a uma tarefa mínima e essencial: checar diante de Deus a saúde, a pureza e firmeza das nossas!. Isto porque, como sabemos todos, com muita rapidez podemos estar construindo impérios pessoais e dando a eles o nome de Reino de Deus. Este texto quer nos ensinar que o processo de plantação de uma nova igreja começa nas convicções. Elas habitam a dimensão subjetiva do nosso ser e a parte invisível do nosso olhar, por isso mesmo, estão na ordem do essencial! São elas e somente elas que nos farão lutar o bom combate, por elas vale a pena lutar todas as lutas e enfrentar todas as barreiras para plantar uma nova igreja. Nunca é tarde para lembrar e nem é muito repetir: diante de Deus são as nossas motivações que qualificam as nossas ações. A pergunta que não pode calar nunca no processo de plantação de uma nova igreja é, quais são as convicções básicas que me levam a plantar uma nova igreja? Sem dúvida que a fantástica experiência de Paulo como plantador de igrejas é um referencial indispensável para respondermos para o nosso coração diante do olhar daquele que tudo sonda, a esta pergunta!
Eduardo Rosa Pedreira – é um dos diretores do Centro de Treinamento para Plantadores de Igreja, plantou a Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro onde exerce o seu pastorado.
Fale com o autor deste artigo: edubadu@ctpi.org.br
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